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Europa

Olimpíadas de Paris: não pode hijab, mas pode ‘país’ genocida

A França proíbe hijabs, bandeiras palestinas, russas e bielorrussas, hinos de alguns países, mas permite e protege os assassinos israelenses

A velocista francesa de origem guineense Sounkamba Sylla foi impedida de entrar utilizando um hijab na cerimônia de abertura dessa sexta-feira (26) dos Jogos Olímpicos de Paris. A atleta, que é muçulmana, protestou em suas redes sociais e utilizou um boné no lugar do pano tradicional de sua religião.

Em 2023, o governo de Emmanuel Macron já havia declarado que os véus islâmicos não seriam permitidos durante os jogos, tanto nas Olimpíadas, quanto nas Paraolimpíadas que acontecem neste ano na capital francesa.

A França, sobretudo no governo de Macron, tem participado nos últimos anos de uma ofensiva contra o direito da população de religião islâmica, incluindo o fechamento de mesquitas no país entre os anos de 2021 e 2022 e as várias proibições ao uso do hijab.

O governo francês se utiliza do princípio de laicidade para impedir o uso de hijab no país. A palavra “laico”, enquanto adjetivo, possui as seguintes acepções no dicionário Michaelis:

  1. “Alheio ao clero ou a qualquer outra ordem religiosa; leigo;
  2. Oposto ao controle do clero sobre a sociedade;
  3. Relativo à vida profana.”

Na primeira das acepções, considerando que o adjetivo em questão acompanha a palavra “Estado”, que é o caso da França, já que o país se diz um Estado laico, significaria que a França possui um Estado que é “alheio” ou “alienado” em relação à religião, ou seja, o Estado segue os princípios do secularismo, não tendo influência de nenhuma religião em suas leis. No caso das outras acepções, a palavra se utilizaria mais quando aplicada a algum indivíduo e sua ideologia.

Nenhuma das acepções, no entanto, permite a ideia de que o Estado tenha o direito de impedir que alguma pessoa demonstre sua fé, religião ou credo em público, o que, na realidade, se opõe à ideia de laicidade, já que determinaria que uma religião fosse tratada como inferior, acabando com a neutralidade do Estado em relação às religiões, efeito que se espera que seja provocado por um Estado dito laico.

Não só na França, no entanto, ocorrem esses abusos. Em 2011, a delegação feminina de futebol do Irã (sim, o mesmo Irã que, segundo a imprensa burguesa, impediria que as mulheres entrassem em estádios de futebol, tem uma seleção feminina) foi eliminada das eliminatórias dos Jogos Olímpicos de Londres por conta do uso do hijab, o que gerou muita indignação e fez com que a FIFA passasse a permitir o uso do véu islâmico a partir de 2014. Já na Alemanha, nesta semana, o país fechou centros xiitas.

Enquanto as mulheres islâmicas são impedidas do uso do hijab, os atletas russos e bielorrussos não podem competir com suas bandeiras, foram impedidos de participar da cerimônia de abertura dos jogos e, caso ganhem alguma medalha, o que é muito provável que aconteça, não poderão ver a bandeira de seus países no pódio, nem os seus hinos serão tocados. Suas conquistas também não aparecerão no quadro de medalhas e os atletas que aceitaram ir às olimpíadas nessas condições competirão como “neutros”.

No ano passado, o Comitê Olímpico Internacional (COI) havia determinado que no máximo 54 atletas russos e 28 bielorrussos seriam convidados para as olimpíadas na condição de neutralidade. Para que pudessem participar, teriam que fazer exames antidoping que os demais atletas não fariam, não poderiam ter declarado apoio à Rússia na guerra contra a Ucrânia em momento algum e, muito menos, terem participado do conflito. Apenas 15 russos e 17 bielorrussos aceitaram as exigências.

A desculpa para a exclusão dos atletas russos e bielorrussos é a da guerra contra a Ucrânia. Segundo o COI, o que determinou a expulsão dos dois países foi não estarem de acordo com os princípios de “trégua olímpica”, tradição que ocorria nos jogos da Grécia antiga e que foi reavivada durante as Olimpíadas de 1992. Nem é necessário falar como praticamente todos os países imperialistas não estiveram de acordo com os princípios gregos de mais de 2.000 anos atrás, com a completa invasão e destruição da Líbia, do Iraque, do Afeganistão e da Síria, além de muitos outros países, só depois do ano de 1992. Mas é importante também lembrar que a Ucrânia, que bombardeia o território do Donbass (que era parte da própria Ucrânia e agora é parte da Rússia) desde 2014 e que durante a guerra atacou áreas civis da Rússia, participa normalmente dos jogos.

Por fim, o caso mais escancarado de rompimento com a tradição de trégua das Olimpíadas, de preconceito contra a população islâmica e árabe e, caso o leitor prefira, de rompimento com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tão utilizada para atacar a Rússia, é a participação de “Israel” nesta edição dos jogos.

“Israel”, até agora, assassinou quase 40 mil pessoas segundo as estimativas precárias que as entidades palestinas fazem dos números de mortos. No entanto, segundo estudo publicado na revista médica Lancet, o número de mortos contabilizando não só as pessoas bombardeadas, mas também as que ficaram sob os escombros, as que morreram de fome, com falta de atendimento médico e outras formas de mortes causadas pelo genocídio, eleva o número a 186 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças.

Além disso, o número de atletas palestinos assassinados por “Israel” é de mais de 400 pessoas. A Rússia, ao que se sabe, não matou atleta algum na Ucrânia e a Bielorrússia nem mesmo atua no conflito diretamente.

Devemos aqui, também, voltar à questão acima da laicidade. Seria laico um Estado que dá predileção aos israelenses, que se dizem o povo escolhido por um deus e que pretendem ter um Estado judeu em detrimento dos palestinos? A França não permite a entrada de mulheres com hijab, mas permite a entrada de pessoas e símbolos associados à perseguição religiosa no Oriente Médio e, sobretudo, é claro, na Palestina. Parece que “laicidade”, para o governo Macron, significa, portanto, a perseguição de pessoas com uma religião diferente da que os israelenses dizem professar.

Alguns vídeos nas redes sociais mostram a polícia francesa tentando impedir que levantem bandeiras da Palestina durante os jogos. Fica evidente que há uma campanha contra a população árabe e a religião islâmica nas Olimpíadas, além de uma perseguição aos russos e bielorrussos.

Trata-se, no entanto, não somente de algo pontual para esta edição dos jogos, nem mesmo uma posição ou preconceito particular do governo francês. Trata-se de uma demonização dessas populações ao estilo nazista em relação aos eslavos e judeus na época precedente à Segunda Guerra Mundial, ou seja, uma preparação para a guerra contra esses povos, sobretudo contra o Irã e contra a Rússia.

Estado sionista não só foi permitido nos jogos, contando inclusive com um porta-bandeira que assinou bombas que seriam jogadas contra atletas, mulheres, crianças e idosos palestinos, mas também há uma segurança aumentada em favor dos atletas sionistas. Neste caso, se trata também da mesma preparação para a guerra, com “Israel” servindo ao imperialismo como sempre serviu: um posto avançado para seus exércitos, uma espécie de polícia de todo o Oriente Médio para atacar, torturar e manter a população local, predominantemente islâmica, mas também judia, cristã e de outras crenças, completamente subjugada.

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