América Latina

Peru, Equador, El Salvador: o modelo da burguesia para o Brasil

Governador do Rio, Cláudio Castro, entregou relatório ao governo Trump pedindo para que o Comando Vermelho seja classificado pelos EUA como organização terrorista

No último dia 28, foi perpetrada a maior chacina da história do Rio de Janeiro. A chacina foi perpetrada pelas polícias Militar e Civil cariocas, em operação da Secretaria de Segurança Pública do estado, este governado por Cláudio Castro (PL). Mais de 2.500 policiais fizeram parte da operação. Os agentes da repressão, durante a invasão dos Complexos do Alemão e da Penha, mataram 128 pessoas. Em oposição, apenas quatro policiais morreram, indicando ter havido inúmeras execuções sumárias da população civil local, o que também foi denunciado por muitos moradores.

Dois dias depois deste crime monstruoso, sete governadores da direita “civilizada”, em reunião liderada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) este que no período recente vem se o principal cotado para ser o candidato do imperialismo na eleição presidencial de 2026, Cláudio Castro anunciou o chamado “Consórcio da Paz”, nome cínico para uma operação política para integrar as polícias de todos as 27 unidades da Federação, para supostamente combater o crime organizado.

Nos últimos anos, o suposto combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas vem servindo de pretexto para que o imperialismo erga ditaduras em vários países da América Latina, com destaque para El Salvador, Equador e Peru.

El Salvador: há 6 anos sob uma ditadura fascista

Desde 2019, El Salvador, país na América Central, vive uma ditadura de tipo fascista. Naquele ano, foi eleito Nayib Bukele, o atual presidente do país, com 53% dos votos. Ele concorreu à presidência pela Grande Aliança para a Unidade Nacional (GANA), após o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) ter se recusado a registrar o partido Nuevas Ideas, criado em 2017 após Bukele ter sido expulso da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN).

Bukele foi precedido de Salvador Sánchez Cerén, da FMLN. Tendo governado de 2014 a 2018, Cerén era de esquerda, tendo sido o primeiro ex-guerrilheiro a se tornara presidente de El Savador (ele foi um líder guerrilheiro durante a Guerra Civil Salvadorenha em que a FMLN liderou a luta contra o então governo apoiado pelos Estados Unidos). Foi sob seu governo que El Salvador estabeleceu, pela primeira vez, relações diplomáticas com a República Popular da China, passando a reconhecer Taiuã como parte da China (o que já foi revertido sobre Bukele). Simultaneamente, a questão da segurança pública foi central, pois, ao fim de seu mandato, a taxa de homicídios em El Salvador teria chegado a 13 por dia (e a um total de 23 mil homicídios nos quatro anos de termo).

Assim que se tornou presidente, Nayib Bukele lançou a política chamada Plano de Controle Territorial, iniciada em 20 de junho de 2019, e em vigor ainda hoje. Ela foi dividida em seis fases, as quais tiveram início, respectivamente, em 20 de junho de 2019 (Preparação); 2 de julho de 2019 (Oportunidade); 1º de agosto de 2019 (Modernização); 19 de julho de 2021 (Incursão); 23 de novembro de 2022 (Extração); e 15 de setembro de 2023 (Integração). Já em 2019, o governo Bukele previra que o gasto com este plano seria de US$572,2 milhões. Uma sétima fase estaria sendo planejada, mas detalhes não foram revelados.

A ditadura foi aprofundada em maio de 2022, quando o governo Bukele declarou estado de emergência, utilizando como pretexto suposta série de ataques de gangues que teriam resultado em 87 mortos, intensificando a repressão. Em outubro de 2025, o estado de emergência já havia sido estendido por 43 vezes. 

Como resultado da política do Plano de Controle Territorial, teria havido uma queda significativa na taxa de homicídios (isto é, segundo números oficiais), mas ao custo da prisão de mais de 110 mil pessoas, tornando-se a maior taxa de encarceramento do mundo. 

Conforme já noticiado por este Diário, na série de matérias “A verdade sobre El Savador”, “desde que foi instaurado o Estado de emergência em 2022, país da América Central se transformou em um campo de concentração, onde um regime de terror barbariza a população”, e onde “qualquer pessoa pode ser presa sem necessidade de mandado judicial, bastando ser suspeita de ligação com gangues”, não havendo “distinção entre culpados e inocentescom centenas mortos sob custódia”, sendo as prisões verdadeiros centros de tortura.

No Equador, operação semelhante a El Salvador

Desde 2023, Equador está passando por um processo análogo ao que ocorreu em El Salvador, com Bukele.

Naquele ano foi eleito o atual presidente Daniel Noboa. Sua eleição se deu no pleito realizado como consequência da dissolução da Assembleia Nacional no mês de maio, medida tomada pelo então presidente Guillermo Lasso. 

Lasso, que havia sofrido um impeachment, utilizou-se de uma medida constitucional chamada morte cruzada, através da qual um presidente pode dissolver a Assembleia Nacional, mas apenas ao preço de dar ao eleitorado a oportunidade de destituir o presidente do cargo, através de uma eleição especial. 

Sob Noboa, a intensificação da repressão e o fechamento do regime começou em janeiro de 2024. Naquele mês ocorreram ações violentas de grupos criminosos. Sob a pretexto de combater organizações do crime organizado, Noboa declarou estado de emergência e, subsequentemente, estado de guerra interna.

