Desde a sua vitória nas eleições presidenciais estadunidenses criou-se uma expectativa positiva em torno de Joseph Biden quanto a assuntos que são caros à esquerda. Entre estes está a questão da imigração. Biden prometeu durante a sua campanha que naturalizaria cerca de 11 milhões de imigrantes irregulares dos quais mais da metade é mexicana. Isso levou o presidente do México Andrés Manuel Lopez Obrador a declarar quando da cerimônia de posse do mandatário estadunidense que espera que este cumpra sua promessa.
O assunto esteve na pauta de conversa telefônica que os dois chefes de estado tiveram dias depois. O presidente mexicano revelou posteriormente que durante tal conversa Biden prometera oferecer ajuda no valor de US$ 4 bilhões para Honduras, El Salvador e Guatemala no intuito de reduzir a pobreza nesses países e assim aliviar o fluxo migratório a partir desses países em direção aos Estados Unidos. A estratégia consistiria em que a diminuição do número de migrantes tentando entrar nos Estados Unidos facilitaria a adoção de uma política imigratória mais branda.
A despeito da retórica de Biden os primeiros dias de sua administração têm testemunhado a expulsão e a deportação de centenas de imigrantes ilegais. A expulsão é um procedimento mais rápido do que a deportação e tem sido utilizada com a cobertura legal de um decreto baixado pelo ex-presidente Donald Trump invocando razões de saúde pública em razão da pandemia do coronavírus. Uma moratória de cem dias nas deportações fora decretada pelo presidente, mas foi revogada por decisão de uma corte distrital e o poder executivo até o dia 1º de fevereiro não havia interposto recurso.
As palavras de boa vontade de Joseph Biden só impressionam o seu fã clube na esquerda internacional. Durante a campanha ele se jactou de seus planos de desenvolvimento e de guerra às drogas na América Latina. Ele declarou ter sido um dos mentores do Plano Colômbia que segundo ele foi um sucesso. A leitura diária dos jornais desmente esta afirmação pois dificilmente se passa um dia sem que algum assassinato político seja cometido na Colômbia enquanto a produção de coca chega a números próximos de recordes. Ademais, a Colômbia progrediu apenas no sentido de se tornar uma república militarizada de extrema-direita.
A prometida ajuda financeira a países da América Central se de algum modo for concretizada com certeza irá parar nos bolsos dos políticos corruptos que infelicitam aqueles países. Enquanto isso os povos desses países continuarão sofrendo os efeitos dos planos de privatização impostos por Biden e seus assemelhados. Em entrevista ao sítio Grayzone em 28 de julho de 2019 a professora de antropologia da Universidade Americana e pesquisadora da crise social em Honduras, Adrienne Pine, declarou:
Biden está reivindicando crédito por fazer algo construtivo para deter a crise migratória e jogando a culpa dos campos de concentração [na fronteira Estados Unidos – México] em Trump. Mas são as políticas de Biden que estão fazendo com que mais pessoas saiam da América Central e que estão tornando a vida dos defensores dos direitos humanos mais precárias uma vez que [ele] defende entidades que não têm nenhum interesse em direitos humanos.
Acrescenta na mesma ocasião o jornalista Max Blumenthal do sítio acima mencionado:
O sucateamento dos serviços públicos de saúde, demissão de professores, aumentos espantosos de tarifas de eletricidade, e projetos de mega desenvolvimento destrutivos do meio-ambiente são fatores críticos na migração em massa a partir de Honduras. E na verdade eles são subprodutos do chamado “plano Biden”.
É difícil acreditar que Biden agirá decisivamente a favor dos imigrantes ilegais nos Estados Unidos. O governo Barack Obama já havia prometido uma política de imigração mais branda, mas ficou apenas nas palavras: o que fez foi a maior deportação em massa da história dos EUA, expulsando 2 milhões de imigrantes. Biden era seu vice-presidente.
A política imperialista é a causadora da miséria e desespero que levam com que pessoas deixem seus países para irem viver ilegalmente em outras terras. Tendo em vista que não existe interesse que essa mão-de-obra barata deixe de chegar aos países centrais, a conversa de Biden sobre resolver o problema dos imigrantes ilegais é apenas conversa.