A recente declaração do governador da Bahia, Rui Costa (PT), deixa explícita a política de um setor da esquerda completamente atrelado à burguesia. Segundo o governador o momento é de união entre esquerda e direita, não existem adversários políticos no momento, somente um inimigo comum, o vírus corona. Tal declaração vem seguindo a mesma linha de declarações direitistas feitas pelo governador desde o Golpe na presidenta Dilma.
Outros líderes da esquerda vêm fazendo afirmações do mesmo gênero. Fernando Haddad, por exemplo, disse em sua mais recente coluna na Folha de São Paulo, órgão de imprensa golpista que apoiou o impeachment, que “Em vez de propor união nacional contra um inimigo comum — o vírus, bem entendido —, Bolsonaro cria uma desavença entre seres humanos, todos vulneráveis diante dele – o vírus, repito”. Segundo o ex-presidenciável, o certo seria Bolsonaro propor uma união entre todos os seres humanos (independente de classe social ou orientação política), onde todos se unissem com o mesmo objetivo: derrotar o vírus.
O problema de ambas as declarações é que está mais do que claro de que combater o vírus não é a política de Bolsonaro e nunca será, e muito menos é a política da burguesia. É evidente para qualquer um que observe rapidamente as tendências mundiais; não há união entre classes nem entre países, com raríssimas exceções como Cuba e China. Os Estados Unidos da América estão desviando recursos médicos destinados a outros países do continente americano, enquanto a França desviou produtos destinados aos países mais afetados a Europa, Espanha e Itália. A burguesia só salva a si mesma, para os demais é o salve quem puder do vírus e da própria burguesia.
A tese dessa parcela da esquerda é de que em momentos de crise, devemos cerrar fileiras e lutar contra o inimigo comum. Uma tese que poderia ser verdadeira não vivêssemos numa sociedade pautada pela luta de classes. As crises não amenizam os conflitos entre classes mais intensificam-nos.
É graças a política da burguesia de atender seus próprios interesses que estamos na crise que estamos, e que podemos ir ainda mais fundo. Ela é a responsável pela obliteração dos sistemas de saúde públicos mundo a fora, pela piora das condições de trabalho e pela própria crise econômica.
O vírus demorou para sair da China. Todos os líderes mundiais tiverem a chance de ver o estrago potencial que ele representava e optaram por esperar o vírus se espalhar para começar a agir, e ainda sim agem somente para proteger os bancos e os empresários de grande porte, deixando o trabalhador a mercê divina.
Neste momento, enquanto trilhões são gastados para salvar os bancos, quantias cem vezes inferiores são gastadas para ajudar a população. Enquanto a burguesia desfruta dos melhores hospitais e médicos, o trabalhador tem que se virar com um sistema incapaz de gerenciar a enorme quantidade de doentes. Muitos ainda tem que trabalhar em condições adversas, sem equipamentos de proteção ou quaisquer medidas para mitigar o problema. O lema “fique em casa” é usado como única política oficial do governo , enquanto todo o resto (equipamentos de prevenção, testes e condições para ficar em casa) não está garantido.
A crise deixa bem claro: o trabalhador tem que passar por cima da burguesia para enfrentar a crise. A burguesia não somente não fará nada pelo trabalhador como pretende pilhá-lo para se salvar. Enquanto classe só resta ao proletariado se unir e passar por cima do vírus e dos parasitas.