Nessa sexta-feira (15), em artigo publicado no jornal o Estado de S. Paulo, o ilegítimo vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, coloca-se como porta-voz das forças armadas, revela que a posição dos militares não é diferente da de Bolsonaro no que há de fundamental, critica os governadores e os demais poderes e conclui numa defesa do governo como requisito para superar a crise.
Ignorando completamente a questão da pandemia e as milhares de mortes já atingidas, Mourão se atém ao problema político e econômico, o que mais ameaça Bolsonaro neste momento. Cita pontos que considera resumirem a situação atual do país. Discorre sobre a polarização política, a degradação institucional e a usurpação do poder do Executivo. Com uma postura cínica, o general golpista fala como um pacificador, um democrata, pedindo unidade e respeito à República Federativa. Chega até a pedir tolerância em defesa da “democracia” que ajudou a destruir.
Já no segundo ponto, Mourão aproveita para criticar a direita (centrão), citando governadores, magistrados e o legislativo, em suma os setores da burguesia que mostraram algumas divergências com a política do governo desde o início da pandemia e aproveitaram a crise para desgastar o governo para disputas eleitorais futuras.
Após fazer várias citações sobre os federalistas norte-americanos e o pacto federativo em torno do Estado, Mourão fala sobre o conflito entre os poderes, acusa juízes e procuradores de tomarem decisões que só caberiam a quem detém mandatos de autoridade executiva. O general cita estatísticas seletivas, discórdia, corrupção e oportunismo como uma tentativa dos outros setores da direita de passarem por cima do governo federal.
“Autogolpe”
No dia 7/09/2018, então candidato a vice-presidente, o general Mourão afirmou em entrevista ao G1, que numa situação “hipotética de anomia, anarquia generalizada”, poderia haver por parte do presidente da República um autogolpe com o apoio das Forças Armadas. O artigo do general, nesta semana, portanto, não é uma simples análise de conjuntura, mas sim uma ameaça de autogolpe, de intervenção direta das Forças Armadas no cenário político.
Mourão fala em nome de toda a ala militar do governo e dos militares em geral. Isso mostra que os militares, mesmo com toda a crise do governo, não estão dispostos a abandonar Bolsonaro neste momento. Bem como, caso se julgarem necessário, intervirão nos demais poderes, seja através de intervenções militares nos estados, como ocorreu no Rio de Janeiro em 2018, seja de outras formas não explícitas.
Posição da esquerda
Na esteira do contínuo conflito de Bolsonaro com os setores da direita tradicional (governadores, STF, congresso, etc), a esquerda, sobretudo representada pelo PT, embarcou na política do impeachment de Bolsonaro. Esta iniciativa, apesar de ser um fato positivo, não se baseia – como a campanha pelo Fora Bolsonaro e todos os golpistas, que o PCO impulsiona – na mobilização popular, mas sim na mobilização de um setor da burguesia que seria “menos pior” que Bolsonaro.
Neste sentido, é preciso esclarecer que essa posição é um erro. Pois, golpistas como Doria, Witzel, Maia, FHC, entre outros, são tão inimigos da população quanto Bolsonaro. As diferenças que têm, neste momento, com o governo federal, deve-se a uma demagogia com um setor da classe média que pode fazer o isolamento social e agora se vê ameaçado pela destruição completa da quarentena. É preciso denunciar que esses governadores também irão implementar a destruição da quarentena, o que já vem ocorrendo em países como os EUA, na Europa, mostrando que a burguesia de conjunto tem acordo sobre o fim do isolamento, e que as diferenças se dão apenas em torno do método.
O episódio mostra, portanto, que a burguesia de conjunto não tem discordância da política de Bolsonaro, mas apenas divergências táticas (abertura geral ou abertura gradual), método, de como fazer, quando fazer, etc. A posição genocida de Bolsonaro é a posição de toda a extrema direita, da direita (centrão) e da frente ampla. Enquanto Bolsonaro depender do centrão, que depende das forças armadas, o “fora Bolsonaro” proposto pela esquerda colocará ela numa posição de torcida, que implora para o centrão implorar para as forças armadas mudarem de posição e não na posição de liderança da classe operária.