Indústria nacional

Judiciário determina penhora de ações da Avibrás

Dois dias depois da decisão, trabalhadores realizaram uma manifestação na frente da casa do presidente da empresa, exigindo pagamento de seus salários atrasados

Na última terça-feira (25), a Justiça determinou a penhora das ações da Avibrás que estão no nome da empresa Rocket Bridge. A decisão foi feita pela 37ª Vara Cível de São Paulo. João Brasil Carvalho Leite era detentor de 94% das ações da Avibrás, mas transferiu essas ações para a Rocket Bridge no ano passado. Ele é dono da Rocket Bridge e diretor-presidente da Avibrás.

A decisão de penhora foi tomada a pedido do “Fundo de Investimentos Brasil Crédito”, o qual cobra uma dívida de R$187 milhões de João Brasil. A Avibrás informou que vai recorrer da decisão e que a medida não compromete o processo de entrada de nenhum investidor.

A Avibrás Aeroespacial, fundada em 1961 por engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos, é a principal representante da indústria bélica do País. Pioneira no setor aeroespacial nacional, a empresa desenvolve tecnologia para as áreas de Defesa e Civil.

A empresa atua tanto no mercado nacional quanto internacional. Foi uma das primeiras companhias brasileiras a fabricar aeronaves e a projetar veículos espaciais para usos tanto civis quanto militares. Entre suas atividades, destaca-se o desenvolvimento de motores de foguetes para as forças armadas, entre outros projetos estratégicos.

No início de 2022, a empresa pediu recuperação judicial alegando uma dívida de R$600 milhões. Em setembro deste mesmo ano, os seus trabalhadores entraram em greve por conta dos atrasos nos salários. No ano seguinte, a Avibrás tem seu pedido de recuperação aprovado. Em abril de 2024, anunciou que negociava a venda para a empresa australiana Defendtex, entretanto, em junho, a Defendtex desiste da compra.

Ainda em junho, o Ministério da Defesa informou que a Avibrás havia recebido nova proposta, desta vez de um possível investidor chinês. As negociações também não vão até o fim. Em outubro de 2024, a Avibrás afirmou que negociava com um grupo de investidores brasileiros – não revelados pela empresa.

No início de dezembro de 2024, o grupo de investidores desiste de adquirir a empresa aeroespacial e de defesa. Em documento, os investidores informaram que “não foram cumpridas as condições precedentes consideradas como essenciais ao fechamento do negócio dentro do prazo estabelecido em contrato”.

Antes da desistência da compra da Avibrás, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos havia definido que os trabalhadores da empresa só iriam votar a proposta apresentada pelos investidores após a conclusão da compra da companhia pelos investidores.

Em 28 de novembro, os investidores apresentaram uma proposta final à categoria. A proposta continha uma data para o reestabelecimento do plano de saúde, pagamento do 13° de 2025 no dia 20 de dezembro, pagamento do salário de dezembro no dia 30/12/2024, extensão das cláusulas sociais do Acordo Coletivo até a data-base 2026, estabilidade do emprego até 30 de abril de 2025 aos empregados que assinarem termo de anuência e voltarem a prestar serviços para a Avibrás e abono de R$4 mil, pagos em duas parcelas, ao trabalhador que retornar ao trabalho.

A proposta também determinava o pagamento individual dos saldos de salários, 13º salários e férias, em até 13 parcelas, com início previsto para janeiro de 2025.

O documento também mencionava que seriam realizados pagamentos individuais referentes às multas normativas e inibitória. O valor total dessas multas corresponderia à atualização dos saldos salariais, 13º salários e férias atrasadas, com base na variação do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) acrescido de 2% ao ano, entre a data de vencimento da obrigação e a data do acordo. Esses valores seriam pagos de forma indenizada, em duas parcelas iguais e sucessivas, a primeira em fevereiro e a segunda em março de 2026. Conforme a proposta, a Avibrás disponibilizaria os valores individuais das multas a cada trabalhador.

Dois dias depois da apresentação da proposta, durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, o sindicato declarou que a votação da proposta dependeria do fechamento do negócio, a fim de evitar criar expectativas entre os trabalhadores.

Em janeiro deste ano, a Justiça determinou que a Avibrás realizasse uma assembleia geral junto aos credores para tratar da atual situação da empresa e detalhar o cumprimento do plano de recuperação judicial. O pedido foi feito pela Brasil Crédito – a qual tem mais de 25% do valor total dos créditos da classe – e acatado pelo juiz Matheus Amstalden Valarini, da 2ª Vara Cível de Jacareí.

Na decisão, o juiz citou que “há relatos da existência de interessados na operação e em ativos da recuperanda [Avibrás], o que pode ser discutido pelos credores”.

A decisão não determinou uma data para a assembleia, apenas quais pontos a Avibrás precisará esclarecer, como as providências adotadas para o cumprimento do plano de recuperação; o projeto de negócios a ser implantado para retomar as atividades; e os meios viáveis para buscar o erguimento da empresa.

Em uma nota, a Avibrás informou que “tem todo o interesse em acatar a determinação judicial para realização da assembleia, de acordo com o princípio de transparência que vem imprimindo ao processo de Recuperação Judicial”.

A nota continua dizendo que “a assembleia não tem o intuito de deliberar sobre qualquer questão, e sim esclarecer aos credores sobre a atual situação da empresa e as soluções em andamento para sanar a crise financeira. A companhia prossegue em tratativas avançadas com investidores para liquidar as pendências financeiras e retomar as operações com brevidade”.

A Avibrás informou que a assembleia será realizada no dia 11 de março, que irá recorrer da decisão que penhorou as ações e que a medida não compromete o processo de entrada de um investidor.

Nesta quinta-feira (27), dois dias após a decisão da 37ª Vara Cível de São Paulo, os trabalhadores da Avibrás protestaram em frente ao prédio onde mora João Brasil. Os trabalhadores reivindicam o pagamento dos 22 salários atrasados, além de uma solução para a crise da empresa.

A manifestação foi organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região. O ato teve início por volta das 11h30 e durou cerca de meia hora. Com faixas, apitos e cartazes, os manifestantes seguiram para a portaria do prédio, após votação em assembleia realizada mais cedo, na sede do Sindicato.

Os trabalhadores entoavam gritos de protesto, entre eles: “ô, João Brasil, seu caloteiro, cadê o meu dinheiro?”.

“O nosso objetivo foi mostrar para a população quem é o verdadeiro culpado por todas as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores da Avibras, e o nome dele é João Brasil. O protesto foi pacífico e repercutiu no bairro e nos grupos dos condomínios. Assim, conseguimos expor com mais proximidade a situação desses metalúrgicos”, disse o presidente do sindicato, Weller Gonçalves.

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