A decisão do PT de criar 5.000 comitês para garantir a candidatura do Lula expõe, claramente, que Lula só tem a possibilidade de ser eleito se basear-se na mobilização do povo. Além disso, sua candidatura e possível eleição cria condições favoráveis para a mobilização popular e, com isso, a derrota do golpe de Estado.
É assim que um marxista vê a questão. O anúncio por parte do PT é extremamente positivo para a classe trabalhadora, pois evidencia uma inflexão do partido à esquerda. Outro anúncio feito por diversos dirigentes do partido, inclusive feito pela sua presidente Gleisi Hoffmann e pelo próprio Lula, diz respeito à intenção do partido de revogar a reforma trabalhista e o teto de gastos. O simples anúncio desta intenção constitui uma questão de extrema importância para o panorama político – o que pode ser medido pelo destaque que a imprensa burguesa deu ao tema, criticando a política petista.
O que setores confusos não entendem: é preciso lutar por Lula já!, ou seja, imediatamente!
Recentemente, uma deputada do PSOL criticou a posição do PT em revogar a reforma trabalhista, pois ela supôs que seria uma revogação parcial. O que, por si só, é algo absurdo, pois, mesmo que ele tivesse anunciado que a intenção era revogar parcialmente – o que, ainda, não foi o caso –, ainda assim seria algo positivo. Afinal, a revogação, mesmo que parcial, da reforma trabalhista exigirá uma mobilização do povo – que, por sua vez, tendo a possibilidade de recuperar seus direitos, ainda aumentará as reivindicações, levantando novas questões – e é precisamente este fator da candidatura do Lula, a saber, o fator de mobilizar massas para poder concorrer e governar e, com isso, aumentar a consciência delas, que a esquerda pequeno-burguesa é incapaz de entender.
Vemos com frequência por aí o PSOL dizer que só apoiará Lula mais tarde, durante a campanha ou, então, apenas no segundo turno. Isso representa relegar à segundo plano a principal questão política, que é a mobilização e a evolução da consciência de classe dos trabalhadores. E isto ocorre, pois Lula é o único candidato capaz de mobilizar amplas massas populares – e sua candidatura representa isso, representa a luta contra o golpe e, para o povo, a possibilidade de reaver seus direitos, criando um cenário mais favorável para os trabalhadores e para a evolução de sua luta.
A política apresentada por setores da esquerda, de que não se pode apoiar Lula agora, é uma política de tipo oportunista. A luta pela candidatura do Lula terá mais efetividade quanto antes ela começar, será mais capaz de obter êxito e de mobilizar mais os operários se começar imediatamente; esperar até o período de campanha eleitoral, tentar imobilizar os setores combativos, é uma política capituladora que tem sido levada adiante por certos setores.
Do teto de gastos à reforma trabalhista: o potencial da candidatura de Lula em mobilizar o povo contra as reformas neoliberais
A extinção do teto de gastos, anunciada por Gleisi Hoffmann como projeto do PT, sem dar ouvidos ao “mimimi do mercado” demonstra essa tendência do PT em mobilizar as massas – afinal, isso de modo algum poderá ser realizado dentro dos limites do parlamento. E a própria proposta de mobilizar o povo por tais medidas, cria na consciência popular a necessidade de lutar por seus interesses econômicos, vincula-a a necessidade de lutar por interesses políticos, de se organizar e, ao fim e ao cabo, duas medidas específicas (revogação do teto de gastos e da reforma trabalhistas) vão ser ampliadas por muitas outras reivindicações.
De modo mais simples: quando Lula, uma liderança altamente popular, diz: precisamos lutar para revogar o teto de gastos e a reforma trabalhista e o meio pelo qual isso será realizado deverá ser criando 5.000 comitês; o povo entende não só isso, como também adiciona a isso a necessidade de lutar por outras reivindicações, por outros direitos que lhe foi arrancado pelo golpe.
Nisso reside o caráter principal da candidatura do Lula – o fato de ela tender a mobilizar o povo, afinal só por esse caminho ela poderá se efetivar –, o que a torna um fator progressista na luta de classes. É através dela que há a possibilidade de derrotar o golpe de Estado – não porque o Lula seria uma espécie de mago que resolveria tudo sozinho, mas porque ela representa um fator de mobilização.
Apoio incondicional a candidatura de Lula!
É nesse sentido acima exposto que devemos lutar por Lula, não nos limitando a, como quer a esquerda pequeno-burguesa, “apoiá-lo apenas mais perto da eleição”. Outra coisa que setores oportunistas têm feito é impor condições para apoiar Lula (que ele realize tal ou qual coisa; que ele apoie este ou aquele candidato; etc.): isso é uma chantagem com o povo brasileiro.
Tendo em vista o papel revolucionário que a candidatura de Lula cumpre, na medida em que leva à mobilização de amplas massas por ela, negociar para apoiá-lo é fazer chantagem com as necessidades do povo para obter ganhos pessoais e mesquinhos – como faz Boulos, por exemplo, impondo como condição para o apoio ao ex-presidente que não se lance candidatura do PT em São Paulo.
É nesse sentido que deve ser dado apoio incondicional (isto é, sem condições) à candidatura de Lula. E isso deve ser feito imediatamente – o PCO já anunciou seu apoio à palavra de ordem Lula presidente em 2020, antes de qualquer outro partido – por todos os partidos de esquerda. Enquanto isso, a política levada até aqui pela esquerda pequeno-burguesa apenas pode significar uma política de pôr uma trava à mobilização e, por isso, deve ser denunciada e não pode ser seguida pelos setores combativos do movimento. Lula já!