Em seu discurso durante o ato de celebração à Operação Dilúvio de Al-Aqsa, realizado na sede da Apeoesp, em São Paulo, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, comparou a “alegria” que sentiu ao ver o ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, às bases militares israelenses que cercam Gaza, a um momento histórico de sua vida política: a entrada das tropas do Vietnã do Sul em Saigon, expulsando os norte-americanos. Essa analogia, logo de início, estabeleceu o tom de seu discurso, posicionando a luta palestina no mesmo patamar de outras grandes revoltas anti-imperialistas do século XX.
O dirigente do PCO não hesitou em expressar seu apoio incondicional ao Hamas. “Nós não éramos 100% Hamas, nem 200, nem 300% Hamas, nós éramos 1000% Hamas”, declarou, enfatizando que essa posição, embora inicialmente incompreendida por muitos, hoje estaria ganhando a adesão do setor “mais crítico e pensante” da esquerda brasileira. Para Pimenta, a tenacidade, coragem e “sabedoria política” dos lutadores da resistência palestina, que ele chamou de “verdadeira epopeia política”, superaram até mesmo a luta do povo vietnamita, que ele considerava o maior exemplo de combate ao imperialismo.
Ele também destacou o sentimento de orgulho que a resistência palestina lhe inspira, descrevendo a situação dos combatentes, “escondidos em túneis, sem reservas, sem apoio do estrangeiro”, enfrentando o que ele chamou de “exército monstruoso”. Em um gesto de humildade, Pimenta, um marxista, afirmou que “abaixa a cabeça” diante de um movimento que se diz islâmico e que atua com tamanha dedicação. “Tomara um dia no Brasil a gente venha desempenhar um papel como esse”, desejou.
A fala de Pimenta foi marcada por ataques diretos e contundentes à extrema direita brasileira, que ele chamou de “escória” e “ralé”. Para ele, essas pessoas têm a “mesma mentalidade da escória nazista”, pois, segundo sua visão, “matam as pessoas e depois eles choram se fazendo de vítimas”, em uma “escola do nazismo alemão”. O presidente do PCO comparou a campanha de vitimização dos assassinos de criança ao discurso da Alemanha nazista, que, em sua ascensão, também se apresentava como “coitada” e “humilhada” para justificar suas ações.
Pimenta reforçou a ideia de que o sionismo, por ter adotado essa mesma mentalidade, estaria na mesma linha do nazismo. “O partido do senhor Netaniahu é descendente do nazismo alemão. É a mesma escória, é o mesmo lumpenproletariado, os mesmos criminosos, as mesmas pessoas abjetas”, afirmou. Ele também criticou a imprensa, como a Folha de S.Paulo, e o que ele chamou de “lixo de humanidade” que apoia o genocídio na Palestina.
Em seu discurso, Rui Costa Pimenta também criticou setores da esquerda, especialmente membros do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele se referiu à sessão solene no Senado Federal para, segundo ele, homenagear “os genocidas” e denunciar o Hamas. O PCO, segundo ele, não leva a sério as críticas da direita, mas se mostrou profundamente chocado com a postura de um senador do PT.
Pimenta expressou seu protesto e conclamou os militantes do PT a se manifestarem contra o que ele chamou de “degradação” do partido, referindo-se à fala do senador Jacques Wagner, líder do PT no Senado, que teria afirmado que “o Hamas tem que ser exterminado”. Para Pimenta, isso “ultrapassa qualquer limite” e não pode ser ignorado.
O dirigente do PCO defendeu o direito do povo de resistir à opressão, “pegar em armas para lutar contra os opressores”. Ele argumentou que, se a esquerda brasileira permitir que a ideia de não ter o direito de se rebelar seja dominante, isso representará uma “derrota ideológica essencial”. Segundo Pimenta, “este ato é a defesa desse direito”, referindo-se à luta dos palestinos como um exemplo que deve ser seguido e defendido por todos os povos oprimidos.
Para Rui Costa Pimenta, a operação do Hamas em 7 de outubro de 2023, que ele chamou de Operação Dilúvio de Al Aqsa, foi um “grande ponto de inflexão” na política mundial, superando até mesmo a derrota dos norte-americanos no Afeganistão e a operação russa na Ucrânia. Ele argumentou que a ação palestina mudou “completamente a política mundial” e foi um revés para a “ofensiva do imperialismo” que, segundo ele, tem caracterizado a política internacional nos últimos anos.
