No artigo Ato na Paulista organizou estratégia de luta da extrema direita, publicado no Brasil 247, Jeferson Miola se mostra preocupado com a “mobilização multitudinária” da “extrema direita fascista”. E tem razão em estar preocupado. No dia 25 de fevereiro, dezenas de milhares de pessoas atenderam ao chamado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e se fizeram presentes na Avenida Paulista, conforme o próprio articulista constata:
“O ato bolsonarista na avenida Paulista é um alerta disso. Independentemente da estimativa exata de presentes, a fotografia de vários quarteirões da avenida ocupados já é, por si, impactante. Foi uma demonstração de força convocatória, de estrutura material e capacidade de mobilização.”
O articulista também acerta quando evita classificar os apoiadores como “fanáticos religiosos”, mas sim como parte do povo brasileiro:
“Seria necessária uma pesquisa para caracterizar o perfil dos participantes, mas ali foram vistos charlatães religiosos, comerciantes, militares, policiais, ‘donas de casa’, funcionários públicos, aposentados, trabalhadores formais e uberizados, ‘empreendedores’, empresários e pessoas humildes.”
O articulista, então, conclui que é “importante destacar, neste sentido, a capacidade de mobilização fascista mesmo depois da derrota eleitoral e já sem a estrutura de governo. Os atentados do 8 de janeiro de 2023 e o ato deste 25 de fevereiro na avenida Paulista são evidências disso“.
O que falta em sua análise, contudo, é explicar as condições que conduziram a extrema direita a tal posição na situação política nacional. Por qual motivo um ex-presidente que entregou a Eletrobrás para os capitalistas, sancionou a reforma da Previdência e bateu continência para o presidente norte-americano mobiliza tanta gente do povo? O motivo é simples: pela falta de política da esquerda.
Nos últimos anos, a postura dos setores dirigentes da esquerda nacional diante da extrema direita se resumiu em “torcer” para que o Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal (PF) e a Rede Globo combatessem o bolsonarismo e o “fascismo”. Em vez de organizar a população para uma luta política contra a extrema direita, ensinou a população a confiar em seus piores inimigos. O resultado não poderia ser outro que não o desastre.
Por conta dessa política, uma parte da população brasileira acaba vendo hoje Bolsonaro como uma espécie de “mártir”. Trata-se do mesmo fenômeno que o de Donald Trump, nos Estados Unidos, que, mesmo com mais de 90 acusações, é o favorito para vencer as próximas eleições presidenciais. Outra parte da população, ainda que não veja propriamente que a esquerda seja parte do “sistema” que está perseguindo Bolsonaro, também se abstém de lutar contra a extrema direita, pois não vê perspectiva alguma de mobilização. Se não há um chamado para defender o emprego, para lutar contra o sionismo infiltrado no Brasil, para combater os parasitas que querem roubar o nosso petróleo, como, então, se mobilizar contra o “fascismo”?
Que a manifestação bolsonarista deixou a lição de que a esquerda precisa mobilizar o povo, é fato. No entanto, é preciso fazer uma avaliação precisa sobre o que nos levou até aqui. Afinal, o que tornará possível uma “mobilização multitudinária” não será os aplausos à política do STF, mas sim a defesa de um programa independente da esquerda, que coloque na ordem do dia as necessidades reais do povo trabalhador.