No último debate presidencial na Rede Bandeirantes, um dos temas mais bem delimitados pelo ex-presidente Lula foi a questão das privatizações com destaque para a Petrobrás. Lula disse com todas as palavras: “eu sou contra privatizações, acho que a privatização da Petrobrás é uma loucura”. É uma política muito bem delimitada, abandonada por grande parte da esquerda, e que traça uma linha clara entre ele e Bolsonaro, que privatizou a Eletrobrás em seu governo. O posicionamento de Lula abre margem para a política que deve ser defendida por todos os trabalhadores, reverter todas as privatizações das últimas décadas.
Neste segundo turno das eleições Lula deu uma guinada à esquerda, uma política extremamente acertada ─ embora de certa forma desajeitada e ainda não até onde poderia chegar. Em suas atividades de rua, ele realizou enormes comícios. No Sudeste, onde a sua campanha deve ser maior, ele esteve nas periferias e favelas. Em São Paulo, foi para São Bernardo do Campo, Campinas e São Mateus, na Zona Leste. No Rio de Janeiro esteve em Belford Roxo e no Complexo do Alemão e na próxima quinta-feira estará na Zona Oeste da capital, região tradicionalmente controlada pela polícia militar. No debate também foi perceptível a guinada de Lula à esquerda.
Dois pontos que se sobressaíram foram a defesa de Lula do povo trabalhador das favelas e que está injustamente preso nos presídios, povo esse atacado duramente por Bolsonaro, o candidato da repressão. Lula afirmou ter orgulho de ser o único candidato com coragem de realizar atos políticos em uma favela do Rio de Janeiro, tamanha é a sua popularidade. Outro destaque foi a defesa da Nicarágua, um país brutalmente atacado pelo imperialismo dos EUA. Lula não cedeu nessa questão e se declarou muito orgulhoso de ter participado do aniversário da Revolução Sandinista, que derrubou a ditadura imposta pelos EUA.
No quesito da Petrobrás, Lula também deu um grande destaque. Sendo a empresa estatal um dos principais alvos do golpe de Estado, ela vem sendo destruída principalmente desde o ano de 2016, incluindo durante os anos de governo de Bolsonaro. As refinarias vêm sendo vendidas, os gasodutos, toda a BR distribuidora, poços do pré-sal. Um patrimônio gigantesco, uma das maiores riquezas do Brasil, uma das mais importantes petroleiras do planeta. Lula destacou a destruição do setor de refino de petróleo, que chegou a 100% do consumo nacional em seu governo, bem como a descoberta e investimento no Pré Sal.
Foi nesse momento que ele deixou muito claro que era totalmente contra a privatização. Aqui Lula se coloca frontalmente contra o golpe de Estado e revela o motivo por qual foi preso e pelo qual tentam a qualquer custo impedi-lo de voltar a ser o presidente do Brasil. O governo Lula seria um entrave gigantesco para a entrega da Petrobrás pela direita nacional.
Bolsonaro segue a política imposta no governo Temer de manter os preços de derivados de petróleo nos valores internacionais para dar dinheiro aos acionistas em Nova Iorque. Assim, Bolsonaro culpa a guerra na Ucrânia pela alta de preços, um absurdo completo. Durante o governo Lula, quando os EUA invadiram de forma monstruosa o Iraque, não houve um aumento gigantesco do preço do petróleo no Brasil. Isso porque o Brasil tem plena capacidade de ser autossuficiente nesse recurso e ainda lucrar com a crise, visto que pode exportar o petróleo. Basta manter a empresa sob o controle do Estado e não dos capitalistas estrangeiros.
Mas a fala de Lula é ainda mais profunda, ele não se coloca apenas contra a privatização da Petrobrás, mas contra todas as privatizações. “Eu acredito piamente que sou contra a privatização”, disse. Dos Correios, do Banco do Brasil e da Caixa, da Eletrobrás etc. Mas isso não para nas empresas que são atualmente estatais, as privatizações no Brasil tomaram muitos outros setores da economia. Antes de FHC o Brasil possuía estatais de transportes públicos, telecomunicações, mineração e siderurgia, saneamento básico, indústria de aviação etc. E ainda poderia ter muito mais estatais, produção de automóveis, construção civil, computação, basicamente de todos os principais setores da economia.
A política de Lula levada até o fim significaria a reestatização de todos esses setores e a criação de novas indústrias estatais que são extremamente necessárias para o país. Seria a da criação das bases necessárias para desenvolver o país, caso haja um verdadeiro contraponto ao domínio imperialista sobre nossa economia. Uma riqueza a ponto de também industrializar as nações irmãs da América Latina e da África, muito mais do que Lula fez em seus governos, quando empresas nacionais investiram nesses países. Essa deveria ser a posição do Brasil no mundo e o fim de todas as privatizações é um primeiro passo para isso.
O movimento de luta por Lula presidente é na verdade um movimento de luta contra o golpe de Estado, um movimento de luta contra o imperialismo, um movimento da classe operária nacional e de todos os setores oprimidos da nação. É só por meio desse movimento que é possível eleger Lula presidente, e é também por meio dele que, tendo Lula como presidente, é possível não só impedir quaisquer privatizações como reestatizar tudo o que foi saqueado do povo brasileiro pelo imperialismo.