As mulheres formam a esmagadora maioria dos trabalhadores afastados por transtornos mentais no Brasil em 2024, representando 64% dos 472.328 casos registrados, segundo dados exclusivos do Ministério da Previdência Social obtidos por reportagem do portal de notícias da Globo g1. Com idade média de 41 anos e sofrendo principalmente de ansiedade e depressão, elas evidenciam um sistema de opressão ainda mais brutal no interior da classe trabalhadora, agravada por condições sociais e econômicas que o identitarismo não conseguiu sequer arranhar. O número recorde de licenças médicas, que cresceu 68% em relação a 2023, expõe a crise de saúde mental que atinge o País e o peso desproporcional sobre o sexo feminino.
Os números são alarmantes: em 2024, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) concedeu benefícios por incapacidade temporária a quase meio milhão de trabalhadores, que ficaram afastados, em média, três meses, recebendo cerca de R$ 1,9 mil mensais. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro lideram em volume absoluto, mas, proporcionalmente, Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm os maiores índices – este último agravado pelas enchentes que devastaram grande parte do estado sulista. A origem multifatorial da crise inclui o luto pós-pandemia (mais de 700 mil mortes), o estresse do isolamento, o aumento de 55% no custo de vida desde 2020 e a precarização do trabalho.
Para especialistas, a predominância feminina reflete uma sobrecarga estrutural: mulheres ganham menos em 82% das profissões (segundo o IBGE), acumulam a dupla jornada com cuidados familiares e enfrentam maior informalidade e desemprego, como apontou a revista “Lancet”. “A mulher sustenta muitas casas e, sob essa pressão brutal, colapsa. É uma tragédia econômica e social”, alerta Thatiana Cappellano, pesquisadora do trabalho. Psiquiatras como Arthur Danila, da USP, reforçam que a pandemia amplificou essa vulnerabilidade, enquanto Wagner Gattaz nota que o diagnóstico mais frequente entre elas decorre também de uma maior busca por ajuda.
Diante disso, o governo atualizou a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), do Ministério do Trabalho, para fiscalizar riscos psicossociais nas empresas, com multas previstas. Ocorre que sem pressão das entidades de luta dos trabalhadores, são grandes as chances de que as regulamentações tenham caráter fictício. A classe trabalhadora, especialmente as mulheres, segue esmagada – e a política identitária não altera essa realidade.