Pimenta concluiu sua fala reafirmando o apoio de seu partido à resistência palestina, “um milhão por cento”, e disse que a luta do Hamas é a “ponta de lança da luta dos povos”. Para ele, não é possível fazer nenhum “reparo” à luta travada na Palestina, pois ela representa o que há de mais “heroico, dedicado e tenaz” na luta contra a opressão.
Leia na íntegra o discurso do presidente do PCO:
Boa noite, companheiros. Boa noite, companheiros. Já… Nós estamos aqui já, além da décima intervenção sobre a questão. Eu não vou repetir as várias coisas que foram ditas aqui, com as quais eu concordo. A maioria das coisas que foram ditas, eu concordo. Queria destacar alguns aspectos específicos do problema da luta do povo palestino.
Primeiramente, queria recordar que, no sábado, dia 7 de outubro de 2023, eu acordei, fui ver a imprensa e vi o ataque que o Hamas fez contra as bases militares israelenses que cercam Gaza. Eu tive um momento de alegria que só foi comparável, na minha vida política, ao momento em que eu vi as tropas do Vietnã do Sul entrarem em Saigón, expulsando os norte-americanos de lá. Naquele dia, eu fiz, como faço todos os sábados, uma análise da situação política e destaquei que a minha posição pessoal e a posição do meu partido — apesar de que eu não tive tempo de consultar o partido, mas eu sei, eu conheço o partido em que eu milito — é que nós não estávamos do lado do Hamas simplesmente. Nós não éramos 100% Hamas, nem 200, nem 300% Hamas; nós éramos 1000% Hamas.
Eu sei que, devido à pressão da campanha de propaganda que foi feita, muitas pessoas não compreenderam essa colocação, mas eu acho que hoje o setor mais crítico, mais pensante da esquerda nacional, está com essa colocação que nós fizemos. Quem conquistou a consciência dessas pessoas foram os lutadores das Brigadas Al-Qassam do Hamas.
Quando eu vejo esses dois anos de luta que nós acompanhamos aqui, cotidianamente, de um lado, sofrendo junto com o povo palestino pela violência inacreditável do imperialismo e do sionismo, mas, por outro lado, sentindo um orgulho inacreditável de pessoas que, durante dois anos, escondidas em túneis, sem reservas, sem apoio do estrangeiro, têm combatido esse exército monstruoso que é a representação do imperialismo naquela região… é uma coisa extraordinária, é uma verdadeira epopeia política. Eu pensei durante muitos anos que nós nunca veríamos uma luta tão profunda contra o imperialismo como fez o povo vietnamita. Mas o Hamas desmentiu essa minha ideia. É inacreditável. É uma coisa espetacular, é uma coisa maravilhosa. E nós conseguimos, eu tenho quarenta e seis anos de militância, nós conseguimos militar dia após dia por causa de pessoas como as que compõem a resistência palestina. Nós conseguimos enfrentar esse panorama sombrio que nós vivemos no mundo.
Nós temos que lembrar que essa reviravolta que o Hamas provocou — o companheiro Breno descreveu muito bem aqui — é um acontecimento histórico, mudou completamente a política mundial, ela veio na esteira de uma série de problemas políticos gravíssimos, de uma ofensiva do imperialismo. Nós assistimos à ocupação do Iraque, que foi uma coisa monstruosa como o sionismo está fazendo em Gaza. Ninguém fala muito disso. Mas nós tivemos que assistir duas vezes. Naquela época não tinha internet, você era obrigado a assistir a Rede Globo, a ver a tortura. E era assim, as notícias eram assim: ‘A aviação norte-americana… eles despejam não sei quantas toneladas de bomba em cima de Bagdá’. Você está ali, daí você abre o jornal para ler a Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, e é a mesma coisa. É uma espécie de tortura esse tipo de coisa. Duas vezes.
Finalmente, o Iraque foi ocupado, e depois eles conseguiram expulsar os ocupantes. Quer dizer, nós vivemos aqui uma época muito sombria. Claro que nós sempre tivemos a avaliação de que isso não ia durar, que cedo ou mais tarde as coisas iriam mudar. E o grande ponto de inflexão não foi apenas a derrota dos norte-americanos no Afeganistão, nem mesmo a operação russa na Ucrânia. O grande ponto de inflexão foi Gaza. O 7 de outubro foi a operação do Dilúvio de Al-Aqsa. Isso foi promovido por pessoas que, basicamente, só têm como arma a sua dignidade humana e a sua coragem militante.
