Não raramente, surge algum apologista das monstruosidades criadas pelo grande capital para questionar: “onde o comunismo deu certo?”. Fato é que o comunismo nunca existiu ainda. Trata-se de uma fase superior, a qual a humanidade ainda não conheceu.
No início da obra Princípios Básicos do Comunismo (1847), o revolucionário alemão Friedrich Engels define o comunismo como a ciência das condições de libertação do proletariado. Mas que libertação seria esta?
O estudo científico da sociedade atual — a sociedade capitalista — mostra que os bens essenciais à vida — como comida, moradia, transporte e acesso à tecnologia — são produzidos por milhões de trabalhadores, mas são propriedade de poucos indivíduos. Esta minoria, que controla os meios de produção, detém o poder econômico e político e determina o rumo da sociedade de acordo com seus interesses privados.
Este modo de produção faz com que poucos se apropriem da riqueza gerada por muitos, mantendo a maioria da população em condições desumanas de vida e de trabalho. Ao transformar tudo em mercadoria, inclusive o trabalho humano, a propriedade privada impede que as necessidades reais da população sejam atendidas, causando todos os males de nossos tempos.
A tarefa central para libertação do proletariado, portanto, consiste na abolição da propriedade privada. Na obra citada, Engels nos ensina que:
“A abolição da propriedade privada é a expressão mais breve e mais característica desta transformação de toda a ordem social necessariamente resultante do desenvolvimento da indústria, e por isso é com razão avançada pelos comunistas como reivindicação principal.”
Uma vez definida a tarefa central da revolução comunista, é possível então responder à seguinte pergunta: que sociedade surgirá com a revolução?
Em Princípios Básicos do Comunismo (1847), Engels explica que, com o fim da propriedade privada — isto é, o controle privado das forças produtivas, meios de transporte, troca e distribuição dos bens —, a sociedade passará a administrar sua produção de forma planejada, baseada nos recursos disponíveis e nas necessidades da sociedade como um todo.
O grau de desenvolvimento das forças produtivas — como a automação industrial, a inteligência artificial e os sistemas logísticos globais — já permitem organizar a economia de forma muito mais racional e eficiente e voltada para o bem-estar de todos. No entanto, o domínio privado dessas tecnologias impede seu uso pleno para fins sociais.
Com a racionalização da produção, as crises econômicas deixarão de existir e o caos provocado pela concorrência capitalista dará lugar a um alargamento da produção.
Em vez de aumentar a pobreza — como é hoje na sociedade capitalista —, a produção garantirá que todos tenham o que precisam, criando inclusive novas necessidades – e, ao mesmo tempo, os meios para satisfazê-las. Segundo o revolucionário alemão, a indústria, livre da pressão do capital privado, se desenvolverá de forma tão ampla após a revolução comunista que o estágio atual “parecerá tão limitado quanto a manufatura diante da indústria moderna”.
O fim da propriedade privada também permitirá uma profunda transformação na agricultura, que poderá enfim desfrutar dos avanços científicos e tecnológicos, alcançando um novo patamar e suprindo a sociedade com alimentos em abundância.
A revolução tornará obsoleta a divisão do trabalho. O novo modo de produção criará e exigirá pessoas novas, completamente distintas do torneiro mecânico, do cortador de cana ou do sapateiro. Serão indivíduos que não estejam limitados a uma única função, presos e explorados por ela, mas que tenham desenvolvido suas habilidades de forma ampla e conheçam o sistema produtivo como um todo.
Na sociedade capitalista, já há uma pressão para que os indivíduos acumulem funções, mas com o objetivo de aumentar os lucros, sob condições de trabalho mais degradantes. É o caso, por exemplo, do motorista de ônibus com dupla função ou do caixa de supermercado que também limpa, repõe o estoque e faz atendimento. Na sociedade comunista, tudo poderia ser substituído pela supervisão da atividade realizada por um conjunto de máquinas.
Tudo isto irá demandar uma profunda transformação na educação. A nova sociedade exigirá que os jovens conheçam rapidamente todo o sistema de produção e possam mudar de atividade conforme as necessidades sociais ou suas próprias inclinações.
Com o desenvolvimento da sociedade após o fim da propriedade privada, a separação da sociedade em classes opostas se tornará não apenas desnecessária, mas incompatível com esta nova organização social.
Por fim, desaparecerá o contraste entre cidade e campo. A agricultura e a indústria serão conduzidas pelas mesmas pessoas, e não por duas classes separadas.
A abolição da propriedade privada como tarefa central da revolução comunista será discutida a fundo na 53ª Universidade de Férias do Partido da Causa Operária (PCO), realizado em conjunto com o Acampamento da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR) entre os dias 6 e 13 de julho.
O curso, intitulado A teoria marxista da revolução, será ministrado pelo presidente nacional do PCO, Rui Costa Pimenta, e é aberto a todos os interessados. Inscreva-se já, basta acessar unimarxista.org.br.