Primeiro de tudo: não fale nada. Há cerca de 380 mil verbetes na língua portuguesa — destes, 150 mil são racistas, 200 mil são homofóbicos e 29.999 são capacitistas.
Faça as contas. No parágrafo acima, usei 29 palavras. Portanto, proporcionalmente, 11 palavras racistas, 15 palavras homofóbicas e 3 palavras capacitistas.
11 X R$50.000 = R$550.000
15 X R$75.000 = R$1.125.000
3 X R$30.000 = R$90.000
R$1.765.000 de multa. Ah, e tem a multa 29. Vinte e nove dá azar para juiz careca. Ponha então R$2 milhões, para arredondar.
Eu não tenho, nem nunca vou ter R$2 milhões. Multa por ser pobre. R$3 milhões. E como cheque sem fundo é coisa do passado, só poderei pagar com três séculos de prisão.
Minha liberdade agora está condicionada a duas coisas. Uma: que você não me denuncie. E se me denunciar, você está f***ido, pois te acusarei de racismo. Duas: que o juiz enlouqueça e decida aplicar a Lei.
Tudo isto para dizer: NÃO FALE NADA.
Mas não falar não basta. Um dia você cruzará na rua com um honorável cidadão, e este perguntará:
– Você já chorou hoje pelas vítimas que morreram no holocausto há 90 anos?
Você não falará nada, pois eu disse para você não falar. Mas e se falar? Se disser “sim”, será preso por mentir. Se disser “não”, será preso por antissemitismo. E se não falar nada?
Ora, também será antissemitismo! Pois assim diz a nossa Constituição Federal:
“E não deixeis um vagabundo genocida no vácuo. Pena: dois anos de reclusão.”
Quer um conselho?
Ignore a Constituição. Deixe o vagabundo no vácuo.
Você será intimado. Diga (ou melhor, gesticule) que é mudo, por isso deixou o vagabundo no vácuo. Acuse-o de capacitismo.
O vagabundo dobrará a aposta. Dirá que é antissemitismo acusar de capacitismo o cara que o acusou de antissemitismo.
Irão ao tribunal. “Com a palavra, o sr. Mudinho da Silva”.
E essa será sua única chance. Gesticule isto, ou prepare-se para mofar na cadeia: que o vagabundo genocida é um antissemita.
Ora, mas como assim, se ele é careca, galeguim e tem um hexagrama tatuado no antebraço?
Eu provo: ele é antissemita porque desonrou a raça pura ao falar com um mudinho.
Não há nada na nossa Lei que proíba alguém falar com um mudinho. Mas assim diz nossa Constituição Federal:
“E se a Lei de Israel diz que é verdade, verdade o é.”
Diz a Lei de Israel que quem falar com uma raça inferior será condenado à morte.
Agora, foge enquanto é tempo. Antes que seja acusado de roubar os cabelos do juiz.