Acordo de cessar-fogo

PSTU admite ser contra revoluções de verdade

Partido acredita em vitórias dos oprimidos sem o derramamento de sangue

Uma semana desde o anúncio do governo do Catar de que “Israel” e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) entraram em um acordo de cessar-fogo, o jornal Opinião Socialista, do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), só foi capaz de publicar um único artigo analisando este que é um dos mais importantes acontecimentos de todo o século XXI. E este único artigo, por sua vez, é uma coisa grotesca.

Estamos falando do texto Cessar-fogo em Gaza: Uma conquista palestina parcial a um custo humano incalculável, publicado no dia 17 de janeiro e assinado por um tal Fábio Bosco. Em seu título, o PSTU já entrega qual seria a sua opinião: o cessar-fogo não teria valido à pena.

Afinal, pouco importa se os palestinos conseguiram, lutando praticamente sozinhos, praticamente sem armas, derrotar o conjunto do condomínio imperialista. Pouco importa se o Estado de “Israel”, outrora apresentado como invencível, saiu humilhado. Para o PSTU, forçar “Israel” recuar não seria de fato uma vitória, pois teria morrido muita gente.

O PSTU pode não ter se dado conta, mas não há revolução em que não morram pessoas. E morrem muitas, muitas pessoas. Estima-se que a Guerra Civil Russa, que durou entre 1918 e 1921, tenha causado a morte de cerca de cinco a 10 milhões de pessoas. Uma pergunta para o PSTU: a luta dos bolcheviques não valeu à pena? E a luta dos vietnamitas, que só conseguiram derrotar os norte-americanos após verem mais de quatro milhões tombarem?

A conclusão a que somos forçados a chegar, se levarmos a sério o que diz o PSTU, é que não vale a pena lutar. Só vale a pena quando há garantias de que a luta será vitoriosa e de que não haverá custo humano. É absurdo. O PSTU mostra que não faz a menor ideia do que seja o imperialismo, caindo em um reformismo infantil. Para a agremiação morenista, portanto, é possível vencer o imperialismo sem violência. É possível derrotar o opressor sem esperar dele uma reação. É uma tese de simpatia com o opressor.

A bondade do imperialismo e do sionismo, segundo o PSTU, é tanta que a matéria indica que “Israel” desistiu da guerra por conta própria. Isto é, que não houve uma Resistência à altura. Diz o artigo:

“[…] 70% de todos os edifícios, incluindo escolas e hospitais, foram destruídos. Apesar do enfraquecimento, a resistência palestina recrutou novos membros e realizou ataques com armas e facas contra soldados israelenses em Gaza.”

Como seria possível conquistar a paz se a Resistência estaria enfraquecida? Ou a Resistência teria se rendido de maneira humilhante, o que não aconteceu, ou simplesmente o imperialismo decidiu acabar com a guerra porque desistiu de oprimir os palestinos. Voltamos, então, à tese do PSTU do opressor sensível, que abre mão de suas ditaduras sem “custos humanos incalculáveis”.

Em determinado momento, o PSTU chega a, literalmente, afirmar que partiu do imperialismo a iniciativa para acabar com a guerra:

“O presidente Joe Biden, incansável fornecedor de armas para o genocídio em Gaza, Cisjordânia e Líbano, declarou que sua administração foi responsável pelo cessar-fogo porque forçou o Hamas a aceitá-lo dentro do contexto de uma nova configuração do Oriente Médio, com o enfraquecimento do Hezbollah e a queda de Bashar al-Assad.”

O PSTU, em sua insistência em creditar o cessar-fogo à iniciativa do imperialismo, expõe que não tem absolutamente nada de revolucionário. Curiosamente, a fé do partido na benevolência do sionismo e do imperialismo vem justamente no momento em que há uma revolução em curso. O cessar-fogo, ao contrário do que diz o PSTU, foi uma vitória da Resistência Palestina – uma vitória que só poderia acontecer em meio a uma revolução.

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