Quase uma semana depois e todos os jornais franceses continuam falando da mesma coisa: do resultado das eleições legislativas do último domingo (7). Agora, há uma expectativa muito grande para a indicação de um novo primeiro-ministro, o qual só pode ser nomeado pelo presidente da França, Emmanuel Macron.
Macron, no entanto, atrasa sua indicação. Ao que tudo indica, está articulando nos bastidores com as principais forças políticas do regime francês para isolar cada vez mais a esquerda, representada, principalmente, pelo partido França Insubmissa (FI), de Jean-Luc Mélenchon. Para tal, mostra ter criado uma trama muito bem montada.
O partido de extrema direita Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, ganhou o primeiro turno das eleições com uma margem folgada. Então, a burguesia imperialista colocou em prática um plano para derrotar Le Pen e, ao mesmo tempo, derrotar a esquerda. Fato é que a situação política na França está muito polarizada, polarização que se expressa no partido de Mélenchon.
Contra essa polarização, o principal setor do imperialismo, representado por Macron, manipulou o regime de votação em dois turnos para que crescesse sua bancada e a bancada do Partido Socialista (PS) — que, apesar do nome, é um partido de direita.
Finalmente, Mélenchon cometeu um erro muito grave ao fazer uma aliança com o PS e, depois, ao retirar seus candidatos para que os candidatos do PS e do bloco de Macron, o Ensemble (Juntos), ganhassem nos municípios. O resultado foi que, graças a essa artimanha, a votação de Mélenchon não foi muito grande. O PS, por sua vez, cresceu muito, enquanto Macron, apesar de não ter tido a mesma votação da última eleição, manteve uma boa posição com seu bloco.
Além de não crescer o tanto que deveria ter crescido, Mélenchon está sendo cada vez mais isolado pela burguesia francesa. Macron, o Partido Socialista, o partido Republicanos (partido conservador) e outros afirmam categoricamente que não admitirão um governo de esquerda. Mesmo diante do fato de que foi a esquerda quem garantiu a eleição para esse setor.
Para a burguesia, ao que tudo indica, restam duas opções: ou o primeiro-ministro será do Partido Socialista e será apoiado por Macron; ou será aliado de Macron e será apoiado pelo Partido Socialista. Manobra que, apesar de não poder ser tecnicamente considerada um golpe de Estado, já que tudo é feito “dentro da lei”, é, com toda certeza, um golpe de mão.
Agora, o que Mélenchon deve fazer? Após ter se entregue a esta armadilha, resta, ao esquerdista, convocar a população às ruas para obrigar Macron a indicar um primeiro-ministro do França Insubmissa.
A imprensa burguesa, entretanto, se antecipa a isso. Logo após o resultado do segundo turno, os principais jornais da França começaram a atacar Mélenchon impiedosamente, chamando-o de antissemita, de islamista, afirmando que sua política econômica é delirante e coisas do tipo.
O editorial da edição de sexta-feira (12) de um dos principais jornais da França, o Le Figaro, tenta desmoralizar a proposta de mobilização popular para constranger a esquerda a não seguir adiante:
“‘Exigimos o respeito às urnas!’ A Novo Frente Popular [NFP] pode se orgulhar de ter um novo aliado em sua busca pelo poder: a CGT. Sophie Binet, a líder da central revolucionária, convoca manifestações para exigir a implementação de um governo NFP. E rápido, mesmo! Jean-Luc Mélenchon e seus amigos anunciaram uma grande festa com gastos públicos… A poucos dias dos bailes de 14 de julho, o povo de esquerda está ansioso para se embriagar sob a enxurrada de dezenas de bilhões de euros prometidos”, afirma o jornal.
O editorial ainda afirma que o principal problema de um eventual governo do FI é econômico. Para o Le Figaro, a política defendida por Mélenchon é incompatível com a suposta necessidade de aplicação de uma política de austeridade fiscal, visando controlar a dívida pública — a mesma farsa que Campos Neto defende aqui no Brasil.
“Cuidado para não se decepcionar ou, melhor, para não se encontrar totalmente desamparado em alguns meses. As medidas deste programa são insustentáveis para as contas públicas, especialmente as promessas em favor do poder de compra, e seus financiamentos são pouco documentados (isso é um eufemismo). Os parceiros da Frente já avisaram que vão meter a mão nos bolsos dos mais ricos e das empresas. Mas, como sempre, resignar-se-ão a explodir os déficits e a dívida”, diz o editorial.
Diante desta nova provocação, Mélenchon indica, infelizmente, que vai recuar. Na quinta-feira (11), o França Insubmissa apresentou uma lista oficial de nomes a serem propostos para a função de primeiro-ministro. Segundo a imprensa, estes seriam: o coordenador nacional do FI, Manuel Bompard; a co-presidente do Instituto La Boétie e deputada do Val-de-Marne, Clémence Guetté; a presidente do FI na Assembleia Nacional, Mathilde Panot; e o próprio Jean-Luc Mélenchon.
Trata-se de mais uma ingenuidade. Fato é que o imperialismo não aceitará nenhum da esquerda, a menos que esta pessoa já esteja no bolso da burguesia.
Apenas o povo pode impedir que o imperialismo conclua seu golpe de mão na França.