Na última quinta (2), após reunião do Conselho da Amazônia (dirigido por Mourão), que teve participação de chefes de executivos estaduais, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) deu a seguinte declaração a um colunista da revista Época:
“Tivemos uma reunião com diálogo técnico, respeitoso, sensato [com o vice-presidente Hamilton Mourão]. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele [Mourão], o Brasil chegará em 2022 em melhores condições.”
Por que Mourão – um general fascista, colocado pela burguesia como um salvo conduto para tutelar Bolsonaro – chegaria em 2022 “em melhores condições”? Melhores condições para quem?
Bolsonaro e Mourão possuem um programa político muito semelhante. A diferença é que Bolsonaro é um capitão, um “sindicalista” dos militares, que representa um setor periférico da burguesia (setor do varejo, como a Havan, redes de restauranres, como o Madero, etc.) e da pequena burguesia, que possuem interesses conflitantes com seu setor principal (representado pelos bancos e grandes industriais).
A política histérica de Bolsonaro é a expressão dos interesses materiais desta base social, que também é oprimida pelo setor principal da burguesia e neste momento, com a crise, corre risco de falência geral. É essa situação crítica que fez Bolsonaro se colocar contra o isolamento e minimizar as consequências da pandemia do coronavírus, pressionando pela reabertura do comércio. Este fato evidencia as contradições internas da burguesia, ou seja, do bloco golpista.
Mourão, por sua vez, é general, um cargo entre os mais altos da burocracia estatal, um setor que é o último guardião na defesa do Estado Burguês. Ele não possui a base social de Bolsonaro para pressioná-lo, o que faz com que expresse o programa do setor principal da burguesia de forma mais direta.
Ao dizer que Mourão teria melhores condições de chegar em 2022 do que Bolsonaro, Flávio Dino está se colocando exatamente ao lado do setor da burguesia que pensa que Bolsonaro se tornou um empecilho para a aplicação do programa da burguesia de conjunto. É um escárnio!
A declaração de Dino é muito reacionária, expressa a política calhorda da frente ampla em sua forma mais acabada: uma aliança com os golpistas. Mais, essa política legitima a manutenção do governo golpista através da substituição do presidente ilegítimo e fascista. A fala é tão absurda que nega completamente o fato do general Mourão ser o vice-presidente ilegítimo e fascista de Bolsonaro. Nega que esse governo só foi possível devido ao golpe de Estado (dado com o aval dos militares) e seus desdobramentos, como a condenação, prisão e cassação de Lula.
É um abandono total de qualquer política independente dos trabalhadores, é uma traição para colocar os trabalhadores a reboque da burguesia, expressa aqui pelo general Mourão. É uma prova cabal de que a medida que a crise econômica e sanitária se agravam e acirram ainda mais a luta de classes, setores da esquerda entram em ação, não para liderar o povo, mas para neutralizar completamente a classe operária e conter a revolta popular de uma massa ameaçada de morte por doença e fome pelos golpistas, incluindo Mourão.
O que se coloca na situação política neste momento é se o governo vai ser derrubado (fora Bolsonaro e todos os golpistas) ou se vai ser reformado (entra Mourão) para estancar a sangria do regime político. Portanto, o caminho para a classe operária na luta contra o golpe não é, nem nunca foi, a substituição do governo Bolsonaro e a entrada de Mourão, mas sim e somente a derrubada de todo o governo golpista através da mobilização popular.