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Tempestade em copo d’água

O fim da reconstrução revolucionária do ataque de pelanca?

A direção do PCB, por sua vez, não se opõe a Jones Manoel por princípios, tanto que é incapaz de explicar politicamente a briga

Ao que parece, a tempestade num copo d’água feita em Jones Manoel e o Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB) chegou ao fim. Após um mês de troca de acusações de ambos os lados, que muito bem poderíamos chamar de ataques de pelancas, cada um seguiu para o seu lado. O PCB continuou o mesmo PCB de sempre: um partido de uns professores universitários, com uma organização tipicamente stalinista e sem nenhuma política definida. Jones Manoel, por sua vez, deixou a agremiação e, junto com meia dúzia de outros youtubers, fundou a fração externa Reconstrução Revolucionária.

Qual será a grande relevância dessa briguinha para a luta da classe operária? Nenhuma. O PCB, que nada tem a ver com o antigo PCB (partido que hoje se chama Cidadania), nunca cumpriu um papel importante na situação política. Pelo contrário: ficou conhecido como “PCBarrichelo”, tamanha a sua lentidão em se posicionar diante dos acontecimentos. Fazendo jus à formação stalinista de seus dirigentes, aprendeu que “macaco velho não põe a mão na cubuca”. Isto é, que, para não ser desmoralizado por apoiar uma política muito direitista, o mais “sábio” é ficar calado ou falar da luta a favor do aborto na Tailândia enquanto a situação brasileira está pegando fogo.

Apesar desse mandamento do PCB, que também poderia ser resumido por “falar é prata, calar é ouro”, o partido, de vez em quando, é obrigado a falar alguma coisa. E é sempre um desastre: é aí que o partido revela seu caráter pró-imperialista, característico de um partido que tem a pequena burguesia como sua base social. O PCB, finalmente, apoiou as candidaturas de Guilherme Boulos em 2018 e 2020, integra a Frente Povo sem Medo e tem participado das atividades golpistas, organizadas em conjunto com o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), de oposição ao governo Lula.

Em resumo, os trabalhadores não irão se tornar mais ou menos dispostos para lutar contra os seus inimigos, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não vai mudar a sua política, nem nada de importante vai acontecer se o PCB trocar de nome, trocar suas cores, for para a direita, for para a esquerda ou simplesmente fechar as portas.

Se podemos falar isso de um partido que já tem décadas de existência, que lança candidatos presidenciais e que se aproveita do nome de um partido outrora bastante conhecido, o que dizer da trupe de Jones Manoel?

Ninguém sabe ao certo quantas pessoas deixaram o PCB e se juntaram à “Reconstrução Revolucionária”. Segundo Sofia Manzano, da direção do PCB, esse número não passaria de uma dezena. O próprio Jones Manoel, em suas redes sociais, só citou cinco pessoas que teriam sido expulsas do partido: ele próprio, uma tal Ana Karen, um certo Gabriel Landi, alguém chamado Gabriel Lazarri e o ex-presidente da sigla Ivan Pinheiro. Segundo os “reconstrutores revolucionários”, essa cifra chegaria a 50 pessoas. Não dão, contudo, qualquer demonstração disso.

Nem mesmo a “expulsão” dessas pessoas é algo que pode ser levado muito a sério. Para Sofia Manzano, os “reconstrutores revolucionários” teriam se “autoexpulsado”. O fato é que, por mais que seja difícil avaliar como foram conduzidos os processos disciplinares internos e por mais que um partido repleto de carpideiras do stalinismo jamais vá ser de fato democrático, Jones Manoel e sua trupe infringiram o estatuto do PCB e o estatuto de qualquer partido minimamente sério: expuseram o debate interno e até figuras do partido, É uma atividade tipicamente policial, que dá todo o direito ao PCB de expulsá-los.

Façamos agora, um breve parêntese para admirar, por um momento, o talento da trupe de Jones Manoel em ser ridícula. O que significa o nome “reconstrução revolucionária”? Antes de tudo, se fossem rigorosos, o youtuber e seus amigos deveriam chamar o grupo de, no mínimo, “re-reconstrução revolucionária”. Afinal, “reconstrução revolucionária” já o termo que a direção do PCB usa para fazer alusão à fundação do partido após a transformação do PCB em Partido Popular Socialista (PPS). Seria, assim, mais justo por parte de Manoel admitir que está usando o nome dado por aqueles a quem se opõe.

O mais bizarro de tudo não é isso, mas sim o fato de que a história do PCB é uma história de “reconstruções”. Ou, melhor diríamos, de golpes. O Partido Comunista Brasileiro foi fundado em 1922 em meio à evolução política e organizativa da classe operária. Desde esse importante marco, o partido vem sendo destruído e nunca foi, de fato, “reconstruído”. O PCB rapidamente passou para as mãos do stalinismo e viveu suas fases centrista, ultrasesquerdista e ultraoportunista até culminar na vergonha de ter ficado completamente imobilizado durante a ditadura militar. O mesmo PCB foi oposição ao movimento operário em seus momentos mais marcantes na década de 1980, inclusive na fundação da CUT. Quando Roberto Freire fez a sua “reconstrução” do PCB e o transformou em PPS, apenas selou o destino do partido, integrando-o de vez no regime político. Afinal, do ponto de vista de um partido da classe operária, o PCB nada mais tinha a oferecer. A tal “reconstrução revolucionária” de Sofia Manzano nada tem de reconstrução, nem de revolucionário: o partido que outrora tivera ligações com a classe operária foi sepultado e o propósito do novo PCB é fornecer uma legenda para professores universitários.

A “reconstrução” de Jones Manoel, assim, segue o padrão das demais. Não reconstrói nada, pois não passa de um pequeno agrupamento de ex-filiados do PCB, nem é revolucionária, pois é dirigida pelos elementos mais oportunistas que havia no partido.

Nessa história toda, o que é bastante curioso é o fato de que nem Jones Manoel, nem a direção do PCB são capazes de explicar o motivo político do ataque de pelancas. Para a trupe da “re-reconstrução”, seria uma perseguição injustificada. Para Manzano, seria um problema de tecnicalidades do Estatuto do partido.

A questão é clara: Jones Manoel, em conjunto com seus amigos youtubers, estão alinhados à política mais abertamente pró-imperialista defendida hoje por setores da esquerda mundial: a defesa da OTAN na guerra da Ucrânia e o ataque aos governos nacionalistas, como o governo Lula, no Brasil, e o de Nicolás Maduro, na Venezuela. Jones Manoel e sua trupe estão sendo cooptados para atuarem como uma verdadeira tropa de choque da política mais abertamente reacionária do imperialismo.

A direção do PCB, por sua vez, não se opõe a Jones Manoel por princípios, tanto que é incapaz de explicar politicamente a briga. No entanto, procurou se distanciar dos youtubers por causa de seu mandamento: é melhor não pôr a mão nessa “cubuca” de defender abertamente o imperialismo para que o partido não naufrague como o PSTU.

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