Cultura

Prisão de Mc Poze do Rodo: não é racismo, é censura

Revista Movimento publica matéria sobre a prisão de MC Poze do Rodo, tentando colocar isso na conta do racismo, e não da censura

Mc Poze do Rodo

O artigo MC Poze e o racismo à brasileira: quando ser preto já é crime, publicado no sítio Revista Movimento, ligado ao MES/PSOL, não consegue elucidar o que está por trás da prisão do artista MC Poze do Rodo. Tudo o que o texto faz é se perder em teses pequeno-burguesas sobre “racismo estrutural” e repetir chavões desgastados.

Logo de início, o olho do artigo afirma: “quando um jovem preto canta sobre sua vivência e isso é tratado como prova criminal, o que está sendo julgado não é a letra, mas sua identidade”. Trata-se de mais uma ladainha típica da ideologia identitária.

O humorista Léo Lins foi condenado a oito anos de prisão por contar piadas – um absurdo com o qual os identitários compactuam. Breno Altman, que é judeu, recebeu condenação por criticar o sionismo. Militantes do Partido da Causa Operária (PCO) estão sendo investigados e respondem a inquéritos por defenderem a luta do povo palestino. Onde entra, aí, a tal “identidade”?

O Supremo Tribunal Federal (STF) vem impondo uma ditadura cada vez mais fechada no País, e conta com o apoio dos setores identitários, que buscam perseguir e punir politicamente a expressão de ideias. Denunciam a prisão de MC Poze, mas aplaudem o cerceamento da liberdade de expressão no caso de Leo Lins, por exemplo.

Tanto MC Poze quanto os exemplos citados respondem por aquilo que expressam. No Brasil, embora a Constituição Federal garanta a liberdade de expressão de maneira irrestrita, esta foi assassinada – e com apoio dos identitários. Com a conversa fiada de “liberdade com responsabilidade”, o que se vê é a repressão total ao direito de falar. Criticar o sionismo, que bombardeia civis na Faixa de Gaza, pode resultar em condenações por racismo ou “ódio”.

‘Apologia do crime’ é opinião

No primeiro parágrafo do artigo, lê-se:

“Na última semana, o funkeiro MC Poze do Rodo foi preso em sua casa, no Rio de Janeiro, sob acusações de apologia ao crime e suposta ligação com o tráfico de drogas.”

Um dos significados da palavra apologia, segundo o dicionário, é: “discurso ou texto em que se defende, justifica ou elogia (especialmente uma doutrina, ação, obra etc.)”. Trata-se, portanto, de opinião. E toda pessoa tem o direito de expressar opiniões. É isso que deveria estar em debate.

Dizer que “o racismo no Brasil não é um desvio; é parte constitutiva do funcionamento do Estado e do capitalismo” é esconder que o que importa é, fundamentalmente, a classe de determinada pessoa. Em seguida, com a consideração de que “a abolição não foi acompanhada de políticas de inclusão ou reparação”, o artigo em questão mostra o que quer defender: a luta contra a opressão do passado, e não do presente.

Por mais que se condene a escravidão, essa ladainha identitária não resolve nada. A luta deve ser contra a escravidão moderna, a escravidão assalariada, contra a burguesia nacional e o imperialismo. Os identitários deveriam abandonar o moralismo e compreender a luta de classes.

Quem dita as normas é a burguesia

O autor do artigo escreve: “a cultura dominante no Brasil, historicamente branca e eurocentrada, desvaloriza e tenta embranquecer ou acabar com qualquer forma de expressão artística que expõe o real cenário que o capitalismo criou. Apesar disso, a cultura negra no Brasil é viva e resistente”.

O samba é desvalorizado? O Brasil é o país mais miscigenado do mundo, e a contribuição da cultura negra é evidente e celebrada. A ideologia identitária, esta, sim, é uma importação do imperialismo norte-americano. E é ela que domina a esquerda pequeno-burguesa.

Fala-se, ainda, do encarceramento em massa e se afirma que “o racismo funciona como um instrumento de fragmentação da classe trabalhadora, mantendo os setores mais explorados ocupando os postos mais precarizados, desmobilizados e vulneráveis à repressão”. Trata-se de mais um engodo. Quem fragmenta a luta da classe operária são os próprios identitários.

Quanto ao encarceramento em massa, os identitários estão entre os que mais exigem prisões. São os defensores de novos “crimes”: gordofobia, lgbtfobia, capacitismo e outras invencionices pequeno-burguesas. Isso, sim, fortalece o regime repressivo e policialesco.

Um país dividido interessa ao imperialismo

O artigo finaliza com o seguinte alerta: “enquanto a sociedade não encarar o racismo como estrutura funcional do país, casos como o de Poze seguirão se repetindo, camuflados sob discursos legais, mas motivados por um preconceito tão antigo quanto a própria nação”.

Os identitários vivem repetindo chavões como “racismo estrutural”, mas jamais explicam qual seria essa estrutura. Repetem isso como se fosse uma lei natural, científica, imutável. A frase final – “tão antigo quanto a própria nação” – revela o verdadeiro propósito do identitarismo: apresentar o Brasil como um erro histórico. É exatamente o que quer o imperialismo, dividir o País para melhor saquear suas riquezas.

A prisão de MC Poze, longe de ser resultado de uma perseguição racial, é mais um episódio da escalada autoritária do Judiciário, que tem perseguido sistematicamente todos os que se expressam fora dos limites impostos pelo regime, independentemente de sua origem, cor ou identidade. A tentativa de explicar esse processo como um problema de “identidade” é uma cortina de fumaça montada por setores da esquerda pequeno-burguesa para ocultar a verdadeira causa: a ditadura cada vez mais aberta que se impõe no País.

Defender MC Poze, portanto, exige denunciar o regime repressivo que o persegue — o mesmo que condenou Léo Lins e tantos outros — e não repetir a ladainha identitária que serve, no fim das contas, para justificar e fortalecer esse mesmo regime.

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