Europa

Reino Unido também está de olho nos minerais ucranianos

Apoio temporário do imperialismo à Ucrânia será cobrado com muitos, muitos juros

Em janeiro de 2025, após Donald Trump já ter sido eleito como novo presidente dos Estados Unidos, agravando ainda mais a situação da Ucrânia, o Reino Unido e o governo de Vladimir Zelensqui assinaram um acordo de parceria de 100 anos. O acordo foi apresentado como um reforço do apoio britânico ao regime ucraniano em frangalhos, com o suposto objetivo de fortalecer laços militares, econômicos e culturais.

O imperialismo britânico, no entanto, não tem nenhum interesse em si em “fortalecer” a Ucrânia. Temporariamente, há, sim, o objetivo de aumentar a capacidade militar do país, uma vez que isso implica em uma maior capacidade do imperialismo de agredir a Rússia. Se isso se tornar inviável, o imperialismo pode rapidamente abandonar a Ucrânia e utilizar outro país para pressionar o governo de Vladimir Putin.

O objetivo do acordo, além de reafirmar que a política do imperialismo é manter a Ucrânia armada contra a Rússia, é econômico. Por meio dele, o Reino Unido, que, juntamente com os demais países imperialistas, já destruiu a Ucrânia, empurrando-a para uma guerra contra um país muito mais poderoso, quer agora se apropriar ainda mais de suas riquezas.

O acordo de parceria de 100 anos compreende:

  • Um tratado legalmente vinculativo, cujo texto foi publicado, mas que ainda não foi apresentado ao Parlamento;
  • Uma declaração política que descreve áreas específicas de cooperação prática.

A declaração política é feita com base no artigo 11 do tratado, que permite que novos acordos ou arranjos sejam feitos “quando necessário e apropriado” para implementar o acordo de parceria. Declarações políticas por si só não são legalmente vinculativas.

O acordo expande o apoio militar existente à Ucrânia, além das disposições de cooperação em segurança estabelecidas no acordo de 2024. A declaração de parceria prevê:

  • Criação de projetos conjuntos de capacidade de defesa e empresas industriais de defesa;
  • Criação de “mecanismos flexíveis de resposta rápida”, incluindo formações militares para responder a “desafios” que possam surgir em qualquer um dos países;
  • Avaliação de opções para estabelecer e manter infraestrutura militar na Ucrânia, incluindo bases militares, depósitos logísticos, instalações de armazenamento e estoques de guerra;
  • Estabelecimento de uma nova parceria de segurança marítima para garantir a segurança da navegação e a proteção do comércio no Mar Báltico, Mar Negro e Mar de Azov, incluindo cooperação operacional por meio de forças-tarefa conjuntas, quando apropriado.

A declaração política reforça o compromisso do governo de fornecer 3 bilhões de euros por ano em assistência militar até 2030 e de apoiar a Ucrânia “pelo tempo que for necessário”. Isto é, necessário para o imperialismo. Embora o acordo deixe o apoio militar de longo prazo em aberto, por exemplo, ele não compromete o governo a fornecer anualmente 3 bilhões de euros de assistência militar à Ucrânia por 100 anos.

No entanto, o tratado não obriga o Reino Unido a defender a Ucrânia em caso de agressão futura. O acordo não contém uma cláusula de defesa mútua semelhante às disposições do Artigo 5 da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Apenas estabelece que, em caso de agressão de uma terceira parte, ambos os países consultar-se-ão “dentro de 24 horas” e se comprometerão a fornecer “assistência de segurança rápida e sustentada”, equipamentos militares quando necessário e apoio econômico. Não obriga nenhuma das partes a empregar forças militares.

Certamente o mais significativo no aspecto econômico está no fato de que os britânicos se declararam o “parceiro preferencial” da Ucrânia no desenvolvimento da “estratégia de minerais críticos” do país. Essa questão, inclusive, se choca com a proposta que o presidente norte-americano Donald Trump havia apresentado para acessar os vastos recursos minerais da Ucrânia como “compensação” pelo apoio na guerra contra a Rússia. Fontes da imprensa britânica assinalaram que o fato causou atrito entre os governos anglo-saxões.

Não causa surpresa que haja uma crise em torno dessa questão. A Ucrânia possui cerca de 20.000 depósitos minerais cobrindo 116 tipos de minerais, como berílio, manganês, gálio, urânio, zircônio, metais raros e níquel. O país também possui uma das maiores reservas de grafite do mundo, as maiores reservas de titânio da Europa e um terço dos depósitos de lítio do continente. Esses recursos são essenciais para indústrias como produção militar, alta tecnologia, aeroespacial e energia verde.

O país também começou a leiloar permissões de exploração para minerais como lítio, cobre, cobalto e níquel, oferecendo oportunidades de investimento lucrativas.

Nusrat Ghani, ministra do comércio no governo de Rishi Sunak, anterior a Keir Starmer, realizou pelo menos 10 reuniões sobre o assunto de minerais críticos em 2023 e no primeiro semestre de 2024, conforme mostram os dados de transparência do governo.

Entre as empresas que ela encontrou estavam as gigantes de mineração britânicas Rio Tinto e Anglo American, além da exportadora de armas BAE Systems e lobistas da indústria aeroespacial militar, a ADS. Não está claro se a Ucrânia foi o assunto dessas discussões, mas uma outra empresa proeminente com a qual Ghani se reuniu para discutir “cadeias de suprimento de minerais” foi a Rothschilds, que tem interesses consideráveis na Ucrânia. A Rothschilds, na qual o ex-conselheiro de segurança nacional do Reino Unido, Lord Mark Sedwill, ocupa um cargo no conselho, tem nada menos que 53 bilhões de euros investidos na Ucrânia.

Algumas outras reuniões começaram a aparecer no domínio público. Em abril do ano passado, dois parlamentares britânicos proeminentes se reuniram com uma das maiores empresas de investimentos em mineração da Ucrânia, em Londres, para discutir a “parceria britânico-ucraniana no campo da mineração de minerais críticos”.

O Grupo BGV, que tem investimentos de $100 milhões em projetos de mineração ucranianos, realizou discussões com o então ministro de Energia, Lord Martin Callanan, e Bob Seely, então membro do Parlamento pelo Partido Conservador, que fazia parte do comitê de relações exteriores da Câmara dos Comuns.

O Reino Unido produziu seu primeiro Plano de Minerais Críticos em 2022 e o atualizou no ano seguinte. O plano identifica 18 minerais com “alta relevância” para o Reino Unido, incluindo vários presentes na Ucrânia, como grafite, lítio e elementos terras raras.

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