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Editorial

Um erro muito grave em um momento muito perigoso

Capitulação no caso das eleições venezuelanas acontece em meio a uma nova ofensiva golpista contra a América Latina, que inevitavelmente chegará ao Brasil

A política do presidente Lula sempre foi a de tentar se equilibrar entre dois interesses antagônicos: os interesses do povo brasileiro e os interesses dos vampiros de Wall Street. Em seus três mandatos, o petista ficou marcado pela política de “uma mão no cravo e outra na ferradura”. Tanto foi assim que ele mesmo se orgulha de dizer que, ao mesmo tempo em que criou alguns programas sociais importantes, “nunca antes na história desse País” os bancos ganharam tanto dinheiro. Lula é o homem cuja vitória eleitoral de 2022 foi celebrada pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e que foi, ao mesmo tempo, afagado por delinquentes políticos como o presidente francês Emmanuel Macron.

Essa política, no entanto, sempre se mostra completamente inviável nos momentos de grande crise. E esse momento chegou.

O imperialismo está em uma situação na qual não pode tolerar a mínima divergência com os seus planos para a dominação mundial. Humilhado no Afeganistão e parcialmente derrotado na Ucrânia e na Palestina, os Estados Unidos nunca estiveram tão enfraquecidos. E, por isso mesmo, nunca estiveram tão perigosos.

Toda a política dos Estados Unidos está voltada para a guerra. A censura atingiu a níveis inéditos, em todos os países, com banimentos de pessoas na Internet, fechamento de jornais e sanções à imprensa de países inteiros. Ao mesmo tempo, multiplicam-se os golpes de Estado. Na América Latina, a orientação que vem de Washington já está clara: é preciso estabelecer governos que sejam completos capachos do imperialismo. É preciso um Javier Milei para cada país na região considerada como um “quintal” pelo imperialismo.

É por isso que a política de Lula se tornou impossível. O imperialismo não está disposto a nenhum acordo. Está disposto até mesmo a invadir a Venezuela, caso seja necessário, para remover o único regime político progressista da América do Sul. Se é assim em um país cuja população deverá reagir de armas na mão a uma tentativa de golpe, o que dirá do Brasil? O que dirá de um país em que o presidente não tem controle nem mesmo de seus ministros e que é sabotado pelo Banco Central, pelo Congresso e pelo Judiciário?

Lula, ao não reconhecer a eleição de Maduro e a tecer críticas ao regime, está deixando o caminho livre para que o imperialismo siga com seu plano para a América Latina: a derrubada de governos progressistas. Essa política não irá tornar o imperialismo “grato” a Lula, mas sim ainda mais fortalecido para derrubar todos os governos considerados “inimigos” na região.

Lula jamais conseguirá ser Javier Milei. E justamente por isso sempre será visto como um “inimigo” pelos Estados Unidos. Favorecer o golpe na Venezuela atrairá ainda mais o golpismo para dentro do Brasil.

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