Os caminhoneiros dão a resposta natural à série ininterrupta de reajustes nos preços dos combustíveis, se mobilizando para defender suas condições de vida. Na última tentativa de articulação da categoria, a imprensa burguesa tentou tachar os manifestantes como “bolsonaristas”, omitindo sua pauta de reivindicações e atribuindo suas ações a afinidades ideológicas com o governo federal. Com o aprofundamento da crise da alta dos preços dos combustíveis fica cada vez mais difícil fingir que os caminhoneiros não têm uma pauta concreta ou que suas reivindicações são absurdas. É dever da esquerda apoiar e fortalecer a greve.
As reivindicações
É só olhar para as principais reivindicações dos caminhoneiros para perceber que o movimento não tem nada de ideológico, apenas reivindicações concretas que afetam a vida desses trabalhadores. Talvez a mais destacada seja a política de preços da Petrobrás, que já tem impactado nos preços dos produtos nas prateleiras dos supermercados. Essa política é uma herança direta do golpe de 2016 e privilegia os lucros dos acionistas da empresa em detrimento dos interesses do povo brasileiro.
Além disso, os caminhoneiros reivindicam o cumprimento do piso mínimo do frete rodoviário, estabelecido na legislação mas desconsiderado na prática. Caminhoneiros denunciam que muitos contratantes pagam abaixo do piso estabelecido e que falta fiscalização para impedir isso. O pagamento abaixo do valor mínimo combinado com os maiores gastos para abastecer prejudicam duramente a vida desses trabalhadores, que como o restante da população ainda sofrem com a alta nos preços dos produtos de necessidade básica.
Outra pauta importante diz respeito à aposentadoria dos trabalhadores da categoria. Os caminhoneiros reivindicam aposentadoria especial a partir de 25 anos de contribuição, algo que a categoria perdeu ao longo dos governos da direita no Brasil e que afeta de maneira importante sua qualidade de vida.
Imprensa tenta desmoralizar
Como todos sabem no Brasil, greves de caminhoneiros impactam rápida e profundamente o funcionamento regular da economia no país. As rodovias são a principal via de transporte de mercadorias, seja para exportação ou simplesmente para a distribuição interna. Paralisações de trabalhadores e bloqueio de rodovias, mesmo que por poucos dias, já causam desabastecimento em supermercados, por exemplo.
Ao contrário de como atuaram em “lockdowns” patronais que afetavam governos petistas, os monopólios da comunicação dedicam manchetes para propagandear que o movimento não tem adesão da categoria ou que não estão ocorrendo bloqueios de rodovias. Se trata de uma estratégia tradicional dos inimigos dos trabalhadores, usar do poder de alcance da sua imprensa para desencorajar quem já está mobilizado e quem ainda não aderiu à greve.
Além de tentar jogar para baixo o movimento através de avaliações negativas sobre a adesão, a imprensa burguesa procura dar grande destaque às dificuldades encontradas pelos grevistas e os riscos envolvidos. O recado é claro: se está ruim é melhor aceitar calado senão piora. Uma chantagem recorrente no movimento operário e que deve ser exposta como o que é de fato, uma chantagem covarde por parte da burguesia.
A intervenção do judiciário
Como não poderia deixar de ser, o mais antidemocrático dos poderes do Estado também atua contra o movimento dos caminhoneiros. Diante do anúncio da greve, a juíza federal substituta Marina Sabino Coutinho determinou com antecedência multas caso ocorressem bloqueios em estradas e rodovias entre o porto de Santos e as cidades de Santos e São Vicente. Os valores variam de R$ 10 mil para pessoas físicas até R$ 100 mil para pessoas jurídicas e o uso da força policial também foi autorizado com antecedência.
Já o juiz federal plantonista Bruno Teixeira de Castro proibiu bloqueios em estradas e rodovias no estado de Goiás. Os valores estipulados na baixada santista foram multiplicados por 10, então pessoas físicas foram ameaçadas com R$ 100 mil de multa e pessoas jurídicas, R$ 1 milhão. O juiz cita ainda nominalmente três organizações de caminhoneiros autônomos como alvos potenciais das multas milionárias, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) e a Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava).
O judiciário dos estados de Santa Catarina e Paraná adotaram resoluções semelhantes, o que expõe claramente o caráter popular do movimento dos caminhoneiros. Para produzir uma articulação tão sincronizada dos juízes burgueses, é porque as demandas do movimento vão de encontro com os interesses da classe social dominante. Vale citar também que desde o começo do dia 1º de novembro alguns bloqueios de vias e pontos de concentração de caminhoneiros foram reprimidos pelas diversas polícias.
🚛Caminhoneiros de todo o Brasil vão iniciar uma paralisação nacional por tempo indeterminado nesta segunda-feira, 1º de novembro.
➡️ Leia nota completa das entidades https://t.co/L29N0y3f4r @CNTTLOFICIAL pic.twitter.com/ePpmP5MFPZ
— CUT São Paulo (@CUTsaopaulo) November 1, 2021
O potencial da greve
Um ponto muito importante é o apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT), organização mais importante dos trabalhadores no país. A CUT dirige a maioria absoluta dos sindicatos do país e é a única organização com a capacidade de articular uma greve geral.
Apesar de ainda ser pequeno, o movimento de reivindicações dos caminhoneiros tem o potencial de colocar o governo na parede. É um verdadeiro barril de pólvora. Como já vimos em outras ocasiões, em poucos dias a categoria consegue produzir um enorme caos no país. Em 2018, o governo Temer quase caiu diante de uma forte greve dos caminhoneiros.
Assim como os caminhoneiros, a categoria dos petroleiros está sob ataque nos governos pós-golpe. Aspectos centrais dos problemas vividos por ambas as categorias está relacionada à Petrobrás. Essa gigantesca empresa nacional foi construída com o dinheiro do povo brasileiro e hoje distribui grande parte dos seus lucros para acionistas estrangeiros, um verdadeiro crime de lesa pátria. Ao mesmo tempo em que bilhões de reais escapam para os países imperialistas, o preço dos combustíveis e do gás de cozinha sobem vertiginosamente.
É preciso apoiar a greve dos caminhoneiros e exigir a estatização total da Petrobrás. A empresa deve ser colocada a serviço do povo brasileiro e não ser usada para roubar o país. É uma empresa fundamental para impulsionar o desenvolvimento industrial do país e por isso é tão cobiçada pelos parasitas do capital financeiro.