Ao longo dos últimos anos, temos assistido a um acúmulo de derrotas para os trabalhadores e movimentos sociais dentro das vias institucionais. Nessa senda, vimos um golpe de Estado, o congelamento dos gastos sociais do governo federal, uma reforma trabalhista que alijou ainda mais os trabalhadores, o maior líder político do país condenado sem provas e julgado a revelia, uma fraude eleitoral que ungiu um inimigo do povo e não parece que as instituições irão mudar de dentro para fora.
Ainda assim, alguns setores da esquerda pequeno burguesa e mesmo do PT demonstram um verdadeiro fetiche pela busca de saídas institucionais. Na prática, os ritos e liturgias do Estado burguês são um caminho para o aprofundamento da exploração e da pauperização da imensa maioria do povo. Por outro lado, essa obsessão da esquerda acaba por desmoralizar os representantes e instituições frente aos trabalhadores, que reconhecem a ineficácia desses instrumentos através da própria vivência de cada um.
Na verdade, na semana em que alguns parlamentares do PSOL escolheram como política vestir um avental na cor laranja, fica evidente que existe um erro enorme na condução política dessas lideranças, que deveriam estar mobilizando os trabalhadores nas ruas, em assembleias, atos e debates que começam a se organizar em torno da defesa da Previdência.
Ao arrepio de qualquer reflexão um pouco mais sóbria sobre a conjuntura política, parlamentares do PT cobram urgência na abertura de uma CPMI (Comissão parlamentar mista de inquérito) para investigar a tragédia cometida pela Vale em Brumadinho. Nesta semana, a movimentação em torno da abertura de CPMI se propunha a dialogar até com Rodrigo Maia (DEM) e Davi Alcolumbre (DEM) presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente.
Esses movimentos jogam um balde de água fria nas bases dos movimentos sociais e sindicais, que deveriam estar pressionando e se mobilizando para exigir uma reparação as famílias e ao meio-ambiente. Fora o fetiche e outras credulidades excessivas, a atividade parlamentar de esquerda só tem algum efeito real quando associada a mobilização e conscientização dos trabalhadores.
Os parlamentares argumentam que só uma CPMI tem condições de superar o Lobby das mineradoras, o que é extremamente questionável. Na verdade, o Congresso tem se comportado cada vez mais como inimigo do povo e defensor dos interesses das grandes empresas e dos bancos. Sobre isso, podemos observar a militância dos presidentes das casas legislativas em liquidar com as aposentadorias de todos os brasileiros.
Portanto, parece óbvio que esse Congresso não vai apurar as causas e responsabilidades sobre a tragédia de Brumadinho. Assim sendo, não serão esses inimigos do povo que irão punir a Vale e forçá-la a reparar os danos ambientais. Nessa pauta ou em outras, a única alternativa de defesa dos interesses dos trabalhadores e dos explorados é a mobilização popular. Nenhuma CPMI vai defender os interesses do conjunto dos explorados.