O sítio Left Voice (Voz da Esquerda), publicou nesta quinta-feira (8) uma matéria sob o título “Venezuela em um ponto de inflexão”. Logo de início, no olho do texto, seus autores tentam assumir uma postura de “nem-nem”, nem Maduro, nem a oposição de extrema-direita. Como todos sabemos, essa é apenas uma cortina de fumaça para encobrir o essencial: assim como o imperialismo, esse grupo se opõe ao governo eleito da Venezuela.
O nível de capachismo do Voz da Esquerda atinge um grau inesperado. Precisamos reproduzir todo um parágrafo para demonstrar essa posição lastimável:
“O silêncio reinou em todo o país na manhã de 29 de julho. Não houve celebrações ou sinais de desaprovação. No entanto, no meio da manhã, o silêncio deu lugar aos sons de panelas e frigideiras, e algumas horas depois, para a mobilização de milhares de pessoas em diferentes áreas do país. Estes incluíram, nomeadamente, os bairros da classe trabalhadora e mais pobres do que é conhecido como Grande Caracas, impulsionados pelo sentimento generalizado entre a população de que houve fraude. Como muitas pessoas estavam cansadas de anos lidando com um regime antidemocrático e fome, elas sabiam que não havia como Maduro obter uma vitória eleitoral esmagadora”.
A falsificação da realidade é evidente. Embora o apoio a Maduro tenha sido massivo, como atestam os inúmeros vídeos e imagens que circularam pelas redes sociais, esse grupo diz que houve manifestações espontâneas da classe trabalhadora contra o presidente eleito, o que exime os golpistas de direita de qualquer culpa nos distúrbios que se seguiram.
São conhecidíssimas as guarimbas na Venezuela. São formadas por pessoas recrutadas entre marginais e até mesmo setores lúmpen da sociedade para atacarem a polícia e instituições do Estado. Na última tentativa de golpe houve até pessoas que foram queimadas vivas.
Para piorar, o VE afirma que as pessoas estavam cansadas de falta de democracia e da fome. É preciso dizer que haja falta de democracia na Venezuela não passa de mito. Segundo, quem causa a fome no país vizinho? Todos sabem que são os embargos econômicos criminosos impostos pelo imperialismo. Mas o VE não faz essa crítica fundamental. Como qualquer grupo da direita, a culpa recai sobre a vítima. É a mesma atitude que tomam diante de Cuba: a pobreza é culpa do “regime”, não de décadas de bloqueio.
Ingenuidade ou cinismo?
No quarto parágrafo lemos o seguinte absurdo: “Esses protestos provavelmente pegaram a direita e o governo de surpresa. No domingo à noite, os líderes da oposição de direita Maria Corina Machado e Edmundo González Urrutia declararam que não estavam pedindo que as pessoas saíssem às ruas”. Que tipo de surpresa a oposição de extrema-direita pode ter tido se está diretamente ligada aos protestos? O que o VE esperava, que Corina e Urrutia, o agente da morte, saíssem abertamente em nome do golpe de Estado?
O grupo ainda critica as guarimbas, a tentativa de golpe dizendo que “O governo respondeu com dura repressão que foi particularmente violenta nos bairros da classe trabalhadora na segunda-feira”. E, pior, afirma que “na terça-feira, 30 de julho, a direita aproveitou a situação e canalizou as manifestações espontâneas para seus próprios interesses, organizando comícios em todo o país, particularmente nos bairros de classe média, onde tem sua base social tradicional”. – grifo nosso.
Além de o VE criticar a ação do governo em tentar conter o golpe, diz que a situação criada pelo governo é que deu margem para a extrema-direita chamar protestos. Ou seja, tudo está na conta do governo Maduro. A extrema-direita, uma gente que jamais pensaria em golpe, se viu obrigada a protestar. Nem mesmo a CIA pensaria em uma explicaçã tão mirabolante para justificar a tentativa de golpe na Venezuela.
Na matéria, os autores dizem que “desde a noite de 29 de julho, contingentes maiores de militares e policiais têm prendido, assediado e estocado brutalmente manifestantes, agindo em colaboração com grupos paramilitares patrocinados pelo governo, os chamados “coletivos”, que podiam ser vistos disparando armas de fogo no meio dos protestos ”. Grafaram “coletivos”, entre aspas, pois é uma foram de criticar o fato de um governo organizar milícias populares, o que prova que o VE é um grupo contrarrevolucionário.
Críticas ao chavismo
O texto do VE faz diversas críticas ao chavismo, algumas até têm algum contato com a realidade. No entanto, não consegue tirar caracterizar corretamente as limitações do nacionalismo burguês e tirar as devidas conclusões.
A burguesia dos países atrasados, ainda que entrem em contradição com o imperialismo, não conseguem levar a cabo, de maneira consequente, essa luta, pois o maior inimigo da burguesia não é outra burguesia, com a qual pode entrar em acordo, mas a classe trabalhadora.
A revolução bolivariana está diante de um impasse, se não começar a expropriar a burguesia local e iniciar um governo verdadeiramente socialista, irá cair diante das investidas do imperialismo, cada vez maiores e mais agressivas.