Esquerda

Para a esquerda, ‘Xandão’ virou sinônimo de democracia e Brasil

A esquerda, que deveria lutar pelos direitos da classe trabalhadora, se apresenta como defensora do Estado burguês, elegendo como herói da democracia um indicado de Temer

Super Xandão

O artigo X, Rumble e a chantagem contra o Brasil, de Florestan Fernandes Jr., publicado no Brasil 247, mostra como parte da esquerda embarcou de vez na defesa das instituições do Estado burguês, em especial, do Supremo Tribunal Federal (STF). O Estado não é neutro, existe para defender os interesses da classe dominante. Portanto, fortalecê-lo é aumentar o poder do aparato repressivo da burguesia contra a classe trabalhadora.

Florestan Fernandes Jr. inicia o artigo afirmando:

“Estamos, mais uma vez, sob ataque à democracia. Desta vez, a soberania nacional é vilipendiada pelos ‘patriotas’.”

A indignação se deve ao fato de o ministro do STF Alexandre de Moraes estar enfrentando um processo nos Estados Unidos movido pela Trump Media & Technology Group e pela plataforma de vídeos Rumble. O processo foi aberto no Tribunal Federal da Flórida em fevereiro deste ano e acusa Moraes de censura ilegal ao discurso político de pessoas alinhadas à direita nos EUA, como o influenciador Allan dos Santos. As empresas alegam que Moraes violou a Primeira Emenda da Constituição norte-americana ao ordenar que o Rumble removesse as contas de um cidadão norte-americano.

É curioso que um processo contra um ministro do STF tenha se transformado em ataque à democracia e à soberania. Aliás, nem seria a primeira vez. Em julho de 2023, quando Moraes teve um bate-boca com uma família em um aeroporto na Itália, houve um verdadeiro alvoroço e certos esquerdistas chegaram a dizer que se tratava de um ataque à própria democracia, que tal família deveria ser toda ela presa.

Alexandre de Moraes, quando foi indicado para ser ministro do Supremo pelo golpista Michel Temer, causou indignação. A esquerda profetizou que era o fim dos tempos, o apocalipse. No entanto, passado algum tempo, esse juiz, que votou pela prisão de Lula e, com isso, ajudou a eleger Bolsonaro, se tornou o herói para a esquerda.

A imprensa burguesa é preservada

Fernandes, em seu texto, afirma que a queda na popularidade de Lula seria um efeito da ação da big techs. Diz que “em novembro do ano passado, [Elon Musk] afirmou, do alto de sua plataforma, o X, que Lula não seria reeleito em 2026. Naquele momento, o instituto de pesquisa Quaest apontava que a aprovação de Lula estava em 51% e a desaprovação atingia 45%”.

Em seguida, ele acrescenta que ainda em novembro, nas redes sociais, foi deflagrada uma onda de fake news pela extrema direita, visando desacreditar o governo federal. A mais viral delas dizia que o Pix seria taxado”.

E segue:

“Somado a isso, houve a inflação dos alimentos. A resposta foi imediata: no fim de janeiro, a desaprovação do presidente já era superior à aprovação: 49% a 47%. Agora, em fevereiro, a desaprovação subiu ainda mais, ultrapassando os 60% nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.”

Fernandes ainda afirma que “essa queda vertiginosa em menos de três meses tem todas as digitais das big techs. São elas que controlam os algoritmos de maneira política para favorecer os interesses da extrema direita. No Brasil, isso significa favorecer a vertente bolsonarista”.

Fomos obrigados a fazer essa citação longa para demonstrarmos as implicações do que está contido nesses parágrafos. Existe um apoio velado à censura nas redes e a seu cerceamento, pois a esquerda diz que a extrema direita utiliza as plataformas para espalhar “fake news”. A questão do Pix revelou que a política do governo era negativa, pois este logo recuou da medida diante de sua completa impopularidade.

Segundo o artigo, a queda da popularidade não se deve principalmente à política desastrosa do governo, mas a um somatório de “fake news” e intervenção das plataformas, que, com isso, favoreceriam o bolsonarismo. Nunca é demais lembrar que Alexandre de Moraes votou pela prisão de Lula ainda na segunda instância, o que abriu caminho para a eleição de Bolsonaro. Existe maior favorecimento que esse?

“Eles sabiam de tudo”

Florestan Fernandes Jr., em nenhum momento, cita a grande imprensa, a maior divulgadora de notícias falsas, que trabalha noite e dia para derrubar a popularidade de Lula. Essa imprensa que diz, por exemplo, que Lula não foi inocentado da absurda condenação da Lav Jato, mas “descondenado”.

A revista Veja se notabilizou por estampar em quase todas suas edições alguma crítica ao PT, Dilma ou Lula. Chegando ao absurdo de, em uma de suas capas, sugerir que assassinassem o atual presidente.

Campanha da Veja contra Lula
Campanha da Veja contra Lula

Além de omitir a influência da grande imprensa, Florestan elege como principal problema as empresas de tecnologia, não o imperialismo, que recentemente deu o golpe de 2016 no Brasil e tantos outros pelo mundo.

Indignação

Indignado, Florestan Fernandes Jr. diz que “o Departamento de Estado estadunidense alega que ‘bloquear o acesso à informação e impor multas a empresas sediadas nos EUA por se recusarem a censurar indivíduos que lá vivem é incompatível com valores democráticos, incluindo a liberdade de expressão’. A questão, porém, não é essa. As decisões de Moraes se restringem às publicações feitas pelo foragido da justiça brasileira, Allan dos Santos, na plataforma de vídeos Rumble no Brasil”.

Ocorre que as decisões de Moraes, além de serem inconstitucionais, pois Allan dos Santos tem direito de se expressar, de fato ferem a soberania dos EUA. O que o jornalista acharia se os norte-americanos tentassem multar empresas brasileiras de comunicação que apresentassem vídeos de, por exemplo, Julian Assange?

O jornalista alega que “é necessária e urgente a firme defesa das instituições, que são os alicerces da nossa república”. Mas não, a esquerda não tem que apoiar as instituições do Estado, princialmente o STF, responsável pela verdeira ditadura judiciária que se instaurou no Brasil.

Fernandes diz que é “indispensável que seja reavivada a indignação nacional, a repulsa ao golpismo, que tanto nos inflamou logo após os atos golpistas do 8 de janeiro”. Mas, quanto aos golpistas de 2016, tudo certo? Nunca é demais lembrar que Dilma foi golpeada pelas instituições, “com Supremo, com tudo”.

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