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HISTÓRIA DA PALESTINA

O Espinho e o Cravo, a obra do revolucionário Iahia Sinuar

Livro do mártir revolucionário palestino foi censurado no Amazon e, 20 anos após lançamento, ainda não está disponível no Brasil

O livro Thorns and Carnations (O Espinho e o Cravo, em tradução livre) escrito pelo ex-líder do Hamas morto em combate com tropas sionistas Iaia Sinuar, permanece inédito em português. No sítio da loja virtual norte-americana Amazon, a obra foi retirada devido à pressão da ditadura sionista. No entanto, é possível compreender sua importância a partir do artigo publicado no sítio pró-Palestina Mondoweiss, intitulado The philosophy of Hamas in the writings of Yahya Sinwar (A filosofia do Hamas nos escritos de Iaia Sinuar).

O artigo destaca como a novela de Sinuar funciona tanto como uma narrativa ficcional quanto um espelho da filosofia política e militar do líder palestino. Publicada em 2004, a obra transporta o leitor para a conjuntura da ocupação e da resistência palestina, ao mesmo tempo que revela as bases ideológicas do Hamas, que Sinuar ajudou a moldar.

Ao longo da novela, o líder martirizado aborda questões profundas, como autodeterminação, fé islâmica, ascetismo e a construção da identidade nacional palestina. Para entender a política do líder do Hamas, a obra oferece um olhar sobre como a resistência à ocupação é central não apenas para a sobrevivência física dos palestinos, mas também para a preservação e fortalecimento de sua cultura e identidade. O livro entrelaça a realidade brutal da ocupação com uma visão filosófica que moldou a postura de Sinuar como líder político e militar, permitindo uma compreensão mais profunda de suas ações e decisões enquanto chefe do Hamas em Gaza.

Iaia Sinuar passou 23 anos preso, tendo emergido como um dos principais líderes militares do Hamas, combinando sua experiência de encarceramento com uma habilidade estratégica refinada. Hanin Oudallah, autora do artigo de referência, argumenta que compreender Sinuar requer um estudo que transcende a mera ação militar e busca uma análise detalhada do programa da resistência palestina. O lema “temos que entrar na cabeça de Sinuar”, amplamente destacado pelo sionismo após a ascensão de Sinuar ao comando do principal partido da Revolução Palestina, revela também sua reconhecida capacidade como organizador tanto da resistência armada quanto das estruturas políticas internas do Hamas. Segundo Mondoweiss:

“A novela conta uma história que começa em uma casa em um campo de refugiados em Gaza e que moldará os valores e as escolhas dessas crianças, que crescerão e se tornarão figuras ativas e importantes no Movimento de Resistência Islâmica. A história então se expande para incluir parentes, vizinhos, o povo do campo, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e o restante das terras ocupadas, onde cada personagem forma uma pedra que constrói a experiência do Movimento de Resistência Islâmica naqueles anos.”

O momento é a ocupação israelense pós-1967. Baseado em um primo do líder revolucionário, o personagem central se chama Ibrahim e simboliza a luta por autodeterminação em um ambiente de ocupação. Ibrahim, assim como o próprio Sinuar, percebe que a verdadeira liderança deve emergir de um compromisso inquebrantável com a causa. Esse comprometimento não se restringe à resistência armada, mas se expande para o desenvolvimento pessoal, intelectual e espiritual, que é fundamental para moldar uma resistência forte e resiliente. Ao longo da narrativa, Sinuar deixa claro que a luta palestina é tanto uma batalha contra o inimigo externo quanto um esforço para fortalecer o espírito interno de seu povo.

