O Coronel Ciro Ferreira Gomes, nascido da mistura entre a UDN, ARENA e PDS , confirma a existência do fenômeno apresentado por F. Scott Fitzgerald, no conto The Curious Case of Benjamin Button, de 1921, onde o homônimo protagonista inicia sua vida aos 80 anos de idade, e vai regredindo sua faixa etária, até tornar-se um jovem. Porém, a comparação aqui é a adaptação política para Ciro encontrar seu eleitorado,.
No conto de Fitzgerald, Button conhece Daisy, por quem se apaixona. A trama se desenrola em torno da espera de Button por Daisy até ela tornar-se mulher, ao mesmo tempo que ele rejuvenesça, a fim de manterem envolvimento afetivo. Esse drama tornou-se um premiado filme em que podemos fazer uma série de metáforas com a vida de nosso personagem de Sobral, Ciro Gomes.
Ciro inicia sua política em uma legenda criada com a abertura política idealizada por Gen. Enersto Geisel e Gen. Golbery do Couto e Silva, com a doutrina da “abertura lenta, gradual e segura”, e implementada por Gen. João Figueiredo em 1979, após 14 anos de bipartidarismo estabelecida pelo AI-2, de 25 de outubro de 1965, pelo Gen. Castello Branco. O fim do bipartidarismo se deu pela famosa “Lei da Anistia”, em 5 de agosto de 1979.
Como já demonstramos na coluna anterior, Ciro Gomes, além de Coronel, é egresso da ARENA, partido estabelecido com o AI-2 formado da costela de dois partidos, a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD). O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) foi o partido que serviria para abrigar a “oposição” branda, sendo composta por membros muitas vezes figurativos no Congresso, em sua maioria, advindos do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) entre outros.
Apesar de oposição branda, o MDB congregava o que havia de supostamente “progressista” e atuava para o “pouso suave” e “seguro” da década de 1980. Mesmo assim, como bom Coronel, Ciro tornou-se Deputado Estadual pelo Ceará em 1982, a mando de Euclides Ferreira Gomes, do PDS, egresso da UDN, o então Prefeito de Sobral. Portanto, Ciro Gomes, aos 25 anos de idade, entrava para a carreira política bastante jovem, mas em um partido dos “velhos abutres” e oligarcas. Deste modo, politicamente Ciro Gomes “começava velho”, mas que ao longo da carreira camaleônica, vai procurando inovar sua forma, sem perder o conteúdo. Esse é o caso de Benjamin Button.
A “Lei da Anistia”, de 1979, permitiu a criação de partidos de esquerda como o PT, que era o partido que congregava uma confederação de organizações, desde revolucionários, passando por operários, intelectuais e católicos progressistas, além do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Mas, o “jovem” Ciro, escolheu uma legenda defensora do “velho” regime político dos coronéis e das oligarquias, o PDS, de figuras como Paulo Maluf entre outros.
O Benjamin Button da política vai procurando se adaptar, saltando de cena em cena, sempre com um verniz “progressista”, dentro do regime político dominante, até praticamente ter ocupado o atual PDT, hoje praticamente uma legenda de aluguel, para tentar preencher o vácuo do antigo trabalhismo, algo que vai ao encontro de uma juventude desesperançada, que acredita no legado do “radical” Brizola, do “progressista” Jango e do “burguês nacionalista” Getúlio Vargas.
Portanto, Ciro Gomes, sempre buscou fazer política, praticando mutações, sempre em nome do combate às esquerdas ou aos verdadeiros nacionalistas, mas que criou uma mentira de “ser homem da esquerda e do nacional desenvolvimentismo”, tentando se sustentar através do velho chamamento às classes médias. Para Ciro Gomes manter a coerência própria discursiva, não ataca “comunistas” ou “o mar de lamas de Getúlio”, como fazia Carlos Lacerda da UDN (de onde pai de Ciro é egresso), mas, ataca o PT, que é o que temos de mais “à esquerda” entre os partidos parlamentares.
Essa fórmula culmina com a convocação dos descontentes com Bolsonaro, e aglutina personagens da extrema-direita da mídia, como o canal Jovem Pan, Vera Magalhães e até Felipe Moura Brasil, que organizou o livro “O mínimo para você saber para não ser um idiota”, com textos de Olavo de Carvalho. Ao descrever o livro, Reinaldo Azevedo, conclui que ninguém como Olavo “escreve com a sua força e a sua clareza”. Para Azevedo, Olavo “Consegue, como nenhum outro autor no Brasil — goste-se ou não dele —, emprestar dignidade filosófica à vida cotidiana, sem jamais baratear o pensamento. Isso não quer dizer que não transite — e as falanges não o fustigam menos por isto; ao contrário — com maestria no terreno da teoria e da história”.
Moura Brasil escreveu recentemente no UOL dando um empurrãozinho para um político que outrora criticava quando queria Bolsonaro Presidente.
