Em artigo publicado no portal Brasil 247, intitulado Boulos ministro é Arte da Guerra pura, o marqueteiro Oliveiros Marques defende de maneira muito entusiasmada a hipótese ventilada pela imprensa de o psolista Guilherme Boulos assumir a Secretaria-Geral da Presidência e, assim, entrar no primeiro escalão do governo Lula.
Diz Marques:
“Sun Tzu destaca que conhecer a si mesmo é essencial para se fortalecer diante do inimigo. Isso pode ser interpretado, objetivamente, como conhecer e cuidar do seu território, do seu povo e do seu exército — ou seja, estar preparado internamente.
É isso que, de fato, representa a ida de Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência, cuja principal missão é articular a relação política do governo com os movimentos sociais organizados. Essa relação não está em crise – está, sim, desarticulada. E essa, ao que tudo indica, será a tarefa confiada a Boulos. Porque, como um general sábio, Lula está a cuidar do bem-estar de seus dirigentes e impedirá a desordem no campo.”
É inegável que fortalecer a relação com as bases populares, os trabalhadores, estudantes e movimentos de esquerda em geral, é uma coisa positiva, sendo uma necessidade para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva supere a crise política. Essa articulação seria positiva para atender às necessidades da população e consolidar o apoio ao governo.
A falácia no raciocínio de Marques está em apresentar Guilherme Boulos como um representante genuíno da esquerda, capaz de conectar o governo às bases sociais. A trajetória de Boulos revela o oposto: ele é um agente alinhado aos interesses do imperialismo, cuja atuação tem enfraquecido os movimentos populares e a própria base do governo.
Desde sua ascensão, impulsionada por veículos como a golpista Folha de S.Paulo em 2014, Boulos foi apontadocomo uma figura de “esquerda” para dividir a luta contra o golpe. Ele liderou a campanha “Não Vai Ter Copa”, que serviu para colocar um setor mais despolitizado da esquerda em uma frente única com a direita contra o governo do PT.
Longe de representar os trabalhadores, Boulos atuou para desestabilizar a esquerda, contribuindo para o ambiente que culminou na deposição de Dilma. Após o golpe, o deputado psolista continuou a desempenhar um papel importante para o imperialismo. Em 2018, sua candidatura à Presidência pelo PSOL fragmentou os votos da esquerda no primeiro turno, enfraquecendo a campanha de Lula, então preso pela Lava Jato.
Durante esse período, Boulos esteve vinculado ao Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IREE), uma organização financiada por entidades como o Global Americans, uma ONG de fachada da CIA. Esses laços financeiros reforçam que Boulos não rompeu com sua trajetória de alinhamento ao imperialismo, mantendo-se como um obstáculo à unidade da esquerda. Dado esse retrospecto, a ideia de que Boulos, ao assumir a Secretaria-Geral da Presidência, fortaleceria a ligação com os movimentos sociais é totalmente enganosa.
Outro erro na argumentação de Marques é a afirmação de que Boulos é ligado aos movimentos sociais. Embora tenha ganhado projeção como suposto dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Boulos abandonou o movimento ao se consolidar como figura política. Durante a campanha para a prefeitura de São Paulo em 2020, ele declarou, em entrevista à Folha de S.Paulo que, se eleito, reprimiria ocupações de moradia caso necessário. O próprio parlamentar declarou que já não representa mais nenhum movimento social, revelando ser um elemento totalmente cooptado.
Se Boulos assumir a Secretaria-Geral, o resultado não será uma aproximação do governo Lula com as bases, mas um fortalecimento da influência imperialista dentro do Planalto. Sua trajetória demonstra proximidade com os setores que articularam o golpe de 2016 e a Lava Jato, responsáveis pela prisão de Lula e pela desestabilização do governo Dilma.
A nomeação de Boulos seria um passo para afundar ainda mais a capacidade do governo de atender às demandas populares, desmoralizando-o perante sua base social. Sua atuação só enfraqueceria Lula, tornando o governo mais vulnerável às pressões do imperialismo.
Finalmente, é importante destacar que quando o Sun Tzu orientou seus leitores a conhecer o próprio campo, ele não estava falando nem acreditar em ilusões, mas efetivamente conhecê-lo, saber quem são as pessoas que o compõem. Essa é justamente a parte em que Marques falha miseravelmente e pior, produz uma orientação que é verdadeiramente uma desorientação.
Se por um lado não há razão alguma para crer que os movimentos sociais sairiam fortalecidos dessa indicação, sobram razões para se acreditar que, uma vez na pasta, Boulos poderia impulsionar um novo “Não vai ter Copa”, porém ainda mais forte.