O caso recente envolvendo o ator José de Abreu e a deputada federal de direita Tabata Amaral é apenas mais um triste episódio de um folhetim vazio e superficial que tem como cenário as redes sociais.
É neste folhetim que a pequena burguesia, à direita e à esquerda, constrói, diariamente, castelos no ar disfarçados de realidade.

Ficamos sem saber, no entanto, onde estava com a cabeça o ator da Globo, queridinho dos canais de esquerda no YouTube, ao passar uma bola com tanto mel para a ofendida.
Como acontece nesses casos, o castelo de ar da deputada privativa ganhou ainda a defesa incondicional da turba de espertos, uma reação com cara de torcida organizada para garantir o máximo de impacto na forma de likes e de compartilhamentos.
De concreto, ou seja, de realidade visível e palpável, está o fato de que a deputada privatizada não fica ofendida e nem passa vergonha quando condena as mulheres trabalhadoras brasileiras a uma pobreza terrível e desumana ao votar a favor das pautas econômicas que favorecem um parcela mínima e rica da população, o que lhe garante em troca, entre outros benefícios, espaços generosos na imprensa hegemônica.

Os interesses são satisfeitos quando legislações, aprovadas por ela e demais colegas de clube privé, autorizam a transferência inesgotável, para esses ricos, da renda produzida por milhões de mulheres trabalhadoras brasileiras, eliminando por completo condições mínimas de sobrevivência e condenando-as e a seus filhos a sofrimentos horríveis.
Isso não é feminismo.
“O feminismo pequeno-burguês é insuficiente para proceder à desmistificação completa da consciência feminina, uma vez que, (…), está compromissado com a ordem social das sociedades de classes (…)”.
A frase acima foi escrita pela pesquisadora Heleieth Saffioti em seu livro A Mulher na Sociedade de Classes, que teve sua primeira edição em 1969.
Florestan Fernandes foi o orientador da pesquisadora, falecida em 2010, que consolidou sua carreira como professora de sociologia na UNESP e dedicou sua vida a pesquisas ligadas à violência contra a mulher brasileira.
No entanto, não surpreende constatar que, passados mais de 50 anos desde a primeira edição do livro, o horizonte político limitado e individualista das Tabatas seja a única alternativa no mercado privativo de deputados personalité.
Mais triste ainda é perceber que estamos no meio de uma guerra de classes que ainda parece fantasia para muitos que se dizem de esquerda.
Nota-se que muitas mulheres, figuras públicas na política, estão em cima do muro. Elas se dizem de esquerda, mas vivem neste castelo pequeno-burguês feito de ar, aproveitando as hashtags em destaque tanto quanto Tabata.
Condenam o governo, é claro.

Não há nada mais confortável do que ficar divulgando #forabolsonaro. Essa hashtag afasta o holofote crítico sobre suas atitudes conformistas e coloca na sombra a bolha institucional à qual pertencem e fazem questão de manter intacta. E, mais importante, garante os votos em 2022.
A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste diário.