Às vésperas de mais uma sessão do Supremo Tribunal Federal, que tem na pauta a discussão (que, a rigor, nem deveria haver) acerca da revogação ou não de uma das mais grotescas violações da carta constitucional (a prisão de réus depois da condenação em segunda instância, antes da condenação em terceira instância e da conclusão do trânsito em julgado do processo) perpetrada pelos próprios senhores ministros da casa, os militares, na pessoa do ex-comandante do Exército, o vetusto general Eduardo Villas Boas, voltaram a se manifestar.
Villas Boas, que depois da aposentadoria no Exército agora presta serviços (golpistas) na presidência da república, “assessorando”, no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o não menos golpista e fraudulento presidente Bolsonaro, compareceu à uma rede social para novamente – a exemplo do que fez em abril de 2018 quando também se manifestou às vésperas de um julgamento de habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente Lula – ameaçar não somente o STF, mas toda a nação, publicando uma declaração em sua conta, com um claro e indisfarçável conteúdo golpista.
A ditadura civil implantada no Brasil como resultado do golpe de Estado de 2016, neste sentido, nada mais é do que um regime onde estão presentes todos os elementos que se identificam abertamente com uma ditadura, sob o manto de uma caricatura de democracia, tutelada e controlada diretamente pela caserna e os generais golpistas, que hipotecam apoio e dão sustentação a uma camarilha usurpadora e corrupta, que atua à margem das instituições, esmagando e condenando milhões de brasileiros à miséria e ao sofrimento.
Cinicamente, os generais falam em defesa da Constituição Federal e da “democracia”; que o Exército e as Forças Armadas estão atentos aos movimentos dos que desejam a “volta ao passado”; que a sociedade não tolera mais os “desmandos da corrupção”. Não pode haver desfaçatez maior, pois são eles (os militares) os primeiros a violarem escancaradamente os dispositivos constitucionais, quando se pronunciam sobre matéria que não lhes é da competência. Isso demonstra cabalmente que não há em vigor no país qualquer ideia minimamente próxima de regime constitucional; qualquer mínima ideia de “Estado Democrático de Direito”, mas única e tão somente formalidades jurídicas inscritas nos livros de “Direito Constitucional” que figuram como letra morta para os generais, para os capitalistas, para a extrema-direita e a burguesia em seu conjunto que, uma vez ameaçados em seus privilégios e interesses, não hesitam em fazer uso da ameaça, da força, da intimidação e da violência contra a população desarmada e indefesa.
A vinda a público do general Villas Boas para ameaçar o país e colocar uma espada sobre a cabeça de toda a nação evidencia também que não há limites para a disseminação do ideário golpista por parte da caserna. O fato é que mesmo sem estar ocupando qualquer posição de destaque dentro das FFAA, o general golpista Villas Boas – que muitos o viam como um militar representante da “ala profissional do Exército” (portanto, sem inclinações golpistas) – se manifesta publicamente sobre questões políticas, com uma posição não só ameaçadora, como abertamente reacionária e direitista. A “aposentadoria” das fileiras do Exército, com a ida para a “reserva” não impediu o moribundo general de reaparecer em público, desejando ver tanques e fuzis nas ruas do país para a implantação de uma ditadura e o esmagamento da população.
Os trabalhadores, os movimentos sociais e as massas populares devem se mobilizar para responder energicamente às investidas golpistas dos generais reacionários e suas ameaças. A luta pela derrota do golpe e dos militares que dão sustentação ao regime fraudulento existente no país é a tarefa imediata mais importante para a esquerda, as massas populares e os ativistas que se organizam e lutam em torno à liberdade do ex-presidente Lula.