Muita gente veio nos dar lição de moral sobre o caráter islâmico, religioso do Hamas. Eu vou dizer para vocês uma coisa que é exatamente o que eu sinto: se nós do PCO estivéssemos na Palestina, nós não faríamos nada, nada diferente do que tem feito o Hamas. Eu, como marxista, como comunista, eu abaixo a cabeça diante de um movimento que se diz islâmico e que atua com essa tenacidade, com essa coragem, com essa sabedoria política que nós temos visto na resistência palestina. É uma coisa que tem que nos encher de humildade. Tomara que um dia, no Brasil, a gente venha a desempenhar um papel como esse.
Quando nós convocamos esse ato, a extrema-direita veio com a sua famosa cantilena: ‘Estão defendendo terroristas e não sei o quê, não sei o quê lá. Eu tenho a dizer o seguinte, espero que eles vejam esse vídeo, eles vão ver esse vídeo: estão latindo no portão errado. Podem abrir dois mil processos contra o PCO e os seus dirigentes e os outros companheiros, como os que estão aqui, que estão lutando em defesa do povo palestino. Ninguém vai abaixar a cabeça para esses vagabundos. Eu queria dizer para vocês o que eu penso dessa gente. Queria ser bem sincero com vocês e dizer o que eu penso dessa gente. Eles têm a mesma mentalidade da escória nazista. Não é simplesmente porque eles estão matando os palestinos, não. É a mesma mentalidade de escória, de ralé, de covardes. Eles matam as pessoas e depois eles choram, se fazendo de vítimas. As pessoas que nos atacaram apoiam o genocídio na Palestina, são apoiadores do assassinato de crianças. E eles vêm se fazer de vítimas. ‘Ah, o PCO apoia terroristas’. Isso é uma coisa indigna de um ser humano. É uma coisa de nazismo, é a escola do nazismo alemão. É a escola do nazismo alemão, se fazer de coitado. ‘Ah, Alemanha, humilhada. Ah, os Sudetos’… Isso e aquilo, ‘tem lá nosso território, nós somos os coitados’. E entravam lá e matavam todo mundo, massacravam todo mundo.
Aí você vai discutir com eles, eles falam, como falou uma moça na Folha de S.Paulo, que ‘precisa desarmar para ter paz’. Isso é aquele… Vocês devem ter visto em algum filme aqueles ônibus que eles colocavam gente dentro com gás e na janela eles colocavam as pessoas sorrindo. É um lixo de humanidade. O sionismo vem dessa escola, não é coincidência. Eles nasceram daí. Quando a gente fala que isso é o nazismo, nós estamos falando simplesmente um fato histórico, porque o partido do senhor Netanyahu é descendente do nazismo alemão. É a mesma escória, é o mesmo lumpemproletariado, os mesmos criminosos, as mesmas pessoas abjetas.
Nós não levamos a sério essas críticas. É bom que o pessoal entenda. Viraram aqui no nosso ato e escaparam de apanhar porque a polícia protegeu esse pessoal. Queria mandar essa mensagem para todos, para a Folha de S.Paulo, para o vice-governador do Estado, para o senhor Guto Zacarias, que foi contratado aí para fazer campanha em defesa desses assassinos. Nós não levamos a sério. Pressionaram a Academia Paulista, o pessoal cedeu. Uma parte da esquerda, infelizmente, não tem a maturidade para reagir. Mas nós temos a consciência, primeiro, de que nós estamos tratando com o lixo. E segundo, de que nós não somos minoria. Eles aparecem na imprensa, os deputados, etc. Mas a maior parte do povo brasileiro e a totalidade da esquerda apoia a luta dos palestinos.
Queria destacar, acho que um ato como esse não é bem para a gente sair por aí criticando o pessoal da esquerda, mas é uma coisa que não dá para deixar de falar, que é o que aconteceu no Senado Federal hoje. Primeiro, o Senado convocou um ato para homenagear os genocidas. É uma coisa inacreditável de se ver. Porque os senadores não sabem que estão matando gente na Palestina a rodo, estão jogando bomba na cabeça de crianças, estão jogando bombas incendiárias em cima das tendas que o pessoal usa para se abrigar porque perderam suas casas? Eles não sabem disso? Que tipo de gente é essa? Fizeram um ato para comemorar. Segundo eles, é um ato para denunciar o Hamas. Veja, veja o cinismo. Estão denunciando as pessoas que têm sido massacradas aí há um século por esses monstros. E elogiando o crime. O Senado Federal realizou uma sessão solene para homenagear o crime de genocídio.
