Imperialismo

4/3/1960: o ataque contra o La Coubre

Cuba resistiu ao atentado e a provações muito piores, provando que a força de um povo mobilizado é maior que o terror dos opressores

Há exatos 65 anos, em 4 de março de 1960, o porto de Havana, em Cuba, foi palco de um dos mais covardes atentados da história da luta anti-imperialista na América Latina: a sabotagem do cargueiro francês La Coubre, que explodiu enquanto descarregava 76 toneladas de munições vindas da Bélgica. Duas detonações devastadoras, a primeira às 15h10 e a segunda meia hora depois, deixaram um rastro de destruição impressionante – entre 75 e 100 mortos, e mais de 200 feridos – em uma clara demonstração do terror orquestrado pelo imperialismo norte-americano contra a jovem Revolução Cubana. Lideranças como Fidel Castro, Che Guevara e Raúl Castro enfrentaram as consequências do ataque, atribuído à CIA, com o objetivo de enfraquecer a ilha e pavimentar o caminho para a invasão da Baía dos Porcos, que aconteceria dois anos depois.
Com 4.310 toneladas, o navio La Coubre atracou no cais de Tallapiedra trazendo armamentos adquiridos em Antuérpia para fortalecer a defesa de Cuba, recém-libertada do jugo do ditador fantoche dos EUA Fulgêncio Batista. Contrariando normas militares que exigiam o descarregamento de cargas perigosas no meio do porto, com transporte por barcaças, a decisão de trazer o navio diretamente ao cais veio de Raúl Castro, então chefe das Forças Armadas Revolucionárias (FAR). Às 15h10, enquanto trabalhadores moviam as caixas de munição, uma explosão inicial rasgou o ar, seguida por uma segunda ainda mais violenta, que pegou de surpresa os socorristas, entre soldados e voluntários que acudiam os feridos.
No momento do ataque, Ernesto Che Guevara estava reunido no Instituto Nacional de Reforma Agrária, em Havana. Ao ouvir o estrondo e ver a nuvem de poeira engolir a capital, correu ao porto para socorrer as vítimas. Médico por formação, Che passou horas atendendo trabalhadores e combatentes, muitos em estado gravíssimo, num esforço heróico que marcaria sua trajetória.
No dia seguinte, durante o funeral das vítimas, o fotógrafo Alberto Korda capturou a icônica imagem que ficaria conhecida como Guerrillero Heroico, com Che de olhar firme em meio à dor e à revolta. A marcha fúnebre, liderada por Fidel Castro, Osvaldo Dorticós, Augusto Sánchez, Antonio Jiménez, William Morgan e Eloy Menoyo, foi um marco da resistência cubana contra a agressão imperialista.
O governo revolucionário cubano não vacilou em acusar os Estados Unidos como o mandante da sabotagem. Documentos tornados públicos pela CIA, disponíveis hoje na internet, revelam a mão suja do regime norte-americano no caso. O ataque ao La Coubre fazia parte de um plano maior para cortar o suprimento de armas à ilha, deixando-a vulnerável a uma ofensiva que se concretizaria em abril de 1961, com a fracassada invasão da Baía dos Porcos. A Operação 40, uma rede de agentes da CIA, teria coordenado o atentado, com destaque para o envolvimento de William Alexander Morgan, um norte-americano que, sob ordens dos EUA, infiltrou-se entre os revolucionários para minar a luta cubana desde dentro.
A primeira explosão já havia causado estragos irreparáveis, mas a segunda, 30 minutos depois, foi ainda mais letal. Enquanto as FAR organizavam o resgate, centenas de voluntários se arriscavam para salvar os feridos, apenas para serem atingidos pela nova onda de destruição. Estimativas conservadoras falam em 75 a 100 mortos e 200 feridos, mas há quem diga que os números reais são muito maiores, escondidos pela fumaça da tragédia. O navio, gravemente danificado, foi levado a uma doca seca e, após reparos, voltou a navegar pela Compagnie Générale Transatlantique até 1972, quando foi vendido a uma empresa cipriota e rebatizado como Barbara.
O atentado ao La Coubre não foi apenas um ataque a um cargueiro; foi um golpe contra a soberania de um povo que, apenas um ano após a vitória da Revolução, enfrentava a fúria do imperialismo. A carga de 76 toneladas de munição era essencial para proteger Cuba das ameaças de Washington, que via na ilha um exemplo perigoso para a América Latina. A sabotagem, planejada em solo norte-americano, buscava desarmar a Revolução e abrir caminho para a reconquista capitalista. Mas o plano falhou: sob a liderança de Fidel e Che, o povo cubano transformou a tragédia em combustível para impulsionar a determinação popular por soberania.
Passados 65 anos, a imagem de Che no funeral, eternizada por Korda, tornou-se o símbolo do espírito revolucionário. Enquanto os EUA e seus lacaios continuam sua guerra contra os povos do mundo, Cuba resistiu ao atentado e a provações muito piores, provando que a força de um povo mobilizado é maior que o terror dos opressores.

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