Até o dia de ontem (3), o Brasil já contava com 359 mortes confirmadas causadas pelo novo coronavírus — 60 a mais que no dia anterior. Embora o número ainda seja pequeno em comparação às estatísticas apresentadas por países como os Estados Unidos e Itália, os casos de coronavírus no Brasil se encontram subnotificados e revelam um estágio ainda inicial do desenvolvimento da epidemia. A subnotificação, por sua vez, é reflexo da política de total descaso do governo Bolsonaro e do imperialismo de modo geral, que, além de negar testes, que permitiriam saber com maior precisão as pessoas que estão contaminadas, negam também qualquer tipo de assistência à população. Há quase cem anos, em 1918, com a gripe espanhola, o cenário era bastante semelhante.
A gripe espanhola, vinda da Europa para o Brasil através de navios, foi considerada um pandemia, assim como o coronavírus, e matou, segundo os dados oficiais, 50 milhões de pessoas no mundo e, pelo menos, 35 mil brasileiros. A pandemia, que se espalhou no período da primeira grande guerra da fase imperialista do capitalismo — a Primeira Guerra Mundial —, já dava mostras que a burguesia era incapaz de conter uma crise sanitária dessas proporções. O presidente do Brasil à época, Rodrigues Alves, que subestimou a pandemia, faleceu contaminado pela doença.
Assim como hoje, com a pandemia do coronavírus, em 1918 não havia qualquer tipo de assistência para a população. Praticamente não haviam hospitais públicos, a indústria farmacêutica, como hoje, aproveitou a situação para aumentar seus lucros, e o povo, abandonado pelo Estado, recorria a todo tipo de recurso para enfrentar a doença. Uma das alternativas encontradas foi um xarope preparado à base de limão amassado com casca, mel e cachaça. Esse xarope, que recebeu o nome de caipirinha, se popularizou como uma bebida recreativa tipicamente brasileira após ser servida na Semana das Artes Modernas de 1922, momento em que os artistas procuravam firmar uma identidade brasileira para sua produção cultural.
O exemplo da criação da caipirinha, como resultado da luta do povo pela sua própria sobrevivência, serve para mostrar que, diante da falta de iniciativa do poder público para auxiliar a população, como distribuição de medicamentos, auxílio à população mais pobre e fortalecimento do sistema de saúde pública etc., os trabalhadores devem se organizar para que seus interesses prevaleçam. Em situações de crise, como a da gripe espanhola e a do coronavírus, sempre há uma disposição de os trabalhadores enfrentarem seus governantes. Para que isso se dê de maneira organizada e permita aos trabalhadores terem suas reivindicações atendidas, é preciso formar conselhos populares em todos os bairros do Brasil.