Na quinta-feira, 26 de agosto, o governador fascista de São Paulo, João Doria (PSDB), criou a Delegacia da Diversidade Online. O anúncio foi feito em cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, com a participação do presidente nacional da Diversidade Tucana, Edgar de Souza, que fez referência ao atual governador como “presidente”.
A finalidade da Delegacia da Diversidade Online, conforme destacou o tucano, é investigar e combater delitos relacionados à discriminação e intolerância por motivações ideológicas, religiosas, étnico-raciais, culturais, de orientação sexual e diversidade de gênero.
O decreto de João Doria amplia as atribuições do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e das Delegacias Especiais de Investigações Criminais (DEICs), ambos ligados à Polícia Civil de São Paulo. Os cidadãos que alegarem serem vítimas de discriminação encontrarão um ícone da Delegacia da Diversidade Online para preencher um formulário e registrar Boletim de Ocorrência.
O Delegado-Geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz, apontou que 26 policiais civis serão destacados para se dedicarem integralmente ao esclarecimento destes delitos. A medida determina que os policiais civis do estado terão de fazer um curso de 8 horas para atender às vítimas de homofobia, intolerância religiosa e preconceito racial.
João Doria procura se apoiar na ideologia burguesa e pró-imperialista do identitarismo para impulsionar sua candidatura como “a terceira via” contra as candidaturas de Lula (PT) e Bolsonaro (ex-PSL, sem partido) para as eleições presidenciais de 2022. Este é o sentido da abertura da Delegacia da Diversidade Online.
Não se trata, sob nenhum aspecto, de criar qualquer mecanismo institucional para enfrentar a homofobia e proteger a população LGBT. Longe disso, o que está em jogo é a montagem da campanha eleitoral do governador tucano. Doria jamais se preocupou com qualquer tipo de direito democrático do povo, mas precisa fazer propaganda de si mesmo como um defensor dos direitos das mulheres, negros e LGBTs.
A homofobia deve ser enfrentada com a organização da população LGBT, formação de comitês de autodefesa e a mobilização nas ruas contra a direita conservadora e a extrema direita fascista. As duas alas do bloco direitista são faces da mesma moeda e não estão preocupadas com a situação de opressão à população LGBT no Brasil. Pelo contrário, ambas são historicamente inimigas das reivindicações LGBTs, em especial da discussão sobre orientação sexual nas escolas, taxada de “ideologia de gênero”.
O aumento da repressão policial, que se materializa na criação de mais órgãos repressivos na sanguinária Polícia Civil de São Paulo, não contribui em nada para avançar os direitos da população LGBT. Seria muita ingenuidade crer que um órgão repressivo estreitamente ligado à burguesia e dominado pela extrema direita, responsável por prender massivamente os pobres nas masmorras do sistema penitenciário, poderia contribuir com o avanço de qualquer tipo de direito democrático.
O identitarismo é um recurso da burguesia e seus políticos e partidos para tentarem aparecer como “democráticos” e protetores dos direitos das minorias. O PSDB foi um dos principais organizadores do golpe de Estado de 2016 e da fraude eleitoral de 2018, que puseram Jair Bolsonaro na presidência da República. A política neoliberal – cujos principais pontos são as “reformas” trabalhista, previdenciária e do ensino médio, a lei das terceirizações, o congelamento dos investimentos públicos por 20 anos, as privatizações e a entrega das riquezas nacionais – foi implementada pelo governo golpista de Michel Temer (MDB) e continuada por Bolsonaro tem as digitais do PSDB.
Na campanha eleitoral de 2018, João Doria se apresentava como “BolsoDoria 17/45” e assumia uma face abertamente de extrema direita, com ataques violentos contra a esquerda, o Partido dos Trabalhadores (PT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e os sindicatos (CUT). Declarava que Lula era bandido e apoiava todas as medidas persecutórias da Lava Jato contra a esquerda e a economia nacional.
Doria procurou descolar sua imagem da de Bolsonaro, por conveniência política, à medida que o presidente ilegítimo perdia popularidade. Contudo, sua política fascista, repressiva e privatizante é a mesma ou até mesmo pior. O que está em jogo com a abertura das Delegacias da Diversidade Online é uma tentativa de tipo identitária para Doria mudar sua aparência, se desvincular de seu apoio a Jair Bolsonaro e assim se postular como opositor.
Os políticos da burguesia precisam mudar sua pele de cobra para preservar o mesmo conteúdo de classe. É uma metamorfose de fachada. O PSDB é um dos principais sustentáculos do imperialismo no Brasil e é venenoso pela propaganda sistemática que faz em torno da democracia. É o imperialismo “democrático”, identitário e defensor da população LGBT, tão ou mais perigoso do que o imperialismo fascista.
A operação é reciclar politicamente os principais carrascos do povo, que lançaram milhões de trabalhadores – inclusive LGBTs – na miséria, no desemprego, nas prisões e nos cemitérios pelas balas da Polícia Militar e da Polícia Civil.
