A crise do coronavírus não potencializou apenas a crise econômica mundial e brasileira. Seu efeito também é devastador sobre a política, em particular o governo Bolsonaro. Cada dia que passa mais setores da direita responsáveis pelo golpe de 2016 e pela vitória fraudulenta de Bolsonaro nas eleições e mesmo ardorosos aliados de extrema-direita de primeira já se colocam em franca “oposição” ao governo. Ou melhor, preparam-se para salvar suas peles.
No que diz respeito às amplas massas populares, nem falar. No carnaval, a maior festa popular do Brasil, o “fora Bolsonaro”, o “Bolsonaro vai tomar no c#”, marchinhas de debochando do governo e do presidente foram a tônica. O dia da mulher trabalhadora foi a tônica do crescimento vertiginoso da luta que está para se abrir por colocar o governo para fora. Com o alastramento do coronavírus, então, o repúdio está nas alturas. É patente a incapacidade do governo federal e dos estaduais em apontar uma mínima política séria para fazer frente à epidemia.
Os números são assustadores. Os casos mais graves da doença estão bem longe de atingir o seu pico e a falta de leitos hospitalares já é gritante. Como resposta o governo avisa que está alugando 2 mil camas hospitalares para todo o País!!! Divulgou ainda um pacote que antecipa recursos dos próprios trabalhadores e mais R$ 200 por mês durante 3 meses para os trabalhadores da economia informal, enquanto promete 60 bilhões de reais para socorrer as grandes empresas capitalistas em crise. Pareceria até piada, caso a condição não fosse de uma gravidade absoluta.
Estudos preliminares de pesquisadores da universidade britânica, Oxford – apontam que a estimativa é a de que 478 mil brasileiros venham a morrer em decorrência da epidemia, o que representa uma catástrofe nacional.
O ritmo de contaminação também é galopante. Na Itália e na Espanha- países mais atingidos da Europa -, considerando os primeiros vinte dias a partir da constatação do primeiros diagnóstico, foram 3 e 2, respectivamente, contra 291 casos no Brasil.
As poucas informações acima já corroboram que tudo pode acontecer de pior e que o governo não tem o mínimo preparo.
Diante de tamanha gravidade da situação, era de se esperar que a esquerda tivesse uma atitude minimamente condizente com a situação. O que se viu foi justamente o contrário. A esquerda correu atrás do governo para “exigir” que (ele) – que promove a maior destruição nacional pelo menos desde Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990, – tenha plano de “salvação nacional”, “suspenda as reformas no Congresso”, entre outros apelos patéticos. O governo ou pelo menos os “democratas” liberais do Centrão atenderam prontamente não a esquerda, mas o ministro Paulo Guedes, aprovando na Comissão Mista da Câmara a medida provisória (MP), que criou a Carteira de Trabalho Verde-Amarela.
A esquerda foi ainda mais longe. As greves e atos marcados para ontem (18) foram cancelados e substituídos por apitaços, panelaços ou coisa que os valha, em nome do combate ao coronavírus, numa capitulação absoluta à extrema-direita que no último dia 15, embora bem insignificantes numericamente, promoveu os seus atos defendendo a ditadura militar e o fechamento do Congresso Nacional.
A demonstração mais patética de toda essa política foi justamente a suspensão da greve nos Correios defendida por todas forças políticas que compõem a federação nacional da categoria (Fentect) – PT, Psol, PSTU, sindicato de Minas Gerais, aliados a federação pelega dirigida pelo PCdoB), que controla os sindicatos de São Paulo e Rio de Janeiro.
Em nota, a entidade justificou que a greve foi cancelada porque poderia servir como propagação do coronavírus. Quer dizer, nos locais de trabalho os trabalhadores estariam protegidos, mas nas ruas ou mesmo em casa, não. Essa é original. Foi uma inversão absoluta de qualquer lógica. Os ecetistas são conhecidos como uma categoria que tem muito problema de acidente de trabalho. Os centro de triagem, que manipulam as encomendas e cartas nacionalmente, são cubículos que colocam em contato direto centenas de trabalhadores, tem ainda o caso dos funcionários de agência que atendem o público e os carteiros que mantém contato com dezenas de pessoas por dia. Finalmente, tem o próprio deslocamento para o trabalho feito em geral em verdadeiras latas de sardinha, que é o transporte público no Brasil.
Esse é o grande impasse da situação política. A esquerda mais uma vez está entregando para a direita a iniciativa política, a permanecer nessa condição, será corresponsável pela barbárie que se avizinha no País.