No livro “Ouro Azul – Como as grandes corporações estão se apoderando da água doce do nosso planeta”, Maude Barlow e Tony Clarke relatam uma série de países que privatizaram a água durante as primeiras décadas do regime neoliberal sob a desculpa do “aumento na eficiência” do fornecimento e ampliação da rede de saneamento.
Da virada da década de 1980 para a década de 1990, quando a água foi privatizada na França, até 2002, as tarifas para o consumidor aumentaram 150%.
Por sua vez, a organização francesa Serviços Públicos Internacionais (PSI), que representa a união dos setores públicos no mundo, identificou que, na Inglaterra, os custos de água ao consumidor subiram 106% entre 1989 e 1995, na medida em que explodiram as margens de lucro das empresas de água privadas: inacreditáveis 692%!
Eis aí o grande negócio da privatização. Ao mesmo tempo que as empresas capitalistas são os principais responsáveis pela poluição da água (os autores lembram que 80% das doenças nos países atrasados são disseminadas pelo consumo de água), os governos nada fazem para garantir o saneamento básico e usam a falta de vontade como desculpa (não sem antes dizer que, na verdade, é devido à “ineficiência natural do Estado”) para entregá-lo nas mãos dos grandes poluidores…
Continuam Barlow e Clarke, sobre a Inglaterra: “provavelmente como resultado desses aumentos de preço, o número de consumidores britânicos que tiveram seu fornecimento de água cortado subiu em 50%.”
Mas, como sempre, é nos países atrasados onde os grandes monopólios fazem a maior festa. Buenos Aires, que iniciou seu processo de privatização da água entre o final dos anos 1980 e o começo dos anos 1990, rendeu à subsidiária da Suez (antiga Suez-Lyonnaise des Eaux, responsável pela construção do Canal de Suez) de 2,5 a 3 vezes mais margens de lucro do que as empresas que operavam na Inglaterra e no País de Gales, no final dos anos 1990. Além disso, quase metade dos trabalhadores que pertenciam às empresas de serviços de água foi jogada no olho da rua com a privatização.
Já no país vizinho, o Chile, quando de sua privatização, “foram dados às empresas mineradoras quase todos os direitos sobre a água do país, com isenção de encargos. Hoje, essas empresas controlam esse mercado no Chile e a escassez de água só ajudou a elevar os preços”, relatam.
Ninguém pode ser tão ingênuo de acreditar nos discursos dos políticos neoliberais de que estão entregando as empresas e os serviços públicos para a iniciativa privada porque ela vai servir melhor à população.
“Depois de uma investigação sobre alegação de corrupção, uma equipe de magistrados concluiu que o serviço de água de Grenoble [França] havia sido privatizado em 1989 em troca de doações, que somam 19 milhões de francos [a moeda francesa na época], feitos pela Suez-Lyonnaise des Eaux para a campanha eleitoral do prefeito da cidade, Alain Caignon”, informa o livro.
Casos como esse têm ocorrido em diversas cidades pelo mundo nas últimas décadas.
Os brasileiros, mais do que ninguém, deveriam saber que rola muito dinheiro sujo por trás dos processos de privatização. Tasso “Coca-Cola” Jereissati (PSDB) conseguiu aprovar seu projeto no Congresso, com apoio de toda a direita, dos frente-amplistas aos bolsonaristas.
Quanto dinheiro a Coca-Cola e outras empresas terão desembolsado para conseguir comprar a água brasileira?