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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

As eleições como uma alavanca

Devemos aprender com o 1936 francês

Lula agita as massas. Elas querem um governo dos trabalhadores. Se o elegerem, vão exigir que sua reivindicação seja atendida, podendo se colocar em um movimento revolucionário

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Lula, como sempre, tenta articular um apoio da direita para sua candidatura em 2022. Tenta ser conciliador e mesmo o candidato dos banqueiros, contra Bolsonaro.

Diante disso, alguns setores ─ esses sim minoritários! ─ da esquerda vêm acusando o líder petista por ser, supostamente, um traidor dos trabalhadores por conta dessa política.

Ao mesmo tempo, acusam o PCO, por seu apoio incondicional a Lula, ser um apologista da conciliação de classes. Mas o apoio do PCO a Lula não significa o apoio ao programa político de Lula. O PCO apoia o ex-metalúrgico com seu próprio programa político, revolucionário e comunista.

O PCO apoia Lula para que este adote não um programa conciliador, mas sim um programa de rompimento com a burguesia. Mas como isso seria possível, se Lula é conciliador e quer um governo com a burguesia?

Temos na França de 1936 um exemplo. Aliás, a situação no país europeu era muito semelhante, em vários aspectos, com o Brasil de hoje: a crise econômica era asfixiante e os fascistas estavam assanhados, ao mesmo tempo em que os trabalhadores também se radicalizavam.

Naquele então, para as eleições de 1936, a esquerda se unificou entre ela e uniu-se também a um setor da burguesia (o Partido Radical). Era a Frente Popular. Guardava uma diferença fundamental para a atual frente ampla que a esquerda pequeno-burguesa quer impor: o Partido Radical era coadjuvante na aliança, encabeçada pelos socialistas e com o Partido Comunista como o fiel da balança; enquanto que a frente ampla é completamente hegemonizada pelos partidos da direita tradicional, ficando a esquerda com as migalhas.

O que Lula quer é algo muito mais parecido com a Frente Popular francesa do que com a frente ampla verde e amarela do PSOL e do PCdoB. E é realmente possível que seja assim, pois Lula dificilmente abandonaria a cabeça de uma chapa tendo, sozinho, 40% do eleitorado.

Em 3 de maio de 1936, a Frente Popular vence as eleições. A polarização é tão grande que os socialistas e os comunistas arrebatam a maioria das cadeiras no Parlamento enquanto que os radicais perdem assentos.

Uma vitória eleitoral avassaladora. Até aí, tudo bem. Mas o que, nem a burguesia, nem a social-democracia, nem o stalinismo esperavam, seria a agitação da classe operária com essa vitória.

Os trabalhadores franceses, que votaram na Frente Popular acreditando que estavam votando na implantação de um governo próprio, operário, sem patrões, sequer esperaram o novo governo, comandado pelo socialista Leon Blum, tomar posse para tomar o poder.

No final de maio, iniciam uma greve geral seguida de ocupações de fábricas por todo o país. Surpreendem a todos com sua fúria espontânea, saída sabe-se lá de onde. Foi um movimento iniciado integralmente pelas bases operárias, passando por cima das direções sindicais burocráticas e dos partidos políticos da esquerda.

“A classe operária aproveitou a vitória eleitoral da Frente Popular compreendendo-a perfeitamente como obra sua, expressão da sua nova força; mas, ao mesmo tempo, demonstra que tem poucas ilusões no cumprimento das promessas eleitorais. O que ‘explode’ não é apenas o descontentamento econômico, mas a desconfiança acumulada durante anos e anos, através de eleições e eleições, nas soluções parlamentares”, escreveu Fernando Claudín. “Os trabalhadores não se iludem sobre a coesão e a decisão reformadora da coalizão eleitoral e parlamentar que eles mesmos levaram ao poder ─ compreendem onde está a base de sua força e ocupam as fábricas.”

O governo da Frente Popular, de cabelos em pé, junto com a burguesia, faz de tudo para acabar com a greve revolucionária. Os trabalhadores não cedem e rejeitam a proposta do governo. Os metalúrgicos, vanguarda do movimento, ameaçam nacionalizar as fábricas e colocá-las sob o controle dos próprios operários. Na primeira quinzena de junho, somam-se dois milhões de grevistas.

Marceau Pivert, líder da esquerda da Seção Francesa da Internacional Operária (SFIO), escreve: “Agora tudo é possível para os audazes.” Ao mesmo tempo, era possível ver a posição da Frente Popular. “Se é importante conduzir bem um movimento reivindicativo, também há que saber terminar com ele. A questão atual não é a tomada do poder. Todo mundo sabe que o nosso objetivo continua sendo, invariavelmente, a instauração da república francesa dos conselhos de operários, camponeses e soldados. Mas não será nesta noite, nem amanhã de manhã”, diz aos comunistas de Paris o stalinista Maurice Thorez, líder do Partido Comunista. “Não, nem tudo é possível agora”, responde, no mesmo discurso, a Pivert.