E infelizmente nós tivemos que ver um senador do PT, Jacques Wagner, líder do PT no Senado, falar que o Hamas tem que ser exterminado. Veja a expressão usada: exterminado. Eu queria deixar aqui não apenas o protesto contra isso, mas eu queria conclamar os militantes e filiados do PT a protestarem, porque isso é uma degradação do maior partido de esquerda que existe no Brasil. Não é possível deixar que alguém faça uma coisa dessa. Nós criticamos o governo em várias oportunidades, mas isso que nós vimos hoje no Senado ultrapassa qualquer limite. Não pode passar em brancas nuvens. Não podemos deixar que a coisa seja assim.
Por quê? Por que é importante isso, companheiros? Porque, como foi dito aqui, nós não estamos defendendo apenas a luta do Hamas na Palestina, o que já seria uma coisa enorme. Nós estamos defendendo o direito de todos os povos e o nosso de resistir à opressão. É um direito, como foi dito aqui, reconhecido inclusive pela ONU, que é uma porcaria, que não defende ninguém. Até a ONU reconhece isso. Mas no Brasil não. No Brasil, veio uma pessoa importante do maior partido de esquerda e fala que a resistência tem que ser exterminada. Como é possível isso? Quer dizer que nós não temos direito amanhã, se nós sofrermos uma ditadura ou se o povo se rebelar, de pegar em armas para lutar contra os opressores? Não temos esse direito? Não, nós temos esse direito. E nós temos que defender esse direito sempre.
É uma luta ideológica fundamental. Não podemos abrir mão desse direito. Ninguém vê… Veja, nós vivemos num país que tem um povo que é muito sofrido, um dos mais sofridos do mundo. Esse povo, ele tem o direito de se rebelar. Eu diria até que ele tem o dever de se rebelar. Então, nós não podemos aceitar que venha alguém… Os direitistas, que ficam latindo aí, é o papel deles. Eles são uma escória. Mas não podemos aceitar que, dentro da esquerda, alguém venha falar uma coisa dessas. Nós temos que defender o nosso direito de reagir à opressão de armas na mão. Isso não é uma coisa, você não precisa ser comunista para defender isso. A constituição francesa da época jacobina inscreveu na constituição, uma constituição burguesa, o direito e o dever do povo de se levantar de armas na mão contra a opressão dentro do seu próprio país, que dirá se você for ocupado por um país estrangeiro.
Então, esse ato aqui é uma defesa do Hamas, é uma defesa do povo palestino. Tanto o Hamas como o povo palestino são uma organização e um povo heroicos, até um ponto que é inacreditável, mas é uma defesa do nosso direito de lutar contra a opressão. Se nós permitirmos que o movimento operário brasileiro, a esquerda brasileira, seja dominada pela ideia de que você não tem o direito de se rebelar, isso é uma derrota ideológica essencial. Esse ato é a defesa desse direito. É isso que nós estamos fazendo aqui hoje.
Quando a operação do 7 de outubro completou um ano, nós fizemos um ato. Não teve a mesma repercussão. A gente tem que se perguntar por quê, o que está acontecendo, o que aconteceu? O que aconteceu é que, de 7 de outubro de 2024 a 7 de outubro de 2025, o retrocesso do sionismo, tanto do ponto de vista da opinião pública mundial, como no terreno militar na Palestina, foi enorme. Sem a luta do Hamas, essa opinião pública não existiria, já foi dito aqui. A situação entrou numa crise muito grande. Todo mundo está agora querendo uma solução para o problema. E qual é a solução que eles acharam? ‘Precisa desarmar o Hamas’. Aí eu vi, muita gente falou: ‘Não, o Hamas concordou em se desarmar’. Eu falei: ‘De jeito nenhum’. Não dá nem para levar a sério isso.
Nesse sentido, a gente sente que nós estamos aqui, nós somos unha e carne com os lutadores da resistência palestina. Eu falo Hamas, mas eu também estou me referindo aos outros grupos da resistência. É que o Hamas é a coluna vertebral da resistência. Nós estamos com o Hamas. O Hamas é a ponta de lança da luta dos povos, como disse o companheiro Breno Altman. Não há, não é possível, você colocar nenhum reparo na luta que está sendo travada na Palestina, né? Nós temos que ter a humildade de olhar e falar isso. Se alguma vez na minha vida eu vi heroísmo, dedicação, tenacidade, convicção… se alguma vez na vida eu vi isso, nós estamos vendo agora na resistência palestina. E nós estamos aqui, mil por cento, um milhão por cento, um milhão por cento com a resistência palestina.





