Termina nesse domingo, a 16ª Plenária Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), iniciada no último dia 21.
Pela primeira vez na história da Central o encontro foi realizado de forma virtual, evidenciando o enorme distanciamento da realidade das direções com o mundo real dos trabalhadores, no qual mais de 90% dos que ainda têm emprego, estão trabalhando presencialmente. Destaque-se que ao contrário da burocracia sindical que fechou os sindicatos por quase dois anos (milhares ainda estão fechados) a maioria da classe trabalhadora nunca pôde se afastar do trabalho, fica em homem office, o que foi reservado para setores da classe média e para uma parcela dos trabalhadores do ramo dos serviços.
Outra marca da Plenária é que – mesmo sendo virtual – e com baixíssimos custos (os gastos elevados sempre foi um pretexto para reduzir o tamanho dos congresso sindicais) ela teve apenas 950 delegados inscritos (e na maioria das atividades, menos de 600 participantes) “representando” cerca de 4 mil sindicatos filiados à CUT e mais de 15 milhões de trabalhadores a eles vinculados.
Dessa forma, o encontro, foi dominado por dirigentes sindicais, em grande número da própria estrutura da CUT (dirigentes nacionais, estaduais, das confederações, grandes sindicatos etc.) e ao contrário dos seu primeiro congresso em que predominavam os trabalhadores da base, esses eram uma raridade na 16ª Plenária.
Tamanha burocratização da maior organização dos trabalhadores do País e da América Latina, junto com a paralisia da imensa maioria dos sindicatos em meio à crise, expõe a crise das organizações que dependem da participação passiva dos trabalhadores para terem uma existência real (não meramente cartorial) e para cumprirem com os objetivos que justificam sua existência têm como razão de ser a defesa do valor da força de trabalho e a sua própria existência, para o que é preciso estar junto aos trabalhadores nos seus locais de trabalho e na sua luta cotidiana contra os patrões e os governos.
A questão da “reorganização da Central”, a pretexto de enfrentar as mudanças na realidade foi apresentada como tema central da Plenária.
O tema foi apresentado no dia ontem pelo presidente da CUT, Sérgio Nobre, que apresentou dados da Pesquisa sobre o Mercado de trabalho realizada pelo IBGE e destacados pelo DIEESE, segundo os quais:
- Temos população ativa de 173 milhões de brasileiros
- 74 milhões, fora do mercado de trabalho, por falta de oportunidades
- deste, 14 milhões de desempregados “oficiais”
- 89 milhões de pessoas ocupadas
- Do total de ocupados, 51% trabalham de forma precária, sem qualquer proteção social
A direção da CUT expõe como problema que o “atual modelo sindical representa apenas os trabalhadores da economia formal” (“em tese 49%”, destacou Nobre).
Ainda segundo o presidente da CUT, as estimativas apontam que convenções acordos chegam a apenas 2/3 dos trabalhadores formais (dos 49%), ou seja, atingem pouco mais de 16% dos trabalhadores diretamente. Ele assinalou ainda que autônomos e microempreendedores chegam a 25%, número que tende a crescer com a “pejotização”.
Nobre, em nome da direção da CUT, apresentou como “desafios”:
- Trabalhar para representar o conjunto da classe
- Criar sindicatos com base mais amplas, maior representatividade, já que “na atual estrutura cabe apenas celetistas e efetivos“
- Ver “como receber autônomos, associações de classes [que não são sindicatos, NR] e entidades dos movimentos culturais etc. que tem na CUT uma referência“
Para isso apontou de forma genérica propostas de mudanças de estrutura (que devem ser votadas no dia de hoje) e a necessidade de “mudanças culturais”. Mas passou ao longe de debater os problemas políticos e centrais que afastam a CUT e a quase totalidade das organizações sindicais dos trabalhadores.
De um ponto de vista geral, a direção cutista não só expressou uma postura passiva diante da situação, que não leva em consideração o papel decisivo da luta de classes, da qual a CUT foi criada para ser um motor e não para buscar uma adequação dos trabalhadores à realidade imposta diante do avanço da crise capitalista, como também expôs uma clara tendência de capitulação diante da situação. Os capitalistas em crise, impõe um retrocesso nas condições de trabalho e de vida da classe trabalhadora (como é o caso do desemprego/subemprego da maioria) e a CUT não aponta como questão vital a luta contra o desemprego, a organização dos desempregados nos sindicatos (Comitês de Luta), uma campanha pela imediata redução da jornada de trabalho etc. para subverter a situação, mas destaca a importância de “associar” os novos escravos, que trabalho sem direitos, sem nada (como os trabalhadores de aplicativos), apenas para garantir maior representatividade da Central.
O problema central é além de buscar agrupar todos, ver quais são as forças propulsoras para lutar contra aquilo que os capitalista moribundos querem impor. Não se trata de um “mundo novo” – como muitos dirigentes e esquerdistas falam – mas de um estágio da decomposição capitalista que não consegue sequer garantir a exploração dos seus escravos
O papel da CUT é organizar a luta de classes, unificar em torno dos setores mais organizados os demais, oferecer eixos comuns, como a luta pela redução da jornada de trabalho (trabalhar menos para que todos trabalhem); defender, com os métodos de luta próprios dos trabalhadores e não “com pires na mão” no parlamento os direitos dos servidores e os serviços públicos; os salários afetados pela inflação (com uma Plataforma da “Classe Trabalhadora” como diz a resolução aprovada) e apontar uma perspectiva de classe diante da situação, a luta por Lula presidente, com um governo dos trabalhadores, ou seja, ter uma perspectiva própria da CUT diante da situação (que não deve se confundir com a política dos que querem um novo governo de conciliação de classes que deu no golpe e no retrocesso que vivemos.
Se um dos problemas centrais é ampliar a representação dos trabalhadores para promover a unidade da classe contra os patrões, umas tarefas, por exemplo, é lutar pela conquista pela CUT dos importantes sindicato operários que ainda estão nas mãos dos pelegos, como e o caso dos Sindicatos dos Metalúrgicos vinculados à Federação dos Metalúrgicos de SP, ligada à máfia da Força Sindical, que têm em sua base mais de 600 mil trabalhadores; ou os poderosos sindicatos dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), dominado à décadas pela Conlutas/PSTU; ou ainda o Sindicatos dos Metalúrgicos de Volta Redonda (RJ), semi-destruído pela Força Sindical.
Para dar conta dessa e de outras tarefas reais de mobilização dos trabalhadores, é preciso luta – a começar pela CUT – contra a política reacionária da esquerda pequeno burguesa que, seguindo a direita golpista, colocou o movimento sindical colocou-se em “quarentena”, fechou os sindicatos (e até as sedes da CUT), deixou de publicar até mesmo informativos sindicais (na imensa maioria dos sindicatos) e se dirigiu – quando muito – a uma atividade de tipo parlamentar, buscando “negociar” ou mendigar mudanças da parte dos patrões e dos governos sem organizar qualquer luta real dos trabalhadores para fazer valer seus interesses: “fique em casa e morra sem lutar”.