Os stalinistas e os social-democratas exerceram toda a sua influência na CGT para acabar com a greve geral. A URSS, que controlava o PC francês, não queria uma França desestabilizada ─ segundo Stálin, isso facilitaria uma invasão por parte da Alemanha nazista. Já os social-democratas, contentavam-se com as reformas superficiais ─ a burguesia poderia até perder alguns anéis, mas os dedos deveriam permanecer intocáveis.

Finalmente, os bravos trabalhadores conseguiram arrancar todos os anéis da burguesia francesa na maior mobilização grevista que já ocorreu no país, garantindo direitos que duram até hoje como as férias pagas, jornada de 40 horas semanais, convenção coletiva etc. No entanto, graças à traição da Frente Popular, que ficou a reboque da burguesia ─ pressionando para encerrar a greve ─, a possível revolução francesa foi abortada e derrotada.

Assim como os trabalhadores garantiram a vitória da Frente Popular mas não se contentaram a ficar no meio do caminho, a derrota de sua mobilização revolucionária pela traição da Frente Popular levou, dois anos depois, à derrocada da mesma Frente Popular. A aliança com a burguesia era uma ilusão: os capitalistas estavam todos os com fascismo. O Partido Radical não passava ─ como disse Trótski ─ de um “fantasma da burguesia”. Em 1940, a burguesia francesa abriu as portas do país para os nazistas instaurarem o fascismo na França.

Por isso a frente popular de Lula é inviável. Sua aliança será com o fantasma da burguesia, que atuará em todos os momentos para boicotar sua candidatura e seu possível governo. 

Os trabalhadores, por sua vez, veem Lula como seu representante e um governo seu como um governo deles próprios. Tal como a francesa, quem garante que a classe operária brasileira não se radicalizará, animada com um governo próprio (em sua visão), e buscará concretizar essa tomada de poder?

A classe trabalhadora quer votar em Lula para que ele aumente o salário mínimo, gere emprego, reverta as privatizações, dê saúde e educação gratuitas, reduza o preço dos alimentos e das tarifas, acabe com o monopólio dos meios de comunicação etc. Os camponeses também querem a reforma agrária. As mulheres querem ter assegurado o direito ao aborto.

Lula, por sua vez, é muito vacilante em aplicar todas essas reformas. E se ele não fizer isso que a população quer que ele faça? Bom, os trabalhadores devem exigir que ele faça, afinal eles o elegeram para isso. E é dever dos revolucionários pressionar por essas reivindicações, que serão muito mais fortes e radicais com a eleição de Lula do que com a eleição de qualquer outro personagem. Lula é o único que os trabalhadores acreditam que pode fazer isso.

O PCO apoia Lula incondicionalmente. Mas o apoia com seu próprio programa político. Não irá fazer nenhuma coligação eleitoral, não quer ministérios nem “boquinhas”. Quer apenas que as reivindicações do povo sejam atendidas. E fará de tudo para pressionar o governo a fim de que sejam atendidas. Se a burguesia impor a Lula ministros da direita, vamos exigir a expulsão desses ministros do governo: os trabalhadores não os elegeram, elegeram um governo da classe operária! Exigiremos que sejam substituídos por trabalhadores, ativistas populares, membros da CUT, do MST, do PT. Se vacilar na aplicação dessas reformas, o PCO, assim como certamente a base do PT, da CUT e dos sindicatos, irá realizar uma ampla campanha pelo atendimento imediato dessas reivindicações.

E, se a situação estiver radicalizada como a da França de 1936 (há muitos indícios de que já nas eleições a polarização esteja enormemente intensa), poderá existir a possibilidade de uma greve geral de características revolucionárias, a ocupação das fábricas que deveriam ser estatizadas, das refinarias, dos latifúndios.

Aprendemos com a traição do stalinismo e da social-democracia, a reboque da burguesia, na França de 1936. Felizmente, o stalinismo já não existe mais e hoje no Brasil a vanguarda operária e revolucionária está muito mais organizada ─ e em um partido próprio! ─ do que na França. Não deixaremos a oportunidade escapar. Ao contrário da esquerda pequeno-burguesa pseudorrevolucionária, nós confiamos no potencial da classe operária e, no final das contas, será ela, organizada e radicalizada, quem decidirá o próprio destino.

Por isso o PCO não tem como palavra de ordem apenas “Lula presidente”, mas também “por um governo dos trabalhadores”.

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