Uma das áreas mais atacadas do governo Bolsonaro e pelos bolsonaristas, a cultura, foi utilizada de maneira manipulada pela propaganda golpista para atacar os artistas como aproveitadores do financiamento público de eventos e produções artísticas. A Lei Rouanet. O fato é que muito coxinha se aproveitou da lei para ganhar dinheiro, mas a campanha era contra os artistas “petistas” que financiaram peças de teatro, apresentações musicais e cinema por meio da lei.
Uma campanha para atacar o PT, mas também para abrir terreno para destruir a cultura no País. O resultado do golpe foi o fim de centenas de projetos sociais voltados para a cultura, desempregando milhares de profissionais da área, demissões em massa.

O cinema foi uma das principais áreas atacadas pelos golpistas. O financiamento por meio de leis de fomento, como a Lei Rouanet, está sendo gradativamente extinto e a perseguição à artistas de esquerda que se posicionam claramente contra o golpe é cada vez mais crescente. Vale lembrar que durante o governo golpista de Michel Temer, o filme “Aquarius” e seu diretor, o pernambucano, Kleber Mendonça Filho, foram perseguidos por se manifestar contra o golpe no Festival Internacional de Cannes em 2016. Entre as perseguições o filme ficou de fora da disputa do Oscar a filme estrangeiro em 2017, numa clara armação para que o diretor e seu filme não tivessem oportunidade de um novo protesto.
No último dia 18 de julho, em cerimônia que comemorou 200 dias de governo ilegítimo, Bolsonaro criticou a Agência Nacional de Cinema, a Ancine, dizendo que filmes como “Bruna Surfistinha” não podem ser financiados pelo dinheiro público, pois este seria um filme pornográfico. E ainda complementou que pretende transferir a agência que é sediada no Rio de Janeiro para Brasília, ou seja, para controlar o que pode e o que não pode ser aprovado pela Ancine.
Após a crítica, dias depois, a Ancine concedeu autorização para que um documentário que retrata a ascensão de Bolsonaro seja financiado com dinheiro público por meio da captação de R$ 530 mil com empresas que podem ter desconto no Imposto de Renda. O filme em questão é “Nem tudo se desfaz: como 20 centavos iniciaram uma revolução conservadora”, do aspirante a cineasta Josias Teófilo. O filme é mais uma tentativa da direita golpista de tentar manipular a história para justificar o golpe dado em Dilma Roussef em 2016 e a prisão de Lula em 2018. Até o momento foram feitas algumas tentativas, bem frustradas de apresentar a versão golpista dos fatos. Primeiro veio o filme “Polícia Federal – A Lei é Para todos”, fracasso de bilheteria que com um investimento de mais R$ 15 milhões de reais levou pouco mais de 1 milhão aos cinemas, não conseguindo sequer cobrir os custos da produção que até chegou a prometer uma continuação, mas que naufragou. Depois veio a série da golpista Netflix “Mecanismo”, dirigida pelo também apoiador do golpe, José Padilha, de “Tropa de Elite”. A série teve uma propaganda massiva em sua estréia, mas também não emplacou, agora segue, de maneira tímida, numa segunda temporada, mas com os vazamentos do The Intercept Brasil, as chances de uma terceira temporada são pouco viáveis. Mais recentemente veio o documentário “1964 – entre livros e armas” uma propaganda do Instituto Millenium disfarçada de produção cinematográfica que foi exibida apenas na internet, fingindo uma censura das salas de cinema que seria para alavancar sua visualizações. Diga-se de passagem, todas produções extremamente desagradáveis de assistir do ponto de vista do entretenimento, sem entrar no mérito político que é igualmente execrável.
Agora a nova produção será conduzida por um pupilo do, igualmente execrável, Olavo de Carvalho, Josias Teófilo, que fez o documentário, “O Jardim das Aflições”, justamente sobre a vida, pouco inspiradora, do guru bolsonarista. Outro filme nada interessante de se ver que também foi fracasso de bilheteria nos cinemas, teve pouco mais de 11 mil espectadores.
A captação autorizada para o documentário sobre Bolsonaro veio depois das críticas e ameaças feitas à Ancine. Além de aventar a mudança da Ancine para Brasília, Bolsonaro também transferiu o Conselho Superior do Cinema do Ministério da Cidadania para a Casa Civil e disse que será feito o controle dos filmes aprovados por meio de “filtros culturais” para decidir o que vai e o que não vai ser financiado. E ainda falou que o cinema brasileiro deveria investir em histórias de “heróis nacionais” [como ele?], que “no passado deram sua vida, se empenharam para que o Brasil fosse independente”. Na prática é a censura ao cinema brasileiro. Só será aceito o filme que for de acordo com os preceitos do governo, que vangloriar “heróis nacionais” que apoiaram a ditadura militar, que torturam inocentes, que promoveram a destruição do País.
É um ataque contra a cultura e a liberdade de expressão que deve ser energicamente repudiado.