Em Mídia comercial já declarou guerra contra Lula, publicado no Brasil 247 nesta segunda-feira (9), Tiago Barbosa indica desconhecer a função da imprensa burguesa ao demonstrar surpresa com o fato de que a tal “mídia comercial” age contra Lula e seu governo.
“A mídia comercial declarou guerra contra Lula já de olho em 2026 — é corrida contra o tempo para emplacar um direitista da vez”, diz.
A guerra que a grande imprensa teria declarado agora contra Lula é travada desde o primeiro dia de seu governo — para não falarmos na atuação dos grandes veículos antes do terceiro mandato do petista.
Pode parecer mero detalhe, mas a “descoberta” de que os jornais trabalham para minar o governo Lula é expressão da total incompreensão do papel da imprensa burguesa. Enquanto representantes da burguesia, estes veículos servem aos interesses da classe dominante. A partir do momento em que o presidente é, em menor ou maior grau, representante dos trabalhadores, estes órgãos têm como missão impedir que o governo dê um passo sequer à esquerda.
Análises como a apresentada por Barbosa servem, nesse sentido, para esconder o caráter de classe da grande imprensa. Afinal, se a “mídia” só declarou guerra ao governo Lula agora, abre-se a possibilidade de que esteja “em paz” com o petista, ou até mesmo que atue para o favorecer.
A partir disso, se analisaria a ação da grande imprensa de maneira individual, e não de conjunto. Em outras palavras, os grandes jornais não seriam inimigos de classe dos trabalhadores, forças com as quais não é possível se conciliar. Seriam agentes políticos como qualquer outro: enquanto tal artigo é positivo, outro não o é; enquanto tal jornal é mais progressista, o outro é mais reacionário; e assim por diante.
Decerto que, em determinado momento, a imprensa burguesa pode adotar uma postura mais amena em relação ao governo. É certo também que, quando o governo adota medidas direitistas, como é o caso de toda a sua política econômica, será parabenizado pelos grandes jornais — mas nunca da mesma maneira que tratam seus verdadeiros aliados.
Isso é expressão justamente do caráter de classe da imprensa burguesa. Os monopólios de comunicação adotarão um sem número de posições políticas ao longo do tempo. Mas uma coisa não muda: o fato de que servem aos interesses da burguesia e que adotarão determinada linha editorial de modo a atingir estes interesses.
É importante entender afundo essa caracterização para entender que tudo aquilo que é publicado pela grande imprensa deve ser analisado com base na luta de classes e partindo do pressuposto de que tudo, absolutamente tudo, serve aos interesses da burguesia. Algo que pode ser resumido, de maneira simplória, pela famosa frase de Leonel Brizola:
“Quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante de qualquer situação, atentem: Se a Rede Globo for a favor, somos contra. Se for contra, somos a favor!”
Passemos, agora, para outro aspecto da argumentação do colunista do Brasil 247. Em seu breve texto, Tiago Barbosa diz:
“Há uma diretriz óbvia de esconder tudo de positivo sobre o petista, menosprezar avanços e, se possível, ocultar a autoria.
O cálculo é para evitar qualquer benefício à imagem do presidente e, junto às pesquisas, criar um desgaste progressivo.
É essa campanha em andamento a razão para pintar a histórica viagem de Lula como passeio desnecessário e perdulário.
É essa a explicação para recortes indigentes sobre diárias, despesas, gastos insignificantes diante do simbolismo e dos resultados.”
Como foi dito, é fato que a grande imprensa atua para minar o governo Lula, algo que vem se intensificando nos últimos meses — basta ver o escândalo do INSS, dos Ministérios das Mulheres, dos Direitos Humanos e mais. No entanto, é chato dizer, mas também é fato que o governo Lula tem cedido à pressão da direita e, com isso, tomado uma série de medidas absolutamente impopulares.
Nesse sentido, o presidente facilita o trabalho da imprensa, que não precisa ir longe para atacar o seu governo e sair na vantagem do ponto de vista da opinião popular. Muitas das tais viagens históricas de Lula, como diz o colunista, são, sim, negativas. Afinal, o petista foi até Paris se encontrar com um dos maiores genocidas do século, o banqueiro Emmanuel Macron, confundindo a população ao identificar um imperialista de primeira linha como amigo dos trabalhadores, democrata etc.
É claro que a imprensa não se importa com a condição do povo e acha positivo que Lula faça esse tipo de coisa — quanto mais atrelado ao imperialismo, melhor para os grandes jornais. É claro, também, que a crítica contra esse tipo de ação é oportunista e serve para enfraquecer o governo, como Barbosa mesmo disse.
No entanto, qual deve ser a política da esquerda diante disso? Defender o governo contra os ataques da imprensa? Sim e não: ao mesmo tempo em que se denuncia que os grandes jornais são cachorros do imperialismo e, portanto, agem contra Lula; é preciso apontar os erros do governo no sentido de o empurrar cada vez mais à esquerda.
Finalmente, o objetivo da imprensa é empurrar o governo para a direita. Pelo caráter de classe do governo Lula, não consegue fazê-lo do jeito que quer — Lula nunca será, nesse sentido, Milei — e, portanto, os grandes jornais servem para mantê-lo paralisado, sem conseguir avançar naquilo que importa aos trabalhadores.
Daí que vem a necessidade de fazer frente a essa pressão e pressionar o governo na direção contrária. Denunciando a direita e apontando que a única saída para garantir os interesses dos trabalhadores é por meio da mobilização popular.