Um relatório de 881 páginas produzido pela Casa dos Representantes dos EUA (similar à Câmara dos Deputados do Brasil) e publicado no último 1º de maio dá novos detalhes sobre a verdadeira campanha contra a liberdade de expressão no país. Intitulado “THE CENSORSHIP-INDUSTRIAL COMPLEX: HOW TOP BIDEN WHITE HOUSE OFFICIALS COERCED BIG TECH TO CENSOR AMERICANS, TRUE INFORMATION, AND CRITICS OF THE BIDEN ADMINISTRATION” (“O COMPLEXO INDUSTRIAL DE CENSURA: COMO ALTOS FUNCIONÁRIOS DA CASA BRANCA DE BIDEN COAGIRAM GRANDES EMPRESAS DE TECNOLOGIA A CENSURAR AMERICANOS, INFORMAÇÕES VERDADEIRAS E CRÍTICOS DA ADMINISTRAÇÃO BIDEN”, em português), o relatório aborda especificamente o governo do atual presidente, Joe Biden, trazendo detalhes sobre a pressão da Casa Branca (sede do governo norte-americano) aos monopólios de internet para recrudescer a censura.
Segundo o relatório produzido pelos parlamentares, “os documentos mais importantes para entender os esforços de censura da Casa Branca de Biden têm sido os e-mails internos das empresas que estão no lado receptor de ameaças e coerção da Casa Branca”, diz.
O documento denuncia ainda que “após emitir dezenas de intimações para as Big Techs [os monopólios da internet], agências governamentais e terceiros relevantes, o Comitê Judiciário e a Subcomissão Especial sobre a Instrumentalização do Governo Federal começaram a obter dezenas de milhares de documentos que ilustram os detalhes da campanha de pressão da Casa Branca de Biden, acrescentando ainda que “obter comunicações internas chave das empresas – muitas vezes incluindo os mais altos níveis de liderança da empresa – exigiu medidas adicionais e escalonadas do Comitê e da Subcomissão Especial, incluindo ameaças de responsabilizar o CEO do Meta, Mark Zuckerberg, por desacato ao Congresso”.
O relatório mostra ainda que a campanha de censura começou contra o Facebook, logo no segundo mês do governo democrata, fevereiro de 2021. Nos primeiros dias do mês seguinte a Casa Branca começa a pressão contra a Amazon e finalmente, em abril, é a vez do Google, com pressão governamental para a empresa “remover e reduzir alegadas informações falsas, incluindo ‘conteúdo limítrofe’ (“borderline“, no original em inglês) – ou seja, conteúdo que não violava as políticas do YouTube.” Cada um desses monopólios conta com um dossiê próprio, a exemplo dos Twitter Files e de seu mais recente desdobramento, o Twitter Files Brazil, tratando especificamente dos ataques do Supremo Tribunal Federal (STF) à liberdade de expressão no País e o protagonismo do ministro do STF Alexandre de Moraes.
O perfil oficial do Comitê do Judiciário da Casa dos Representantes, dirigido pelo parlamentar Republicano Jim Jordan, repercutiu a publicação do relatório dizendo que o documento “expõe o regime de censura da Casa Branca de Biden” e que “apresenta e-mails e textos internos de Mark Zuckerberg, funcionários da Amazon e do YouTube. O empresário bilionário Elon Musk (dono do X) comentou a publicação de Jordan com uma captura de tela, datada de 16 de julho de 2021, confidencial, enviada por Zuckerberg a funcionários de sua empresa, Meta (holding das redes sociais Facebook e Instagram), onde se lê: “podemos incluir que a Casa Branca nos pressiona para censurar a teoria do vazamento de laboratório”.
A captura está presente no relatório divulgado pela Casa. A teoria supramencionada sugere que o vírus SARS-CoV-2, responsável pela pandemia de COVID-19, escapou de um laboratório de pesquisa em vez de ter surgido naturalmente.
Embora tratada como mera teoria da conspiração de grupos ligados à extrema direita norte-americana, a tese é endossada por personalidades da área médica e sanitária do país, como o ex-diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) Dr. Robert Redfield, o biólogo molecular e especialista em biossegurança Dr. Richard H. Ebright, o cientista biomédico Dr. Steven Quay e o ex-investigador do Departamento de Estado dos EUA, Dr. David Asher. Ainda assim, os arquivos deixam claro que sob pressão governamental, a teoria foi alvo de censura nas redes sociais da Meta.
Mike Benz, Diretor Executivo, ONG Foundation For Freedom Online (FFO), publicou em seu perfil no X, trechos do relatório contendo o que considerou os “10 exemplos de vezes que Facebook, YouTube e Amazon disseram explicitamente que só aprovaram políticas de censura quando foram ameaçados pelo governo Biden”. Abaixo, capturas de tela destacadas por Benz, como a da troca de email entre Zuckerberg e sua equipe para tratar de “desinformação sobre a Covid”, direcionando-as a publicações do Facebook que o tratassem o coronavírus como “arma biológica” “feita pelo homem”.
Já na captura abaixo, destaca-se que a Amazon mudou sua política de moderação em março de 2021 após “pressão” da Casa Branca. Segundo o relatório, “a motivação para este pedido é a crítica do governo Biden sobre livros sensíveis aos quais estamos dando destaque proeminente.”
Benz destaca ainda passagens que demonstram que até mesmo “humor e “conversas não violentas” eram escrutinadas pelo governo. “A posição do governo Biden”, diz um dos trechos destacados, “é que ‘‘informações ou opiniões negativas sobre a vacina’ sejam removidas, assim como ‘sugestões humorísticas ou satíricas com sugestões de que a vacina não é segura”.
Por fim, Benz destacou em suas capturas de tela partes como esta, demonstrando que a censura ultrapassou a barreira das redes sociais, atingindo também obras literárias, “devido às ‘tensas conversas com o novo governo [Biden]”. No relatório produzido pela Casa, o trecho é referendado a episódios ocorridos em 2021, primeiro ano de mandato do atual presidente.
Muitos setores na esquerda pequeno-burguesa e filoimperialista procuraram desmerecer a importância dos documentos vazados pelo Twitter Files Brazil, porém evidencia-se aqui mais uma vez a profunda desorientação deste campo. O conjunto de vazamentos e dossiês mostram uma grande guinada do imperialismo à direita.
O deslocamento para regimes mais abertamente fascistas depende, fundamentalmente, da censura, uma vez que a liberdade de expressão é um problema natural para governos repressores, que precisem atacar a população com a máxima dureza, como a crise mundial exige. Embora dominada por reacionários da pior espécie, a Casa dos Representantes dos EUA deu um importante alerta à humanidade e à esquerda classista, que precisará lutar com máxima intensidade pelos direitos democráticos duramente conquistados e essenciais para o avanço das reivindicações dos trabalhadores, estudantes e de todos os povos oprimidos.