O artigo Conversa de Lula e Trump fecha o caixão do bolsonarismo, assinado por Miguel do Rosário e publicado nesta terça-feira (7) no Brasil247, mostra que muitos setores da esquerda pegaram a mania da “lacração”. Não adianta decretar que o bolsonarismo morreu, pois a polarização social que o criou continua vigente. Na verdade, até se aprofunda.
Rosário afirma que “A videochamada entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na manhã de 6 de outubro de 2025, representa o último prego no caixão do bolsonarismo. Foi Trump quem ligou para Lula, detalhe que o brasileiro fez questão de registrar. Conversaram por 30 minutos, acompanhados por Fernando Haddad, Mauro Vieira, Celso Amorim e Geraldo Alckmin. Segundo apuração de Mônica Bergamo, Trump disse a Lula que o encontro com ele ‘foi a única coisa boa que aconteceu na ONU’”.
Que último prego no caixão? Quem disse que o bolsonarismo está morto. Neste exato momento, estão em andamento uma série de negociações, pois sem o apoio de Bolsonaro, dificilmente a direita terá chance de derrotar Lula em uma eventual disputa presidencial.
Trump pode ter ligado para Lula, mas isso não significa nada, muito menos o elogio. Todos se lembram que enquanto Obama fala que Lula “era o cara”, o esfaqueava pelas costas.
Segundo Miguel do Rosário, “Enquanto Lula articulava em alto nível, a família Bolsonaro assistia sua irrelevância ser decretada em tempo real”. O articulista deveria se lembrar que Lula também foi decretado morto após sua prisão. No entanto, saiu detrás das grades para a presidência.
Bolsonaro está longe de poder ser decretado arruinado. É preciso lembrar que por pouco não se reelegeu, e nada indica que tenha perdido seu capital político.
Miguel do Rosário se vale de uma declaração de um colunista do UOL, que afirma que “a direita brasileira está em guerra civil”. Mas a briga nos bastidores sempre foi intensa, especialmente agora, onde todos estão se mexendo para ver o quanto conseguem abocanhar do apoio de Bolsonaro.
Como escreve o articulista, “de um lado, Ciro Nogueira e o Centrão pragmático já trabalham com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro como fato consumado, buscando nomes ‘viáveis’ como Tarcísio de Freitas ou Ratinho Júnior para 2026. Do outro, Eduardo e sua tropa de choque recusam qualquer alternativa que não represente a pureza ideológica do movimento”. Esses nomes que estão sendo buscados dependem de quê para se tornarem viáveis?
Movimentações
Miguel do Rosário afirma que “Eduardo Bolsonaro colocou-se em um beco sem saída. Ao radicalizar o discurso a ponto de classificar o Brasil como uma ‘ditadura judicial’ e pregar que não haverá eleições em 2026, tornou impossível apoiar um candidato do sistema sem implodir sua própria coerência. Qualquer recuo seria visto como traição pelo núcleo duro que ele cultivou”.
Não foi isso que aconteceu. Ao dizer que o Brasil é uma ditadura judicial, apenas está externando um sentimento (correto) de base eleitoral. A ameaça de que em 2026 pode não ter eleições deve ser levada a sério, pois existe espaço e ambiente para radicalização no País. E não ficou impossível que os Bolsonaros apoiem outro candidato, apenas que o preço acaba de ser elevado.
Segundo o articulista, “o bolsonarismo perdeu sua única moeda de troca: o acesso ao poder americano”. Não é verdade, a moeda de troca são seus votos, pois o país está praticamente dividido entre Lula e Bolsonaro quando se trata de apoio nas urnas.
Em um dos parágrafos, Rosário diz que “a polarização tem seu lado positivo: dá transparência de que lado cada um está. Vejamos o caso de Ciro Gomes, por exemplo, que agora tenta reconstruir sua carreira política através de uma aliança com o bolsonarismo no Ceará”. Em vez de criticar o desempenho de Ciro nas urnas, o articulista deveria concluir que o bolsonarismo tem, sim, relevância. Caso contrário, não estaria sendo visitado por uma raposa como o ex-candidato presidencial.
Defesa do Estado
Em seu texto, Rosário resgata a figura de Deltan Dallagnol, que “critica o STF dizendo que aplica a teoria da democracia militante de Carl Schmitt”. E o corrige dizendo que “na verdade essa teoria é de Karl Loewenstein”. Segundo o qual “os regimes democráticos deveriam ser militantes, no sentido de combater assertivamente aqueles que querem destruí-los”.
Para Rosário, “é uma tese que hoje, no Brasil, é vencedora. Nos Estados Unidos, o regime democrático está aprendendo da maneira mais dura que, se quiser sobreviver, suas instituições também vão ter que arregaçar as mangas e lutar. Vários setores democráticos americanos já caíram sob a bota autoritária de Trump. Agora vão precisar de um judiciário firme, como foi o judiciário brasileiro no enfrentamento do autoritarismo de Bolsonaro”.
O que está escrito aí é que um Joe ‘Carniceiro’ Biden seria representante da democracia, acossada pela “bota autoritária de Trump”. Pior, prega o aumento do poder do judiciário, justamente a arma que o imperialismo tem utilizado para tornar os regimes cada vez mais autoritários.
Como já escreveu este Diário, os golpes na América Latina e no mundo têm sido realizados principalmente pela via judicial. Além disso, o judiciário está impondo censuras cada vez mais terríveis na Europa. No Reino Unido, por exemplo, mais de 12 mil pessoas já foram presas por postagens na Internet.
Essas pessoas não estão sendo presas por apoiarem o fascismo, mas justamente por o combaterem, por apoiarem a resistência palestina contra o regime nazista israelense.
Na Alemanha, para “proteger a democracia”, o Estado está perseguindo até mesmo grupos de leitura marxistas.
Dar o direito ao Estado de “se proteger”, é dar todo o poder para a burguesia fazer o que estiver a seu alcance para impedir qualquer oposição. Ou seja, se os trabalhadores se rebelarem contra a burguesia e seu Estado, existem setores dentro da própria esquerda que estão do lado da burguesia. Uma vez que a “defesa” seria direito do Estado e se sobreporia à vontade, ou insurreição popular.
Como se pode ver, é uma completa falência que enfrenta setores da esquerda que, em nome da luta contra o autoritarismo, passam para o lado da democracia liberal, mais apropriadamente chamada de imperialismo.





