Polêmica

A esquerda que acha que tem a chave da cadeia

Ex-reitor busca traficar política repressiva da direita para o movimento popular

Ao longo de sua história, a esquerda nunca deteve a característica de ser defensora do aumento de leis repressivas e maiores penas, para quem quer que fosse. O princípio fundamental é que inimigos políticos são derrotados com política, e não com repressão do Estado.

Desde o golpe de 2016, surgiram os analistas da esquerda que, em um delírio completo, acreditam que o problema com a direita e o bolsonarismo devem ser resolvidos com a cadeia, e é daí que surge a bajulação com o outrora inimigo STF e o judiciário de conjunto.

O ex-reitor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Ricardo Lodi Ribeiro, tem uma posição particular que, na realidade, é parte dessa tendência repressiva da esquerda. Claro que o fato de ter sido reitor diz muito sobre o que ele pensa sobre repressão. 

Em texto publicado no Brasil 247, Lodi afirma que o “Brasil está sendo capturado por um crime organizado de colarinho branco” e que a prova disso está “na sucessão de pautas que o Congresso tem avançado — e nenhuma delas revela tanto o método quanto o PL da dosimetria, aprovado na calada da noite para reduzir penas de golpistas e, de quebra, abrir brechas que afrouxam regras penais aplicáveis a toda sorte de criminosos de alto impacto”.

Segundo o ex-reitor, “não foi apenas um gesto de condescendência com o golpismo: foi uma verdadeira reforma penal clandestina, feita para proteger aliados, garantir impunidade e criar um precedente que favorece toda a cadeia do crime de colarinho branco”.

O ar moralista do texto de conjunto lembra todas as campanhas contra a corrupção que aconteceram no Brasil. E todas elas tinham um único objetivo: o golpe de Estado. Nenhuma dessas campanhas é para o bem do povo, e sempre resultam em mais leis repressivas.

Ao contrário do que pensam muitos militantes, a esquerda não tem a chave da cadeia, o martelinho do juiz, a toga do ministro, a viatura da PM. Todos eles são de propriedade da mais alta burguesia, que faz o que quer com o regime político nacional. 

Não deveria haver regime e penas de exceção contra adversários políticos. E é exatamente isso que está acontecendo com os bolsonaristas e o próprio Jair Bolsonaro. Quem vai pagar caro diante de um sistema repressivo vai ser o povo trabalhador e suas organizações, como sempre. 

Do moralismo chato da “anti-corrupção”, o ex-reitor diz que “a PEC da Blindagem” foi “concebida para transformar parlamentares em uma casta inalcançável pela lei”. Soma-se a isso “o relatório Derrite no PL Antifacção, que mutilou o enfrentamento às cúpulas do crime; e à sabotagem contínua da PEC da Segurança Pública, sistematicamente barrada para impedir qualquer responsabilização das estruturas que lucram com o caos. Juntos, esses atos formam o mosaico completo da estratégia: proteger os poderosos, empoderar os criminosos e enfraquecer o Estado”.

Pelo menos o ex-reitor entregou o jogo. Tudo isso não tem nada a ver com o povo, seus interesses. Mas com o Estado e quem o controla, ou seja, a burguesia.

Por outro lado, se não há mais imunidade parlamentar, significa que qualquer juiz ou ministro pode rasgar votos de eleitores. Isso é a cassação de mandatos eletivos por ordem do judiciário, é a abolição das eleições, a ditadura.

Quanto às demais propostas de aumento de repressão, como o “PL Antifacção”, todas elas deveriam ser arquivadas para o bem do povo. A população não ganha absolutamente nada com mais policiais, mais penas, mais crimes. A população ganha com casa, emprego, comida e seus direitos democráticos.

O ex-reitor afirma ainda que “o que está em jogo ultrapassa qualquer disputa convencional entre direita e esquerda”. Errado, pois não ultrapassa. Enquanto a direita é a histórica defensora da repressão, a esquerda é contra. É relativamente simples essa conclusão. 

“É urgente nomear o inimigo real (…) O verdadeiro crime organizado veste terno, ocupa gabinetes climatizados, manipula o orçamento e se escora em mandatos para operar com impunidade”. De fato uma frase que ultrapassa a esquerda e a direita. Parece um pouco um discurso fascista, mas seria, em tese, da esquerda.

“O combate central do Brasil hoje não é ideológico. É civilizatório”. Errou de novo, o ex-reitor, tão acostumado a civilizar seus alunos. Obviamente é um problema ideológico na medida em que, pelo atual estado de coisas, ninguém mais sabe quem é a favor da repressão do estado, se a direita ou a esquerda, conforme pode ser visto no texto do ex-reitor. 

“E a democracia brasileira, para sobreviver, precisa finalmente confrontar aqueles que a tratam como obstáculo — jamais como compromisso”. Crítica que caberia muito bem ao STF e seus ministros que agem acima da lei e do interesse popular.

“Não haverá saída institucional enquanto a sociedade permanecer paralisada. É hora de reconstruir a pressão democrática, ocupar as ruas e afirmar que o Brasil não pertence à máfia política — pertence ao seu povo”. Frase bonita, mas, novamente, pode servir tanto para a direita quanto para a esquerda. Aí está o problema de confundir a repressão como programa de esquerda.

O texto do ex-reitor, na realidade, é um ardil que serve para recrutar gente incauta nas “novas” reivindicações da esquerda pequeno-burguesa: aumentos das penas, dos crimes, censura, entregar o regime para gente não eleita (STF), defesa da polícia, etc. Ou seja, um programa antidemocrático, repressivo.

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