As queixas por discriminação étnica e racial em Portugal que entre 2018 e 2019 tiveram uma alta de 93,3%, continuam a aumentar no ano de 2020. Os relatos de xenofobia especialmente contra brasileiros que se constituem na maior comunidade estrangeira em Portugal, não param. Os muros da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e de uma instituição de ensino secundária em Lisboa amanheceram pichados na última sexta-feira, 29, com insultos xenofóbicos e racistas.As pichações bradam por uma “Europa branca” e pedem que os imigrantes brasileiros “voltem para as favelas”.
Estão se tornando comuns em algumas universidades tais ataques, confirmando o crescimento da extrema direita há alguns anos apoiado pelo imperialismo europeu.
Várias outras mensagens de cunho racista e xenofóbico foram denunciadas como “Zucas, voltem para as favelas. Não vos queremos aqui”, usando o apelido pelo qual os brasileiros(Zucas) são conhecidos em Portugal, outras como “Viva a raça branca” e “Fora com os pretos”.
Uma estudante brasileira de Direito da Universidade Católica Portuguesa, citou que: “Desde que cheguei em Lisboa já tinha passado várias situações complicadas por ser brasileira, por exemplo, um queridíssimo professor falou para eu tomar cuidado para não passar nenhuma doença tropical para a sala”.
Na Universidade do Porto em 2019, caso semelhante ocorreu. Um caixote de madeira com pedras amanheceu em um corredor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) com a seguinte frase: “Grátis se for para atirar em um ‘zuca’ (que passou na frente no mestrado)”. A inscrição foi interpretada como um convite ao apedrejamento dos brasileiros.
Segundo os dados de 2019 do SEF (Serviços de Estrangeiros e Fronteiras), o número de brasileiros legalmente vivendo em Portugal cresceu 5,1% em 2017, a primeira alta desde 2010, quando quase 120 mil brasileiros viviam no país. Já em 2016, eram 81.251, número que subiu para 85.426 no ano seguinte. No entanto, os números devem ser maiores,já que as estatísticas oficiais não incluem os brasileiros em situação irregular ou os que têm dupla cidadania portuguesa ou de outro Estado da União Europeia. De acordo com o SEF a xenofobia contra brasileiros é a terceira principal causa de discriminação em Portugal, com 13% das notificações. Em primeiro lugar estão as manifestações preconceituosas contra ciganos, com 21,4% dos casos, seguidas pelos relatos de racismo, com 17,3%.
Não só no meio acadêmico as ocorrências racistas estão a ocorrer, trabalhadores brasileiros. Em maio de 2019, o brasileiro Jhon Batalha foi vítima de racismo e xenofobia no ambiente de trabalho em um restaurante na cidade do Porto, no Norte do país. “Acontecia todos os dias. Me chamavam de tudo: brasileiro burro, macaco, cabrão. Era um inferno”, conta. “Eu aguentei firme durante um tempo porque eu realmente estava precisando do documento [contrato de trabalho] e do dinheiro, porque eu tenho uma filha no Brasil”. Na época, o brasileiro apresentou o caso à polícia portuguesa. “Quero ir até o fim com o processo, mas por enquanto não tenho dinheiro”.
O racismo e a exploração europeia contra brasileiros e outros imigrantes ocorrem todos os dias. Imigrantes em situação irregular costumam ser as vítimas mais vulneráveis, especialmente no ambiente de trabalho, contou Cyntia de Paula, em maio de 2019. “Temos muitos casos em que os patrões dizem que o imigrante tem de trabalhar por mais horas, ou mesmo ter um salário menor, porque o trabalhador está em situação irregular. Por sua vez, as pessoas vítimas dessa exploração laboral têm muito medo de denunciar”.
O número crescente de casos de racismo na Europa, se dá pelas politicas fascistas e pelo avanço dos governos de extrema-direita pelo mundo todo. No exterior, os brasileiros devem se organizar para a luta contra o racismo, que por sua vez também contribui com a luta contra o fascismo, uma vez que a única beneficiada de ambos os fenômenos é a burguesia. A luta contra o fascismo, por sua vez, faz a burguesia racista lá e aqui recuar e põe em marcha a unidade dos trabalhadores e demais explorados contra seus algozes.