Livros vencendo o canhão?

“Os livros derrotarão as armas”, dizem os trotskistas cor-de-rosa

O PSTU tenta criar um programa de luta contra o crescimento da extrema-direita nas escolas mas acaba com uma política ainda mais reformistas do que os que eles tanto criticam 

Os morenistas do PSTU tem um ponto positivo. Eles, ao contrário de outros setores da esquerda, se posicionam sobre muitas questões sociais. O ponto negativo é que ao se posicionar eles sempre se colocam a reboque da política da direita. É assim nas análises internacionais em que eles se colocam contra Putin, Maduro e Ortega. É assim no Brasil quando fizeram campanha pela derrubada de Dilma e agora a campanha contra o governo Lula. Adotaram uma posição incorreta sobre o identitarismo, sobre o Futebol Brasileiro e agora o mais novo assunto foi a violência nas escolas. Nesse tema, a organização que se proclama trotskista (mas que, na verdade, é morenista, um tipo de revisionismo) mais parece com os democratas dos EUA, como de costume.

O artigo foi publicado no site do partido sendo intitulado: “Contra a violência da extrema-direita, construir uma educação a serviço da classe trabalhadora”. E começa se embasando no “relatório “. “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental” traz informações importantes sobre a crescente violência contra as escolas motivada pela ideologia de extrema-direita.” A primeira conceituação já começa mal. O país onde mais há massacres em escolas de longe sempre foi os EUA e eles precedem o crescimento da extrema-direita nos anos recentes. A decadência do capitalismo norte-americano gera todo tipo de disrupção social, para a juventude o principal problema são as drogas, mas os elementos perturbados que têm tendências a realizar massacres também se tornam cada vez mais comuns.

O Brasil apesar de ser um país oprimido, tem uma contradição menor que a dos EUA. No principal centro do capitalismo mundial é onde se encontram as maiores contradições do capitalismo, isso fica claro se comparando com países mais pobres que o Brasil. No Afeganistão, uma sociedade majoritariamente rural e até tribal as contradições são bem menores. Mas o interessante é que se a tese do PSTU for correta, de que a extrema direta é a causa da violência nas escolas seria necessária uma política ativa contra essa direita e não apenas uma defesa da melhoria da educação. E essa é a tese do relatório: “O objetivo deste relatório é apresentar como os ataques violentos às escolas estão relacionados com um contexto social que se vincula com a escalada do ultraconservadorismo/extremismo de direita no país e a falta de controle e/ou criminalização desses discursos e práticas, bem como de sua difusão através de meios digitais.”

O próprio relatório possui a política errada de controlar discursos. O bolsonarismo, na verdade, é a prova de como essa política não funciona. Nikolas Ferreira é um deputado com uma grande influência na juventude. Ao sofrer uma tentativa de cassação e prisão por um discurso, ele ganhou muita popularidade. O mesmo vale para outros bolsonaristas perseguidos por discursos, como é o caso de Daniel Silveira. No fim, esse estudo é mais uma das bases para a política de ataque à liberdade de expressão que se aproveita da atual conjuntura em que existe uma extrema-direita organizada. E mostra também o erro do PSTU, o combate a essa direita se dá por meio da luta da classe operária, de suas organizações. O Estado burguês não combate o fascismo, pelo contrário, no momento de maior crise ele apoia o fascismo.

O artigo considera que o principal problema para o crescimento dos assassinatos em escolas é a extrema-direita: “Do ponto de vista ideológico, as ideias que movem os agentes desses ataques caracterizam-se pela crença na supremacia branca e masculina, pelo ódio às chamadas minorias nacionais e étnicas (xenofobia e racismo), pelo desprezo às mulheres (misoginia e machismo), pelo ódio à população LGBTQIA+, pelo anticomunismo, por não aceitar sequer as instituições da democracia burguesa, por exemplo, o parlamento.” Aqui é possível também ver que não é o fascismo a principal causa dessas crises. Se assim fosse, o principal foco histórico dos massacres em escolas teria sido a Itália e Alemanha nas décadas de 1930, mas, na verdade, são os EUA nas últimas décadas. A revolta dos estudantes, na verdade, é uma expressão confusa da revolta contra a ditadura dos EUA que se apresenta como democracia.

Nesse sentido, o principal combate que pode ser travado é a criação de uma esquerda revolucionária que mostre para a juventude que existe um caminho de luta para a libertação de todos os trabalhadores. Muitos jovens são atraídos pelo bolsonarismo, pois ele aparenta ser uma ideologia de combate ao “sistema”, mas esse é tradicionalmente o papel do comunismo/trotskismo. Contudo, a esquerda pequeno burguesa, ao se tornar um apêndice da direita imperialista, do Partido Democrata, não consegue angariar essa juventude, que tende a se aproximar da extrema-direita. Isso somado à crise econômica leva os indivíduos mais vulneráveis psicologicamente a tomar essas e outras atitudes drásticas. É um problema complexo, mas um problema que pode ser combatido por um partido revolucionário.

Não se pode deixar de lado o ataque golpista ao governo Lula feito pelos morenistas no texto. Em uma discussão sobre o crescimento do fascismo entre a juventude, o PT é colocado como culpado: “o governo Lula/PT-Alckmin busca preservar a sua aliança com os grandes capitalistas como a Fundação Lehman, o Banco Mundial, dentre outros.” O problema da Fundação Lemann é real, mas é mais um caso de infiltração no governo Lula. Um problema do ministro da edução, bem como muitos outros ministros. Mas isso não define o caráter do governo, principalmente na questão do Banco Mundial, que é uma farsa total. Na questão dos bancos, Lula está em confronto aberto com os banqueiros na questão do Banco Central.

No fim do artigo o PSTU conclui afirmando a sua política sobre a educação. O problema em questão é o crescimento do fascismo e a solução apresentada é mais educação. É o combate de armas com livros, algo que poderia sair da boca de um reformista muito moderado, mas não de autoproclamados revolucionários. O combate à extrema-direita é político, com uma campanha que atraia o setor mais revoltado da juventude e de toda a sociedade por meio da luta pelo socialismo. E também um combate material, ou nas palavras de Marx: “a arma da crítica não se sobrepõe a crítica das armas”. Se um lado está armado para atacar a classe operária, ela tem todo direito de se defender.

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