HISTÓRIA DA PALESTINA

O sionismo arquitetou a limpeza étnica de judeus no Iraque

Para criar o mito sionista, era preciso acabar com a herança judaica no Oriente Médio

Uma das operações mais macabras realizadas pelo Estado de “Israel” foi a de impulsionar a imigração de judeus do Oriente Médio para o recém-criado Estado sionista. Essa manobra teve um ganho político enorme, deixando “Israel” com uma aparência mais democrática e criando o mito de que os árabes são antissemitas quando, na verdade, eles sempre foram os maiores acolhedores da população de judeus, originária da região. O Mossad orquestrou uma operação violenta, principalmente no Iraque, para força uma migração em massa.

Avi Shlaim, o historiador israelense-britânico e professor Emérito de Relações Internacionais na Universidade de Oxford, é quem melhor denunciou essa operação israelense. Ele mesmo, um judeu iraquiano exilado em “Israel”, divulgou informações importantes em sua autobiografia Three Worlds: Memoirs of an Arab-Jew (Três Palavras Memórias de um Judeu-Árabe).

Os judeus árabes deixaram o Iraque e outros países do Oriente Médio para se mudarem para “Israel” após mais de 2.000 anos vivendo em relativa paz e harmonia com seus vizinhos árabes muçulmanos. Esse fato muito peculiar levou muitos a pesquisar o motivo. Os sionistas insistem que foi a perseguição aos judeus árabes que os forçou a deixar seus países de origem. Mas não é possível confiar nunca no que diz um sionista.

Fato é que o Mossad realizou várias operações no Oriente Médio para “convencer” os judeus a se mudarem para o novo Estado. Uma das mais famosas, por ter sido descoberta, foi o “Caso Lavon”, durante o qual judeus egípcios foram recrutados pela inteligência militar israelense para plantar bombas em alvos civis britânicos e norte-americanos, incluindo igrejas e bibliotecas.

De 1950 a 1951, o Mossad também orquestrou cinco ataques a bomba contra judeus em uma operação conhecida como Ali Baba, para gerar terror entre os judeus iraquianos. Como consequência, mais de 120.000 judeus, 95% da população judaica no Iraque, partiram para “Israel” por meio de uma ponte aérea conhecida como Operação Ezra e Neemias. É preciso destacar que nesses anos, o imperialismo britânico ainda controlava ambos estes países do Oriente Médio, ou seja, certamente participaram da operação, pois eles foram os verdadeiros criadores de “Israel”.

A migração de 120 mil pessoas só do Iraque foi importantíssima para “Israel”, que naquele momento possuia apenas 1,3 milhão de habitantes. Ou seja, foi um aumento de 10% em dois anos! Além disso, essa população de árabes foi muito importante para criar as colônias nas fronteiras mais perigosas, o entorno da Faixa de Gaza, a fronteira norte. A população não branca foi utilizada como bucha de canhão para as guerras que viriam, algo constante na história israelense.

Os bombardeios em Bagdá

Enquanto o papel do Mossad é minimizado por “Israel”, o relato e a pesquisa de Shlaim demonstra que a culpa foi do sionismo. Ele nasceu em Bagdá em 1945 e pertencia a uma família judia próspera e distinta que desfrutava de uma vida confortável na cidade. Segundo suas memórias, suas vidas mudaram drasticamente quando uma série de bombardeios abalou a comunidade judaica iraquiana em 1950. Diante do perigo crescente, a família de Shlaim tomou a difícil decisão de fugir para “Israel”, deixando para trás seu estilo de vida luxuoso e lutando para se adaptar a uma nova e pobre existência.

As evidências de Shlaim apontam que três das cinco bombas que explodiram na capital iraquiana foram obra do movimento sionista clandestino em Bagdá. A pessoa responsável foi Iusef Ibrahim Basri, um judeu de Bagdá de 28 anos, advogado de profissão e membro do Hashura, o braço militar do Hatenua, ou o Movimento. Ele foi capturado e enforcado pelo governo iraquiano.