No artigo sobre a novela de Iaiá Sinuar, é destacado que a trajetória de Ibrahim, o protagonista, reflete a visão de autodeterminação como base para a resistência. O conceito de “autoamadurecimento” aparece como central, com Ibrahim aprendendo a se responsabilizar por seu próprio destino como condição para a liberdade coletiva, como destaca Oudallah:

“A transcendência de Ibrahim, conforme percebida pelo narrador, está ligada ao conceito de ser ‘feito por si mesmo’ (The self made individual, no original em inglês), que aparece em duas instâncias. No primeiro caso, o narrador observa que a natureza autodidata de Ibrahim lhe concedeu uma forma de soberania sobre si mesmo e um senso de propósito. ‘Ele até se tornou um construtor profissional; aprendeu o ofício com seu amigo e eles se tornaram sócios, empregando um trabalhador para ajudá-los, assumindo contratos de construção de médio porte. Ficou claro que a natureza autodidata de Ibrahim estava fazendo dele um homem.’”

Essa filosofia reflete as crenças de Sinuar, para quem a capacidade de moldar a própria vida é o primeiro passo para desafiar a opressão. Continua o artigo de Mondoweiss:

“Um dia, um xeque, também chamado Ahmad, passa pelos jovens e adolescentes do acampamento que estão vagando pelas ruas e passando o tempo brincando. Ele os adverte contra a diversão inútil e os incentiva a se envolverem em oração, adoração e contemplação, ‘ligando tudo isso ao futuro do Islã, cuja bandeira deve ser erguida na terra da Palestina’. O xeique passa então décadas com eles, incutindo valores islâmicos que promovem o ascetismo e a renúncia aos desejos mundanos em favor da vida futura, criando uma geração ‘capaz de sacrifício e abnegação.’”

O sacrifício é um tema recorrente na obra, com Ibrahim abrindo mão de oportunidades pessoais em prol da comunidade, o que o transforma em um símbolo de resistência. Sua escolha de permanecer em Gaza para construir a Universidade Islâmica, em vez de buscar educação no exterior, ilustra a importância da educação como ferramenta de resistência, destacada por Sinuar na novela:

“O narrador diz: ‘Isso me invadiu com um sentimento de conforto… Será que isso é amor? (…) Mais tarde, eu me contentei em vê-la partir para a universidade de longe, sem aspirar a mais do que isso, nem mesmo um olhar. Para mim, bastava amar, e bastava que ela entendesse isso muito bem’. Assim, Ahmad se contenta em conhecer o amor em seu mundo, adiando sua realização até o momento apropriado, quando poderá pedi-la em casamento como foi ‘criado desde a infância’. Ele não sente a necessidade de amor só porque é o ‘Amor’ do qual sempre ouviu falar.”

Outro ponto explorado no artigo é a relação entre Ibrahim e seu irmão, Hassan, que simboliza o conflito entre o interesse individual e a resistência coletiva. Enquanto Hassan busca a autossalvação, Ibrahim assume o papel de líder ao criar um sistema de segurança que protege a resistência, ressaltando a importância da inteligência tática na luta pela liberdade.

Por fim, a obra enfatiza a interconexão entre o Islã e a autodeterminação palestina. A disciplina espiritual e física, inspirada pelos ensinamentos islâmicos, é vista como essencial para a ascensão política e a continuidade da resistência. Para Sinuar, a jihad (“guerra santa”, em árabe) é mais do que uma guerra física, é um esforço ideológico e espiritual pela libertação e pela conexão profunda com a terra e a fé palestina:

“Enquanto a filosofia do self-made individual engloba uma condição para a elevação, que é a seriedade e o comprometimento com a busca, ‘os self-made individuals olham para suas metas com respeito e crença, e levam a questão de alcançá-las com a maior seriedade, sem concessões. Eles simplesmente se comprometem com o que devem fazer para alcançá-los’ . Aqui, a ‘extraordinária conexão entre religião e nacionalismo’ alcança essa seriedade por meio da obrigação da jihad, ou guerra santa, imbuindo a causa nacional com santidade e, assim, plantando no indivíduo a seriedade estrita necessária para alcançá-la, como afirma o narrador: ‘Para que a batalha tome sua verdadeira dimensão e atinja o padrão exigido’.”

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