Redes sociais

A liberdade de expressão fortalece a extrema direita?

Censura defendida esquerdistas fortalece o imperialismo que administra melhor a crise, a extrema direita que convence ao se mostrar perseguida pelo sistema. Todos, menos a esquerda

Assinada por Taís Roldão, a matéria Como as mudanças de política na Meta fortalecem Trump e a extrema-direita internacional?, publicada no último dia 10 no portal psolista Esquerda Online, defendendo que as medidas de relaxamento da censura nas redes sociais da empresa Meta anunciadas por seu dono, o bilionário norte-americano Mark Zuckerberg, não são “só uma mudança em nosso cotidiano no mundo virtual”, mas também, “uma ofensiva política à nível internacional e com um projeto político muito claro: fortalecer a extrema-direita, atacar nossos direitos e lucrar com nossas vidas – e dados”. Diz o artigo assinado por Roldão:

“Zuckerberg afirma que os verificadores, ou pessoas responsáveis por verificar as informações, se mostraram excessivamente tendenciosos politicamente, e agora, como solução, o bilionário vai ‘eliminar restrições em tópicos como imigração e gênero’. Ou seja, se anteriormente, mesmo não sendo permitido discurso de ódio nessas plataformas, as redes sociais já são lugar de perseguição política, racismo e LGBTfobia, agora Zuckerberg passa a permitir, agravando o papel da internet na organização do ódio contra as minorias.”

As redes sociais, de fato, “já são um lugar de perseguição política”, porém a solução proposta pela colunista de Esquerda Online não implicam em por um fim à perseguição, mas acentuá-la. Finalmente, foi o combate ao “ódio contra as minorias” que permitiu, por exemplo, a censura em escala industrial de informações sobre os crimes cometidos pela ditadura sionista contra o povo palestino.

No mundo mágico de Roldão, a censura seria uma solução para o problema identificado, porém na prática, como a própria autora reconhece, “perseguição política, racismo e LGBTfobia” continuaram acontecendo nas redes sociais. O que mudou foi que perseguição política passou a incluir aqueles que defendem a Palestina e a Resistência no Mundo Árabe.

Como que para tirar a colunista de Esquerda Online de seu sonho cor-de–rosa, o Youtube, plataforma de transmissão de vídeos do Google, desmonetizar e tirou do ar o canal do órgão maoísta A Nova Democracia. O ataque contra a organização de esquerda brasileira ocorreu no último dia 15, segundo as vítimas, em decorrência da política de defesa da Palestina do canal. Eis o resultado concreto da defesa da repressão de determinadas ideias políticas: uma vez normalizado que a censura pode ser aplicada, ela será e suas consequências mais nefastas se darão contra a esquerda. Avançando no tema, Roldão diz ainda:

“Ao dizer em seu vídeo que países da América Latina possuem tribunais secretos e que a Europa vem institucionalizando a censura, Mark Zuckerberg continua a movimentação de Elon Musk de deslegitimar nossa democracia e a de qualquer país do mundo que ouse contradizer os mandamentos neoliberais que este trouxe em seu vídeo, questionando até mesmo os países europeus – que têm a legislação mais avançada em termos de proteção de dados. Nossas democracias se encontram ameaçadas, mais uma vez.”

Em primeiro lugar, qual a mentira dita por Zuckerberg ao dizer que a América Latina tem “tribunais secretos”? Ora, o Inquérito das Fake News empreendido pelo ministro Alexandre de Moraes é efetivamente um “tribunal secreto”, algo que todos com alguma experiência na perseguição política empreendida por Morais constataram. Roldão e o Esquerda Diário podem argumentar não ter ciência desse fato porque como mostra o posicionamento no artigo, não são opositores do imperialismo, pelo contrário.

A leitura atenta mostra que o artigo está defendendo exatamente o que o imperialismo defende nos seus principais instrumentos de propaganda no País, O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, além dos monopólios de imprensa dos EUA e da União Europeia. Motivos para o imperialismo defender a censura não faltam.

Com a crise mundial se aprofundando a um ritmo inédito, o controle das informações é primordial para evitar a explosão de movimentos de contestação da ditadura global, como aconteceu com os estudantes dos EUA e do Canadá, em apoio à Palestina, e também nos protestos em massa ocorridos na Europa, onde confrontos com a polícia são registrados. Isso é o que o imperialismo tem em mente ao promover a censura “do bem” defendida pelo PSOL. O fato é que a colocação de Zuckerberg é verdadeira e exatamente por isso, é problemática para o imperialismo e para os papagaios de pirata que se prestam a ser o braço esquerdo da política dos monopólios.

Ainda, dizer que a denúncia de Zuckerberg “deslegitima nossa democracia” é um atestado de subserviência ideológica e política do PSOL ao imperialismo. O que a autora chama de “democracia” é um regime político que tem como características principais: 

“O genocídio dos povos indígenas, que vêm sendo cada vez mais atacados em suas terras pelo avanço da tese do marco temporal; do povo negro pelas mãos da polícia; incita crimes de ódio contra a população LGBTQIAPN+ e aumenta o índice de feminicídio; que quer restringir ainda mais o direito ao aborto legal, seguro e gratuito no nosso país; que quer flexibilizar nossos direitos conquistados em anos de luta dos trabalhadores.”

O parágrafo mostra que Roldão sequer prestou atenção ao que escreveu. Sendo essa a realidade do País, o que uma organização verdadeiramente interessada na luta dos trabalhadores, do índios, dos negros, das mulheres e da comunidade LGBT deveria lutar é pelo aumento da liberdade de expressão, para assim, poder denunciar os crimes que os setores oprimidos do Brasil sofrem, especialmente à luz do fato de que a censura não produz nenhum efeito positivo para esses.

Não é o que os paulistas defendem porque como demonstrou Roldão no parágrafo anterior, é a defesa da “democracia” o que os mobiliza, o que traduzido para o português real, significa a defesa do regime imperialista. O imperialismo, portanto, é o que Esquerda Online realmente defende.

Com isso em mente, ao apontar o fortalecimento da extrema direita, o artigo não o faz como o presidente venezuelano Nicolás Maduro, que enfrenta a extrema direita golpista em uma batalha que no aspecto social, é contra o imperialismo. Já Esquerda Online atua contra a extrema direita, porém alinhado à ditadura mundial, como instrumento da pressão dos setores mais poderosos da burguesia contra o setor mais frágil (porém mais numeroso) dessa classe social, que no Brasil e nos países desenvolvidos, se faz representar pela extrema direita.

Por essa razão, Esquerda Online tergiversa, mas não diz como a censura beneficiaria os trabalhadores e os demais setores oprimidos da sociedade. Apenas dá de barato que com a censura, a base da esquerda estará protegida (por quem?) o que é falso, não produz nada além de desmoralização e desmobilização. Com isso claro, a censura defendida por Esquerda Online fortalece o imperialismo, que consegue administrar melhor a crise, e a extrema direita, que consegue convencer ao se mostrar perseguida pelo sistema odiado, enfim, fortalece a todos, menos a esquerda.

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