A fórmula do fracasso

Capitulação do Podemos abre o caminho para o fascismo

As mesmas táticas, o mesmo resultado. Quando se trata de adaptação ao regime burguês, todos os caminhos levam à derrota

A esquerda espanhola encontra-se desolada. Após a vitória de Isabel Díaz Ayuso, presidenta do Governo da Comunidade de Madri e candidata do direitista Partido Popular (PP), o Podemos, partido novo da esquerda reformista espanhola simplesmente sucumbiu. O PP, por sua vez, conquistou mais cadeiras que a soma dos três partidos de esquerda. Com 77 cadeiras (64 do PP e 13 do Vox, partido de extrema-direita), a direita reagrupou os setores mais reacionários para dar sequência à política imperialista contra os trabalhadores espanhóis. Aludido como uma nova esquerda, radical e antissistema, o Podemos expressa a limitação da política pequeno-burguesa diante do acirramento da luta de classes.

Do outro lado do prélio institucional, a esquerda soma 59 cadeiras (25 do PSOE, 24 do Mais Madri e 10 do Podemos), ampliando a diferença entre o bloco de esquerda e o de direita. Diferente do resultado obtido há dois anos, quando apenas quatro cadeiras alterava a correlação de forças institucionais, hoje a direita assume a dianteira do regime com uma diferença de 18 assentos no parlamento madrilenho, consolidando a vitória da política pró-imperialista contra o bloco de esquerda.

A decomposição da esquerda institucional é o resultado da sua própria adaptação ao regime e transparece com maior clareza na capital espanhola. Embora o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) tenha vencido as eleições na Catalunha, seu desempenho em Madri foi vexatório, com uma queda de mais de 10 pontos – sendo, portanto, o pior resultado de sua história.

A crise no interior da esquerda não é de hoje. Em janeiro de 2019 a cisão entre os principais fundadores do Podemos anunciava que o caminho da “nueva izquierda” seria curto. Pablo Iglesias e Íñigo Errejón sinalizavam as contradições internas do bloco. Para quem se dizia antissistema, o apoio ao direitista PSOE colocava em xeque o falatório anterior.

À época, Iglesias dizia estar desapontado com a política. “Na política, você precisa estar acostumado a esse tipo de manobra, mesmo que venha de colegas, mas reconheço que fiquei abalado e triste”, disse o dirigente no Facebook. “Não imaginava que hoje, quando deveríamos comemorar o quinto aniversário do Podemos, as coisas seriam assim”, complementou. Todo o sentimentalismo pequeno-burguês foi abaixo quando Errejón, à época candidato à Comunidade de Madri, eleito nas primárias, anunciou que faria uma aliança com Manuela Carmena, prefeita da capital que se elegeu pelo Ahora Madrid, um partido expoente da unidade popular – ou seja, da Frente Popular espanhola, onde partidos burgueses do tipo ecologista fizeram parte. “Não acredito que Manuela e Errejón nos esconderam que se preparavam para lançar um projeto eleitoral próprio para a Comunidade de Madri e que o anunciaram de surpresa. Nossos membros merecem mais respeito”, desabafou o dirigente do Podemos.

Na ânsia por cargos, o radicalismo foi cada vez mais deixado de lado e o pragmatismo tomou o lugar dos discursos efervescentes. A aliança seguiu os passos da política posta em prática. Como resultado da adaptação ao regime controlado pela burguesia, toda a esquerda mal chegara ao primeiro tempo do jogo. Quando a direita voltou à campo, trouxe com ela a demagogia e confirmou a vitória. O discurso antissistema é valido, desde que se assuma a postura requerida. Da mesma forma que a “nova esquerda”, a direita adotou o repertório e galgou suas conquistas. Lembremos que a chamada nova esquerda apareceu como uma expressão distorcida da crise do regime político, que também é a causa do crescimento da extrema-direita. Mas na medida em que essa esquerda se adaptou instantaneamente ao regime em crise, ela perdeu totalmente a força; enquanto isso, a extrema-direita cresce, pois ela continua aparecendo (embora com demagogia) como sendo antissistema.

De início, o Podemos surgiu como uma expressão atrasada do descontentamento popular com o regime imperialista espanhol. Forjado no calor dos protestos de 2011, a agremiação propôs ser uma via contra a direita e a extrema-direita, e ao mesmo tempo uma alternativa ao PSOE.

No entanto, com uma direção pequeno-burguesa sem origem social e política nas massas, o partido aproveitou o vácuo produzido pela crise política e econômica espanhola, porém não buscou o rompimento com o regime e adotou as práticas derrotistas dos centristas: pôs em prática o reformismo e integrou-se ao regime burguês abandonando as premissas defendidas em seu discurso até então.

No degringolar da crise em que o país está submetido, a extrema-direita surgiu, novamente, como uma alternativa de mudança aos olhos de uma parcela da população que ficou desacreditada com as forças do regime e a esquerda pequeno-burguesa pseudorradical.

Com o crescimento do VOX, o Podemos se agarrou ao PSOE e às instituições. Aumentou ainda mais a sua dependência das eleições, completando sua integração ao regime. Comprova, agora, seu total desprendimento da classe trabalhadora. Para a esquerda pequeno-burguesa, a luta política é meramente institucional. Isto é, a luta é eleitoral. Lutam na perspectiva de conquistar cargos no Estado burguês putrefato. Não se trata de uma luta política para organizar as amplas massas populares. Daí a razão da desistência de Iglesias da política: vai mal nas eleições, não há porque continuar na política. É, também, uma completa traição ao seu eleitorado. Uma comprovação dos limites evidentes do reformismo, enquanto a classe operária espanhola padece de uma gigantesca crise e vê o fascismo galgar cada vez mais posições no cenário político.

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