Vaticano

Esquerda papa-hóstia inventa o papa antifascista

Jornalista prevê um papa lutando contra o fascismo, ideia que contaria a realidade, uma vez que a Igreja historicamente se relacionou com as piores ditaduras

Leão XIV

Novo papa faz mal à esquerda depressiva”. Esse foi o estranho título escolhido por Moisés Mendes para seu artigo publicado no Brasil 247 nessa quinta-feira (8). Não se tem visto uma “esquerda depressiva” no cenário político brasileiro, mas sim o seu oposto: uma esquerda que fica eufórica com a eleição de um papa ou se alegra com a figura de um ministro ditatorial do Supremo Tribunal Federal (STF).

Moisés Mendes diz que o pessimismo das esquerdas é mais devastador do que o otimismo que o fascismo vem ostentando com euforia nos últimos anos”. O otimismo da extrema direita se deve, principalmente, ao vácuo político deixado pela política equivocada da esquerda pequeno-burguesa, que tem encampado a “defesa da democracia”, a “luta contra o fascismo” etc., em vez de levar adiante suas bandeiras históricas. Esse chamado para “barrar o fascismo” nada mais é que um disfarce para a esquerda defender o imperialismo “democrático” em seu ataque contra Irã, Rússia, China, Venezuela, e todos os que de algum modo confrontam o imperialismo.

O jornalista completa alegando que, “tomado por esses pessimistas, um bom pedaço das esquerdas entrou em depressão com a escolha do novo papa”. Realismo é diferente de pessimismo. Os trabalhadores, ainda que muitos sejam religiosos, não devem esperar nada da  Igreja, não como instituição.

Papa antifascista?

A Igreja nunca se notabilizou por combater o fascismo, mas por manter relações “ambíguas” ou de apoio a ditaduras, inclusive com Benito Mussolini e as ditaduras militares na América Latina. Ainda assim, Mendes sustenta que esses setores, da esquerda que ele critica, contrariam assim um sentimento primário da compreensão política de que a Igreja escolheu um papa que possa desafiar o avanço da extrema direita”.

Mendes não tem como sustentar a tese do que teria motivado a escolha do papa. Para isso, lança mão de um artifício, dizendo que “são muitos os sinais. Sabemos que o novo papa, de origem americana, falou até em espanhol ao saudar o povo”. O idioma que o papa fala não tem a menor relevância. João Paulo II, que alegavam falar 13 idiomas, nem por isso deixou de ser um grande reacionário e inimigo do socialismo.

Moisés Mendes comemora que o papa “escolheu o nome de Leão XIV em homenagem ao Leão anterior, que se dedicou a pregar a Igreja que compreende, acolhe e se envolve com as questões sociais”. Leão XIII teria mesmo privilegiado as questões sociais?

Leão XIII, embora a Rerum Novarum, em tese, apoiasse os direitos dos trabalhadores, reprimiu movimentos católicos que defendiam reformas como a “Democracia Cristã” (Democrazia Cristiana) na Itália, liderada por padres como Romolo Murri. Ele não queria que a Igreja se aproximasse do socialismo ou mesmo do republicanismo anticlerical. O papa via esses movimentos como uma ameaça à unidade da Igreja e à autoridade papal, especialmente porque alguns líderes defendiam uma Igreja mais democrática, com maior participação dos leigos. Defendiam também alianças com forças políticas não católicas (incluindo liberais e socialistas moderados).

Em 1901, Leão XIII emitiu um documento (através da Congregação para os Assuntos Eclesiásticos Extraordinários) condenando a Democracia Cristã como “perigosa”, caso fosse além dos limites da doutrina católica.

Em 1902, o Vaticano proibiu padres (incluindo Murri) de participarem ativamente na política sem autorização explícita de seus bispos.

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Ainda que Leão XIV nem mesmo tenha começado seu pontificado, Moisés Mendes é categórico em afirmar quetemos um papa pastor, com alma latina, que era amigo de Francisco, que vai pregar em meio ao crescimento do fascismo americano e mundial e que tem compromissos com a sequência das ações do antecessor”. Isso está mais com cara de promessa de campanha.

O autor do texto dá uma volta para citar Romain Rolland (escritor francês), que diz que “o pessimismo da razão não pode se sobrepor ao otimismo das vontades, da ação política. Essa era uma lição de curso para esquerdistas do século 20”. Mas não se trata de ser pessimista ou otimista, mas de se analisar concretamente a política. Não foram poucos os otimistas que disseram que não haveria golpe contra Dilma Rousseff e que Lula não seria preso. Atitude que só desorganizou a reação da esquerda.

São os otimistas de plantão que ficam dizendo que o governo Lula está uma maravilha, que o PIB cresce etc. Enquanto isso, os juros estão fazendo os bancos embolsarem quase metade orçamento federal.

A política econômica do governo é uma tragédia, mas o otimismo não dorme. A esquerda só acorda quando a água já invadiu a casa, pois ignorou todos os alertas da enchente.

No final, Mendes escreve: “Chegamos hoje à situação em que fomos tomados não por pessimismo, mas por uma depressão compulsória, permanente, que imobiliza pensamento e ação. Tudo o que o novo papa nos oferece como esperança aparente é, segundo parte da esquerda, pura miragem”.

A “depressão compulsória”, a “imobilidade” de certos setores da esquerda, é decorrência de não se apoiarem na classe trabalhadora como base de sua política; ficam à mercê de conchavos, de negociações por cima, de juízes salvadores da “democracia”.

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