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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

Rapaziada!, um filme russo sobre a paternidade

"Os homens devem ter coragem de cuidar de crianças sozinhos"

No final de semana passado, assisti pelo canal do CPC-Umes no YouTube (aliás, recomendo muito) a um filme russo de 1981 chamado Rapaziada!.

É uma produção do estúdio Mosfilm, dirigida pela cineasta e roteirista Iskra Babich e que obteve menção honrosa no Festival de Berlim do ano seguinte.

É uma interessante representação da URSS daqueles anos. Conta a história de Pável Zubov (Alexander Michailow) que, próximo de completar 40 anos, encontra-se no dilema de assumir a paternidade de três crianças.

Anos antes, Pavel havia deixado a vila camponesa onde foi criado. Ele volta como um homem urbano e moderno para descobrir que é pai de uma menina de 14 anos e que esta tem mais dois irmãos pequenos. A mãe, uma antiga namorada, havia morrido.

Como nas boas novelas, todo o conflito se estabelece pelo fato de que a mãe de Pavel criou uma mentira sobre a reputação da falecida e ele decidiu abandoná-la.

Encontrando seu passado e diante da verdade, o solteirão vive o dilema em assumir ou não as crianças, ameaçadas de serem separadas e enviadas para orfanatos pela burocracia do conselho tutelar.

Ao final, uma surpresa muito interessante. Pavel assume as crianças e as leva para a região da empresa onde trabalha. Com tamanha responsabilidade, o filme termina com uma mensagem positiva: os colegas – todos homens – se oferecem para ajudá-lo.

Aí está a generosidade do filme. É uma discussão sobre o papel dos homens na criação de crianças. Durante a mudança, o personagem busca a presença de uma mulher para dividir a tarefa, contudo, sem conseguir, ele vai adiante.

A solidariedade dos amigos, todos trabalhadores, é ponto forte nesse final feliz. O objetivo da cineasta foi o de inverter o que normalmente é situação corriqueira para as mulheres, que são as responsáveis pelas crianças na sociedade (e com o cuidado dos idosos, também).

Ela consegue fazer um filme que levanta a discussão sobre paternidade e maternidade, mas que passa longe do estereótipo de gênero e de identidade que temos hoje.

Mais do que isso, em uma semana em que assistimos debates absolutamente débeis e hipócritas tomarem a pauta nacional em relação ao direito incontestável das mulheres ao aborto seguro no SUS, ver um filme russo que mostra que os homens podem e devem ser responsáveis pela criação das crianças é um alento.

Mostra também o quanto perdemos com o fim da União Soviética. Que esses tempos voltem. Pelo bem de todos nós.

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