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Conmebol

Racismo nos estádios: colonização identitária da América do Sul

Confederação decidiu adotar os mesmos critérios do Campeonato Espanhol, La Liga, a partir das quartas-de-final da principal competição sul-americana

Iniciadas na semana que passou as partidas das quartas-de-final das duas competições sul-americanas de futebol, a Sulamericana e Libertadores, a CONMEBOL, entidade que organiza o esporte na América do Sul, decidiu adotar medidas para “combater o racismo” nos estádios. Os dez países filiados à confederação aprovaram a recomendação da Fifa para que atletas, árbitros e as comissões técnicas cruzem os braços para denunciar práticas racistas.

No início de 2023, a CONMEBOL decidiu elevar a multa para casos de racismo para US$ 100 mil. No ano passado, a confederação também assinou um acordo de cooperação com o Observatório da Discriminação Racial do Futebol. Na segunda-feira passada, a entidade multou o San Lorenzo, da Argentina, em US$ 420 mil (cerca de R$ 2,5 milhões) por caso de racismo de uma torcedor durante parte contra o Atlético Mineiro, pelas oitavas-de-final da Copa Libertadores no mês passado. A multa foi maior do que o previsto por se tratar do segundo caso de racismo de um torcedor do San Lorenzo neste ano.

O novo procedimento, iniciado nas quartas, prevê que cruzar os braços seja parte do mecanismo para denunciar. A partir de denúncia, as etapas do procedimento prevêem, primeiro, a interrupção do jogo. Caso continuem as ofensas raciais, o jogo será temporariamente suspenso e os jogadores e árbitros abandonaram o campo. Se, mesmo assim, continuar durante a parada temporária, a partida será suspensa.

O procedimento elaborado pela Fifa, e adotado em todas as suas competições, foi recentemente adotado pelo Campeonato Espanhol, La Liga, onde os casos de racismo têm sido recorrentes, especialmente contra o principal jogador brasileiro em território espanhol, Vinícius Júnior, do Real Madrid.

Os comportamentos racistas, principalmente contra os brasileiros, nas competições sul-americanas são recorrentes, sem dúvidas. Data já da década de 1910 em que jogadores e torcedores brasileiros passaram a ser chamados de “macaquitos” pelos argentinos, o que era (e, em menor medida, ainda é) recorrente na imprensa oficial do país. Fora do continente, isso é ainda mais recorrente. Jogadores como Daniel Alves, Neymar, entre outros, também foram vítimas de ataques de torcedores rivais.

No entanto, a medida adotada pela Fifa é uma fraude. Primeiro, pois não resolve nada o problema do racismo, impregnado nos países europeus e, em menor grau, na América do Sul. Segundo, considerando a ofensa racial como um crime previsto na lei, é uma medida arbitrária anti–democrática, pois cria uma pena coletiva (ao clube) por um crime individual (de um torcedor). Terceiro, o próprio crime em si é um ataque à liberdade de expressão dos torcedores.

Ora, se o racismo é tão frequente nos estádios de futebol, isso é apenas a representação da opressão do negro na sociedade capitalista. O racismo é a expressão ideológica de uma opressão real dessa parcela da população mundial. Não apenas contra os negros — vítimas mais afetadas pelo racismo —, mas contra os povos oprimidos do mundo inteiro.

O caso dos jogadores brasileiros, nesse sentido, é emblemático. Branco ou negro, todos os atletas do País são vistos como bárbaros imorais aos olhos dos europeus, que lucram com eles, mas buscam apresentá-los como “pecadores”, seres inferiores que precisam ser adestrados. Por isso, mesmo tendo o melhor futebol do mundo, os técnicos europeus falam, recorrentemente, em “corrigir” os “vícios” do futebol brasileiro — criativo e de improviso — dos nossos jovens atletas.

No entanto, a simples constatação disso não explica por que devemos nos colocar contra a coibição do racismo nos estádios. Aliás, essa prática também tem sido exercida em relação aos “gritos homofóbicos”, como vimos na partida entre Corinthians e São Paulo no ano passado, paralisada temporariamente após torcedores do Timão chamarem os jogadores e torcedores do Tricolor Paulista de “veados”.

A oposição à política contra o racismo e a homofobia dos estádios, naturalmente, não é resultado de uma defesa do racismo e da homofobia, o que não condiz com uma política revolucionária. É por entender que, primeiro, a liberdade de expressão deve ser irrestrita. Quando se impõe o que se pode ou não falar nos estádios, o ataque é contra a livre expressão dos torcedores.

É claro… os argumentos para a censura sempre são os melhores possíveis: “contra o racismo”, “contra a homofobia”, etc. Mas o que vemos é que isso tem sido usado para reprimir qualquer tipo de expressão indesejada, principalmente as políticas. No Brasil, por exemplo, uma torcida organizada do Flamengo foi reprimida por levar uma faixa contra a ditadura militar durante a comemoração do 59º aniversário do golpe no Brasil. Em outros países, torcedores têm sido proibidos de adentrar nos estádios com bandeiras da Palestina, em defesa da luta do povo árabe contra o genocídio realizado pelo Estado de “Israel”.

Segundo, por entender que é uma aberração jurídica todo um clube de futebol ser punido pela prática de um ou outro torcedor. A imprensa golpista defende, inclusive, que clubes possam ser penalizados com perda de pontos (e até expulsão) nos campeonatos: um sonho para o grande capital imperialista que visa manipular os resultados do futebol mundial em prol de seus interesses.

A adoção dos métodos da Fifa e da La Liga pela Conmebol — e pela CBF, que anunciou procedimento parecido no ano passado — não passa de uma nova colonização da América do Sul; um neocolonialismo identitário, isto é, baseado na política do Partido Democrata norte-americano. Os estádios devem ser livres, abaixo a censura, abaixo a repressão!

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