Por trás de Basri, estava um espião israelense, Max Binnet, que atuava no Irã; Binnet forneceu a Basri granadas de mão e dinamite. Basri foi preso em 10 de junho de 1951 devido a um erro que cometeu. Depois que quatro bombas explodiram nas ruas de Bagdá, o Departamento de Investigação Criminal (CID) o prendeu. Após quase um mês de prisão, Basri confessou que era responsável por três das bombas, mas não pela que atingiu a sinagoga Mas’uda Shemtob. Basri e seu cúmplice, Shalom Salih Shalom, foram enforcados em Bagdá em janeiro de 1952, cerca de meio ano após a conclusão oficial da Operação Ezra e Neemias.

Em “Israel”, Shlaim encontrou outra fonte útil, um judeu iraquiano que afirmou ter realizado várias façanhas em nome do sionismo no Iraque. Iaacov Karkoukli nasceu em Bagdá em 1928 e teve um amigo e vizinho muito importante, o brigadeiro Abd al-Karim Qasim, que derrubou a monarquia iraquiana em 14 de julho de 1958 e governou o país até ser assassinado pela CIA.

Qasim se destacou como oficial do exército iraquiano, que veio libertar parte da Palestina da invasão sionista em 1948. Sua ação de destaque foi na Cisjordânia, especialmente na agora famosa Jenin. Karkoukli era um agente de “Israel” e afirmou ter realizado muitas operações, incluindo fornecer a “Israel” uma lista completa das aquisições de armas iraquianas em 1948. Pelas pesquisas de Shlaim, ele foi crucial nas operações no Iraque.

A humilhação dos árabes judeus

Shlaim discute em seu livro como os judeus árabes, chamados em “Israel” de mizrahi, como ele, que se originaram no Oriente Médio, enfrentaram discriminação por parte dos judeus ashkenazi, que vieram da Europa. Os israelenses Mizrahi permanecem entre algumas das comunidades mais pobres de “Israel”, vivendo em cidades em desenvolvimento e bairros pobres.

O professor afirma que o projeto sionista causou um grave golpe na posição dos judeus nas terras árabes. Na autobiografia, ele argumenta que o movimento sionista europeu e o Estado de “Israel” intensificaram as divisões entre árabes e judeus, israelenses e palestinos, hebraico e árabe, e judaísmo e islamismo. Além disso, forças sionistas atuaram ativamente para apagar o que Shlaim descreve como uma antiga herança de “pluralismo, tolerância religiosa, cosmopolitismo e coexistência”.

Ao chegarem em “Israel”, os judeus iraquianos foram recebidos com o tratamento humilhante, foram pulverizados com DDT e alojados em ma’abarot, um campo de trânsito de tendas e barracos, não nos Kibbutz onde os europeus residiam. A família de Shlaim escapou desse tratamento, pois tinha contatos dado sua classe social no Iraque.

A mãe de Shlaim assumiu um emprego na única habilidade em que conseguia trabalho, telefonista. Para uma dama do palácio, anfitriã de festas para os ricos e importantes, foi uma grande mudança. Seu pai permaneceu no Iraque por um tempo, depois imigrou para “Israel”, mas ficou sem emprego.

Embora sua mãe tenha aceitado seu novo modo de vida (apesar de várias tentativas de se mudar para a Grã-Bretanha devido à sua cidadania britânica), ela nunca aceitou a marca asquenazi do sionismo. Ela afirmava: “sionismo é coisa de Asquenazi”.

Para um jovem menino iraquiano na nova “Israel”, o Estado que foi criado e governado por asquenazis, a vida era difícil. Shlaim relembra uma experiência humilhante que ele nunca esqueceu, quando seu pai o chamou em árabe entre seus amigos asquenazis. Ele não pôde responder. O silêncio ficou gravado em sua alma.

Shlaim afirmou uma vez: “o sionismo não só transformou os palestinos em refugiados; ele transformou os judeus do Oriente em estranhos em sua própria terra. Em 1947–49, não foi apenas a terra da Palestina que foi dividida, mas também o passado. O passado comum de judeus e muçulmanos no Iraque foi substituído pela nova realidade do conflito árabe-israelense”.

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