O departamento jurídico da Editora 247 LTDA. notificou extrajudicialmente o jornalista Leandro Demori após declarações feitas nesta quinta-feira (13) durante um programa ao vivo no canal do Instituto Conhecimento Liberta (ICL). Na transmissão, Demori acusou o veículo de comunicação Brasil 247 de se posicionar contra o Projeto de Lei nº 2.630/2020 por supostamente receber valores do Google.
Ao ser questionado pelo jornalista Fábio Pannunzio sobre sites de esquerda que teriam atuado em favor dos interesses da multinacional, Demori afirmou: “Esse lobby que eles fizeram na época para não ter regulação de internet no Brasil (…) E botaram dinheiro na mão de sites progressistas, um deles foi o Brasil 247, né? Não gostaram na época que a gente falou isso, pode continuar não gostando, e vai depois desgostar de novo, e a vida que segue! Não tem problema nenhum! Receberam dinheiro do Google e acabaram defendendo uma pauta que é contra o Brasil, gente!”
Em resposta, a Editora 247 declarou que Demori fez uma acusação irresponsável, sugerindo que o veículo teria recebido recursos de maneira ilícita e, com isso, cometido crime. Segundo o documento de notificação, “o notificado ultrapassa o limite da opinião e parte para a declaração direta de opinião própria, ofensiva e sem lastro algum em elementos fáticos, com a clara intenção de atacar e macular a honra objetiva, o bom nome e o respeito social do Brasil 247”.
Na sexta-feira (14), o ICL transmitiu um direito de resposta do Brasil 247, no qual o veículo desmentiu as alegações. A nota esclarece que o Brasil 247 faz parte do programa Google Destaques, assim como outros 174 veículos de comunicação no Brasil, e que o contrato garante total liberdade editorial. “Entre estes veículos existem aqueles que defendem o PL 2.630/2020 e outros que adotam uma postura crítica – o que faz parte da liberdade de expressão e do estado democrático de direito”, diz o texto.
A notificação exige que Demori esclareça suas declarações em até 48 horas as seguintes questões:
- V. Sa., em respeito ao contraditório, em algum momento tentou contato com o jornal Brasil 247 após as falas supracitadas?
- Em que momento teria o jornal Brasil 247 admitido que recebeu valores para defender interesses legislativos do google? Se assim o fez, em qual de seus veículos de comunicação tal mensagem foi transmitida?
- O que comprova que o Google teria feito lobby para que o Brasil 247 aderisse a seus interesses legislativos?
- O programa “google destaques”, criado em 2021, no qual participam cerca de 175 veículos de comunicação, dentre os quais diversos do campo progressista (Opera Mundi, Jornal GGN, DCM, Revista Fórum, Brasil de Fato, Carta Capital, etc.), seria o motivo das afirmações do Notificado? Os demais veículos que, eventualmente, tenham se posicionado de forma contrária ao PL 2.630/20 e que façam parte do “google destaques”, também teriam recebido valores do google para agir de tal maneira? Se sim, o Notificado consegue provar suas alegações? Adicionalmente, quais outros veículos, portanto, são pagos pelo Google para se posicionarem contrariamente ao PL 2.630/20?
- O que, objetivamente, comprova a afirmação do Notificado no sentido de que o Brasil 247 recebeu “dinheiro do Google” e acabou “defendendo uma pauta que é contra o Brasil”?
- O que, objetivamente, prova para o Notificado que eventuais valores recebidos por força do programa “google destaques” estejam vinculados à pauta do PL 2.630/20?
- O Notificado possui ciência de que, durante as discussões do PL 2.630/20 em 2023, dezenas de reportagens favoráveis ao PL 2.630/20 foram publicadas no jornal Brasil 247?
- Os jornalistas do Brasil 247 que se posicionaram contra aspectos do PL 2.630/20 também receberam valores do google? Se sim, quais? Adicionalmente, jornalistas de outros veículos que também se posicionaram contra aspectos do PL 2.630/20 também teriam vendido opiniões ao interesse do google?
- O notificado, por ser empregado público, teve seu posicionamento crítico comprometido por receber valores da União? Se positivo, foi com base na experiência pessoal do Notificado que as alegações falaciosas movidas contra o Brasil 247 foram propaladas?
Durante participação semanal na TV247, Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), incluiu a acusação de Demori contra Attuch na lista de hostilidades recentes contra pessoas e órgãos ligados ao Partido dos Trabalhadores (PT). Leia:
“Chama atenção que vem crescendo, entre jornalistas ditos de esquerda, que são ligados às ONGs e à política em geral identitária, uma atitude hostil contra o PT.
Pode não haver relação nenhuma, mas eu vi aí, por exemplo, o caso do Alysson Mascaro, muito mais grave do que esse do 247. Eu achei totalmente absurdo, mas é um ataque de um jornal [Intercept Brasil] que tem essa linha editorial, inclusive ligado a grandes empresas internacionais, contra um militante, digamos assim, um intelectual brasileiro que se apresenta como marxista e procura defender o ponto de vista do marxismo como ele entende.
Eu vi também outros órgãos de esquerda atacando o governo Lula. Tenho a impressão de que está em marcha uma operação contra o governo do PT. O 247 é um órgão facilmente identificável como sendo petista, embora não se declare como tal. Mas ele se apresenta como apoiando a política do governo Lula e tem sido alvo de vários ataques. Esse não é o primeiro ataque.
Lógico, o 247 será provavelmente o principal órgão do campo, digamos assim, amplamente concebido, grosso modo, petista. Eu não vejo esse ataque como algo gratuito, para que não tenha nada mais por detrás. Nós temos que ficar atentos, porque todos sabemos que o imperialismo organiza essas operações de derrubada de governos, etc. Isso veio à tona, inclusive, no caso da Dilma.
Acho que temos que ficar bem atentos a todo tipo de movimentação. Não estou dizendo que há uma relação direta entre os casos, mas estou fazendo uma análise mais política e geral. Vejo que isso está crescendo, e é preocupante quando você percebe que, a dois anos da eleição, há novamente uma instabilidade dentro da esquerda, algo que obviamente beneficia a direita. Uma direita que, de alguma maneira, quer ocupar um espaço em relação à extrema direita.
Acho que o problema não é tanto a extrema direita usar isso, e sim que o objetivo seja desacreditar um setor da esquerda. Esse é o alvo.
Nós vimos isso no golpe de 2016. Não vou dizer que toda a esquerda estava no bolso do imperialismo, embora eu acredite que uma parte estivesse. Mas, de qualquer forma, ela atuou como ferramenta do imperialismo para derrubar o governo Dilma Rousseff, em uma operação antidemocrática que favoreceu quem? A extrema direita.
No final das contas, precisamos prestar muita atenção. Uma coisa é ser crítico do PT de maneira honesta, franca e declarada, com críticas fundamentadas e dentro de um debate político necessário. Outra coisa é uma acusação como essa. O Leonardo Attuch foi praticamente – ou melhor, não praticamente, ele foi – acusado de estar vendido para o Google, uma empresa estrangeira. Foi um ataque baseado em quê? Em nada. Dá para ver que é um ataque simplesmente para atacar.”