De acordo com o “ex-bolsonarista”
Lula já encontrou em Ciro Gomes, sob a direção do ex-marqueteiro petista João Santana, um obstáculo a ser superado em seu caminho rumo ao centro, a partir de sua base fiel à esquerda; Bolsonaro terá obstáculo análogo no caminho inverso, a partir de sua base fiel à direita, caso Sergio Moro assuma a candidatura presidencial pelo Podemos, ainda disposto a formar chapa única – encabeçada por quem estiver melhor nas pesquisas até o primeiro trimestre do ano eleitoral – com Luiz Henrique Mandetta e Eduardo Leite, adversário de João Doria nas prévias do PSDB em 21 de novembro. (MOURA BRASIL, 17 de outubro de 2021)
Além de notória guinada à extrema-direita, motorizada por diversos personagens e apoiadores nas redes sociais, recentemente Lula e o PT vem recebendo ataques diários de Gustavo Castañon , um dos maiores apoiadores do Coronel, e uma espécie de “intelectual” do Ciro. São incontáveis os ataques diários desse delinquente intelectual ao PT. (Para quem está sob bloqueio do Jones Manoel do PDT, acesse via DuckGoGo, navegador apropriado para quem queira conferir a indigência analítica do Professor de Filosofia e Psicologia na Universidade Federal de Juiz de Fora). Apesar de professor de ensino superior, dedica muitas horas de seu dia ao Twitter e escrever pérolas ao Portal Disparada, que por sinal, é ocupado todos os dias pelo próprio “educador popular” do PCB. Destacarei um ataque ao modo da extrema-direita, ao modo conspiracionista,. No “fio do tuíte”, Castañon confunde o PSOE com o Podemos.
Mas, vamos comentar o último artigo de Castañon (se é que é possível, mas a título de exemplo) o Portal Disparada, aparentemente um consórcio de filiados e simpatizantes do PSB, PDT, PCB e PCdoB.
De acordo com o professor
Assim como é legítimo que nós não queiramos mais. Eu, estou pouco me lixando para o PT. O PT é uma organização neoliberal na economia com a única diferença de ter que disfarçar suas privatizações, sob o nome de ‘concessões’ ou ‘abertura de capital’, como fizeram com as estradas e com a Petrobrás, porque ainda tem base em corporações do serviço público. De uma matiz classista transitou desde o fim do governo Lula para o mais nefasto e fragmentador identitarismo. Agora relativista e pós-moderno até os ossos, ainda continua o mesmo partido internacionalista de sua fundação, sendo, culturalmente, nada mais que uma seção brasileira do Partido Democrata dos EUA. Por fim, virou uma máquina fisiológica de pessoas que só sabem viver do governo.
O que restou do PT que mereça nossa consideração como sendo do mesmo campo? Na minha opinião, nada. Por isso meu conselho a vocês é: Libertem-se. O PT não é de nosso campo. Somos desenvolvimentistas, trabalhistas, nacionalistas, universalistas e acreditamos na verdade.
Castanõn, ao comentar que o PT é neoliberal, esqueceu que o Congresso continuou com maioria de direita, inclusive com grande presença do PDT, que muitas vezes auxiliou os partidos conservadores, dificultando a aprovação de reformas populares. Também esqueceu que Ciro Ferreira Gomes, por Medida Provisória, abriu o mercado nacional, quebrando centenas de milhares de indústrias para implantar o choque do Plano Real, que “manteve” inflação controlada, mas desnacionalizou a economia com privatizações e ameaças às leis trabalhistas, com aprofundamento de terceirizações e outros pacotes.
Depois vem a versão de um Lula “pós-moderno” e “identitário”. Lula veio do movimento operário e sequer faz qualquer apologia do identitarismo acima de sua principal política: “O combate à fome” e inclusão do “pobre no orçamento”, que de fato não é política revolucionária, mas não é mais neoliberal que Ciro e muito menos “identitária” que o Coronel, que ataca de Button com o “Cirogames”, onde o pedetista comparece em lives jogando videogame com roupa de menino de condomínio fechado, mas “descolado”, muito parecido com outro grande defensor, o Tico Santa Cruz, que aparenta síndrome de Peter Pan.

Por fim, Castañon utiliza uma linguagem que mistura anarcocapitalismo e teologia da prosperidade: “Libertem-se. O PT não é de nosso campo. Somos desenvolvimentistas, trabalhistas, nacionalistas, universalistas e acreditamos na verdade.” O que seria a palavra “universalistas”?
Os seguidores do Portal Disparada e do Castañon parece uma seita, um fetichismo. No mundo do Portal Disparada não existe população, não existe território e não parte da realidade concreta. Por fim, além desses arroubos moralistas, vindas de pessoas desesperadas com a possibilidade concreta de se derrubar Bolsonaro eleitoralmente, Castañon soma-se aos arrependidos do bolsonarismo como Felipe Moura Brasil e, aparentemente, até o próprio Olavo de Carvalho, que já destilou elogios ao Ciro Gomes em outros tempos, além de figuras típicas da direita tradicional brasileira como o ideólogo agrônomo Xico Graziano além de influenciadores digitais que apoiaram Bolsonaro, que antes apoiaram Aécio Neves…
É preciso denunciar todos os golpistas que rechaçam a possibilidade do retorno do Governo Lula, que, embora de conciliação, tenha sido um governo superior ao governo implantando nos anos 1990, que teve como ponta de lança, o Coronel Ciro Gomes. Por conta da capacidade permanente de mutação, apresentando-se como jovem, como novo e como falso nacionalista, em busca incessante de sua Daysi, é que o errante Ferreira Gomes, assim como o perfil narcisista e fora de tempo, que o Coronel de Sobral é o Benjamin Button da política nacional.
A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste diário.