Recentemente, em setembro de 2025, protestos e greves explodiram no país. O estopim foi o anúncio do governo de Noboa de remover imediatamente os subsídios ao diesel para reduzir o déficit fiscal, o que fez o preço do diesel subir de US$1,80 para US$2,80 por galão.

Tendo como principal liderança a Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), os protestos refluíram após pesada repressão do governo, que resultou na morte de ao menos três civis, mais de 282 feridos, e na prisão de pelo menos 172.

Noboa foi reeleito em fevereiro de 2025, graças a uma fraude eleitoral que contou com o seu governo declarando um estado de emergência antes do segundo turno. Embora mais de 30 mil pessoas tenham sido presas desde janeiro de 2024, o governo de Noboa ainda não conseguiu reproduzir os resultados de diminuir o crime por meios ditatoriais.

Peru caminha para uma ditadura ainda mais repressiva

O país andino vive uma ditadura desde 2022, quando da vitória eleitoral de Pedro Castillo sobre a extrema-direita peruana.

Durante seu curto mandato (28 de julho de 2021 a 7 de dezembro de 2022), Castillo foi alvo de inúmeras tentativas de golpe até que ele mesmo tentou dar um golpe para evitar que fosse derrubado pelo imperialismo. Sua tentativa fracassou, ele foi derrubado, e sua vice, Dina Boluarte, assumiu a presidência.

Foi sob seu governo que foi erguida a ditadura pró-imperialista sob a qual o povo peruano vive atualmente: durante os anos de 2022 e 2023, os protestos contra o golpe foram reprimidos com extrema violência, resultando em ao menos 69 civis mortos, 1.881 feridos e 608 presos.

Como a crise decorrente do golpe nunca foi resolvida, e como a popularidade da presidente caiu progressivamente, recentemente o Congresso da República do Peru votou unanimemente para destituir Boluarte. Enquanto que as tentativas anteriores de passar seu impeachment foram lideradas pela esquerda, desta vez partidos de direita se uniram à campanha por ua remoção após um aumento da violência, incluindo o massacre no Círculo  Militar de Chorrillos

Após a derrubada de Boluarte, assumiu José Jerí, chefe do legislativo peruano. No seu discurso de inauguração, ele declarou que a nação “precisa declarar guerra ao crime”. No último dia 15 de outubro, ele declarou estado de emergência em Lima, capital do país, após terem continuado (e se intensificado) os protestos que levaram à derrubada de Boluarte.

Imperialismo se movimenta para implantar uma ditadura no Brasil 

As ditaduras em El Salvador, Equador e Peru mostram qual é a política do imperialismo para todo o continente latino-americano, em especial para o Brasil, o principal país da região: implantar ditaduras para, sob o pretexto de combater o crime-organizado e o “narcoterrorismo”, intensificar a exploração econômica dos países e sua população, bem como colocar a casa em ordem politicamente para a futura guerra mundial para a qual o imperialismo já se prepara.

Nesse sentido, cumpre informar sobre a coletiva de imprensa realizada logo após a reunião dos governadores de direito, na qual foi anunciado o “Consórcio da Paz”.

Durante a coletiva de imprensa, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UNIÃO), afirmou que a operação política “tem um único objetivo, que é a integração das forças dos nossos governos”, acrescentando que “isso dá o sentimento de que você tem uma operação interligada e não é a fronteira que vai limitar a ação do nosso policial

Comentando sobre essa integração, ele falou sobre a troca de informação entre as polícias das diferentes unidades da federação. Fazendo propaganda de seu governo reacionário em Goiás, ele afirmou que “no começo do governo, me preocupei em avançar, em poder formar 1000 homens na inteligência e a partir dali passei a ter a capacidade de antecipar o crime. Com isso, nunca mais tivemos um assalto a banco, nunca mais tivemos um assalto a carro forte, nunca mais tivemos um sequestro, nunca mais tivemos um novo cangaço, nunca mais tivemos uma invasão de terra”.

Na mesma oportunidade, Caiado reiterou que “a tese do consórcio é exatamente fazer com que todas as nossas forças integradas com base na inteligência e a parte operacional possam ser utilizadas para poder atender qualquer um dos governadores no momento emergencial, sem ter que perguntar: ‘Olha, precisa de mim?’ Não, o deslocamento já é imediato”.

Suas declarações também mostram que a operação política é voltada contra o governo Lula. Afirmando que “nós [os estados governados pela direita] não temos dificuldade na integração. Nós temos dificuldade é pela ausência do governo. Isso é total. […] Eles [do governo Lula], são totalmente complacentes e coniventes com o crime. Eles convivem bem com o crime

Ao final de suas declarações, ele afirmou que “Se queres a paz, prepara-te para a guerra. É exatamente isso que nós estamos fazendo. Este consórcio tem esse objetivo”, acrescentando que no Brasil “o Brasil tem duas opções. Se você quer ter a opção do Lula-Maduro, fique com eles. Se você quer ter a opção do [Cláudio] Castro […] nós que queremos seriedade, que queremos a lei, aí vocês ficam conosco. Esse é o divisor de água.”

Em últimas notícias, o governador do Rio, Cláudio Castro, entregou relatório ao governo Trump pedindo para que o Comando Vermelho seja classificado pelos EUA como organização terrorista.

Desde o início do segundo mandato de Donald Trump, os Estados Unidos intensificaram a ofensiva para derrubar o governo nacionalista da Venezuela, de Nicolas Maduro. Para justificar as ações criminosas do imperialismo, que pode logo mais resultar em ataques militares contra o povo venezuelano, o governo Trump vem utilizando como pretexto o combate ao “narcoterrorismo”.

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